Morremos, Luana
Texto: Laio Rocha, Foto: Hugo Pereira
O silêncio das paredes ecoa a tua memória
A tinta vermelha escoa como teu sangue pela planície dura
Teus olhos fundos ainda são o farol da meia noite
Que erguem a tua lembrança nos que morreram com teu corpo
Muitos morreram com a tua pele, com o teu sexo, com a tua origem,
Ainda tantos outros irão sentir o gosto amargo da morte
Por serem tão fiéis a você simplesmente por nascerem com teu aspecto
O reino da utopia permite que a tua morte passe impune
Mas os muros que surdos e mudos gemem por justiça
São os principais advogados em defesa do teu olhar vivo e da tua fala prematuramente calada
Estamos te ouvindo, mesmo que tua voz seja mero enfeite de placa provisória
Porque ela está em todos os lados, matando a utopia nos becos e favelas
Porque ela mata você em cada trecho do caminho que um dia a de nos matar
Morremos, Luana.
*Luana foi agredida por 3 policias em São Paulo e morreu dias depois devido às lesões. Em sua ficha corrida só havia o fato de ser mulher, lésbica, pobre e negra.
O ensaio abaixo mostra às expressões e a estética do protesto feminista no acampamento do Festival da Utopia, realizado em Maricá/RJ, contra o genocídio da população negra e o feminicídio.