Dossiê sobre a Cracolândia expõe violência e tortura em ações policiais

Laio Rocha
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3 min readMay 13, 2017
Foto: A Craco Resiste

Documento contêm relatos e fotografias que revelam violações de direitos humanos em incursões da PM e da GCM em 2017

O Coletivo ‘A Craco Resiste’ divulgou neste sábado (13) o dossiê ‘Violência e Agressões na Cracolândia’, que denuncia a violência da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, de São Paulo, contra moradores de rua e usuários de crack, no território no centro da capital conhecido como Cracolândia.

O documento revela, a partir do relato dos ativistas do coletivo, seis ações da PM e da GCM, entre os meses de janeiro e maio deste ano, em que ocorreram violações de direitos humanos, com casos de tortura, repressão com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição letal. Além disso, traz casos de intimidação a ativistas e profissionais da saúde e assistência social, tanto de instituições públicas, quanto de ONGs e coletivos.

“Esse relatório vem como um alerta: As esferas de governo que mantém essa rotina de desrespeito, agressão e violência não são capazes de cuidar daquelas pessoas. Não aceitamos espancamentos e enjaulamentos como política pública!”, disse em nota o coletivo.

Cracolândia à beira de uma tragédia

A divulgação do material acontece em meio à promessa de uma ação ostensiva do governo estadual e municipal na região, prometida pelo secretário de segurança pública, Magino Alves. O governo diz que pretende acabar com a Cracolândia em duas operações, ainda sem data divulgada.

Na última quarta-feira (10) houve mais um episódio de violência no local, em que a Tropa de Choque e a GCM invadiram as ruas utilizando arma letal e bombas, a fim de dispersar a população do chamado “fluxo”. Segundo o órgão de segurança, a ação ocorreu em função de um roubo de celular. Ao menos quatro pessoas foram detidas e diversas ficaram feridas.

“As declarações do governador e prefeito de São Paulo mostram, no entanto, que a situação se aproxima das fracassadas operações policiais de 2012 e 2015, que só trouxeram dor e sofrimento para inúmeras pessoas. O tom de ódio e preconceito faz antever que a violência que se aproxima será ainda pior daquela vista nesses outros lamentáveis episódios”, comentou sobre a situação a nota do coletivo.

Vigília contra repressão

Nesta tarde, às 17h, na Praça Julio Prestes, próxima a Estação de mesmo nome do trem, o Coletivo A Craco Resiste faz mais uma vigília na Cracolândia. O evento vai contar com atividades culturais e tem o objetivo de manter a vigilância sobre qualquer ação policial que venha a acontecer no território.

Essa atividade não é isolada. Nascido no início de 2017 com o intuito de fiscalizar as ações da gestão do atual prefeito João Doria (PSDB) na Cracolândia. Organicamente o grupo se reuniu como resposta às propostas do mandatário durante a campanha eleitoral, em que afirmou ter intensão de “acabar” até o fim desse ano.

O resultado dos primeiros meses de vigílias, além de dezenas de atividades culturais gratuitas para a população de rua que mora na região, está contido no documento, que sistematiza as informações e episódios acompanhados neste período.

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