Como estimular criatividade e colaboração em tempos remotos

Dri Kimura
Laje.ac
Published in
6 min readApr 17, 2020

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A maioria das pessoas pensa que não é criativa porque esse é um dom que apenas alguns nascem com a sorte de ter. A verdade é que a criatividade acontece sempre que o repertório de alguém ou de um grupo encontra e reage a estímulos externos. Hoje, várias pessoas de diferentes setores e empresas estão expostas à necessidade de lidar com o mesmo problema, ou com desafios semelhantes.

É possível estimular a criatividade mesmo em tempos de isolamento social? A resposta: nunca foi tão oportuno pensar em formas diferentes de fazer as coisas — e agir.

No âmbito pessoal, algumas práticas podem ajudar a estimular e exercitar reações criativas, como a prática de atividades manuais não convencionais ou meditação, estimulando a busca por novas soluções, o fluxo e o estado de presença. Agora, quando falamos de criatividade nas organizações e dos desafios de estimular esses processos no contexto de trabalho remoto, é preciso pensar em ao menos duas direções:

  1. o papel da liderança na facilitação de processos criativos
  2. rituais e boas práticas para colaboração e criatividade à distância

Os principais desafios e o papel da liderança nos processos criativos à distância

Quando as configurações das formas de trabalho se transformam profundamente, a cultura organizacional é colocada à prova. A continuidade e a estrutura da empresa ficam ainda mais dependentes das pessoas. Estamos atravessando momentos de uma complexidade inédita e o desconhecido é indispensável à criatividade. Mas, apesar do contexto oportuno, são muito expressivos os desafios da liderança para a condução de processos em busca de soluções criativas.

- Dispersão física dos times

A falta de conhecimento da rotina do outro e da visibilidade dos processos no geral, mexe com as nossas necessidades de comunicação e alinhamento. É especialmente difícil coordenar sem exigir, a noção de tempo é diferente, porque a qualidade da atenção não é a mesma.

Para manter a abordagem criativa para solução de problemas, é preciso saber estimular o grupo com perguntas e convites bem direcionados, conhecer profundamente as forças, fraquezas e a diversidade de perfis do time. Entender um pouco sobre os processos de cada um cria espaços de segurança e facilita a compreensão estratégica das entregas. Somente a confiança pode substituir a necessidade de comando e controle, que já não é uma possibilidade.

- Falta de segurança psicológica e inteligência emocional

Quando deixamos de dar opiniões sobre o trabalho ou de tirar dúvidas por medo de sermos julgados ou punidos ao cometermos erros, isso nos paralisa e bloqueia nossa capacidade de aprender ou colaborar. A ausência de espaços de segurança psicológica prejudica a saúde emocional das pessoas e atrapalha a performance criativa do time.

Para estimular a criatividade, é indispensável construir ambientes seguros, de confiança e desmistificando o medo de errar. Sentir-se pressionado é diferente de sentir-se desafiado. A liderança deve cuidar de si para inspirar e poder ajudar os outros. A comunicação autêntica e a clareza de informações contribuem para a consolidação desses espaços de segurança e confiança.

- Reuniões improdutivas e falta de alinhamento

A reuniões virtuais passaram a ser a principal forma de nos comunicarmos como time. Apesar da necessidade inquestionável de manter os alinhamentos e encontros de trabalho, o distanciamento físico modificou a produtividade dessas conversas e nos leva a repensar o aproveitamento de nosso tempo dedicado.

Para fins de produção criativa, nunca foi tão importante a postura de facilitação dos encontros. A liderança deve reconhecer as boas ideias e controlar comportamentos tipicamente reativos, matadores de sugestões, sem perder o direcionamento do encontro. é importante ter materiais consolidados ao final de cada reunião virtual.

Quem cria junto cresce junto. Participar e estimular os processos criativos do time podem ser uma boa oportunidade de estreitar os laços com o time e construir relações mais autênticas.

Creative Challenge: um método para facilitar a colaboração com agilidade, assertividade e criatividade

Como parte da metodologia Ana Couto, o Creative Challenge é um encontro focado para que um grupo de pessoas trabalhe em hipóteses a partir de um desafio e evolua criativamente as ideias para marca, negócio e comunicação. Essa é uma prática que direciona e estimula os processos criativos do time, conduzindo movimentos de abertura e fechamento do pensamento, para alinhar as ideias à entrega estratégica de novas soluções.

- Diversidade cognitiva e feedback em tempo real

Concentrar um time de pessoas com abordagens diferentes para o desafio é o primeiro gatilho para estimular a criatividade. Com o brainstorm coletivo, a colaboração para resolver o problema proposto faz com que as ideias sejam melhoradas, combinadas e incrementadas entre as pessoas participantes do Creative Challenge. No primeiro momento, o que importa não é encontrar a melhor ideia, mas expor o maior número de possibilidades.

Neste método, tudo acontece em tempo real. Os feedbacks simultâneos à exposição e iteração das ideias faz com que os participantes aprendam mais sobre o que funciona e o que não funciona, entrando em contato com o racional e a abordagem dos demais e sentindo-se mais seguros para participarem do processo. É um contexto que potencializa o jeito de cada um trabalhar, uma oportunidade de mapear e aproveitar os perfis dentro do time, percebendo como cada um trabalha e evitando sabotar o pensamento do outro.

- Limitação de tempo e tema

É fundamental para o Creative Challenge ter um ponto de partida com referências, benchmark, clareza sobre o desafio e algumas hipóteses de como enfrentá-lo. Começar com caminhos propostos gera uma inércia positiva, como se o time pegasse no tranco. Chegar a alguns lugares hipotéticos nos aproxima das grandes ideias.

A limitação de tempo também nos coloca mais dispostos e focados, concentrados para usar bem a disponibilidade das pessoas envolvidas. Com a definição do tema, temos a segurança de nos mantermos abertos às ideias propostas sem desvirtuar o desafio.

- Produtividade e confiança

Reduzir os espaços de insegurança com feedbacks em tempo real e colaboração já ajuda a tornar os times mais produtivos. É difícil não poder validar ideias com o gestor o tempo todo, não saber o que é uma ideia promissora e o que é apenas um engano, quais rotas precisam ser ajustadas. Com o Creative Challenge, pensamentos originais são expostos e tudo que não é aprovado é melhorado.

Ao final de cada encontro, é importante sair com ideias consolidadas e encaminhadas para a produção das iniciativas. Para isso, uma pessoa fica responsável por registrar bons caminhos, selecionar sugestões promissoras.

- Condução dos processos de abertura e fechamento

Criativamente, vale muito não apenas o autoconhecimento do time sobre como funciona seu próprio processo, mas o quanto o líder está capacitado e disposto a facilitar os processos de abertura e fechamento do pensamento durante o Creative Challenge. A questão fundamental aqui é como extrair o melhor da diversidade do time a partir do brainstorm guiado.

É preciso pensar quem são as pessoas mais indicadas para compor o desafio, escutar ativamente todas as sugestões e ideias que surgirem e tomar o cuidado de trocar o “não porque” por “e se”.

Não existe fórmula fácil para a colaboração e o processo criativo focado em novas soluções, especialmente no contexto que estamos vivendo. Mas, vale compartilhar alguns dos aprendizados e amadurecimentos que tivemos como liderança e boas práticas que podem contribuir com a jornada criativa de cada pessoa ou empresa hoje comprometida, acima de tudo, com as conquistas que estamos fazendo enquanto humanidade.

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A gerente de projetos e especialista em cultura de inovação da LAJE, Carolina Vargas, e o sócio diretor de planejamento da Ana Couto, Igor Cardoso, conversaram sobre Como estimular criatividade e colaboração em tempos remotos. Assista ao vídeo completo.

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