por Rodrigo Bastos
HiPPO é um acrônimo para Highest Paid Person’s Opinion. Se você já trabalhou em grandes corporações, com certeza já viu um HiPPO e o efeito dele. Normalmente, acontece quando um grupo de pessoas precisa tomar uma decisão que, apesar da falta de números e dados, suscita opiniões diversas. Surge uma discussão acalorada que tenta explorar as várias alternativas, quando a pessoa que mais alto está sentada na pirâmide hierárquica (e, portanto, é mais bem paga) abre a boca.
Uma vez que ele tenha visto a luz do dia, o HiPPO exerce uma forte influência sobre o grupo. Nenhuma outra opinião vale tanto quanto. E até a busca por dados e experimentos que possam mostrar um caminho são descartadas em favor de um HiPPO.
Muitos executivos não reconhecem o efeito de suas opiniões, pois, muitas vezes, é algo bem sutil. Me lembro de um caso que presenciei como consultor em que uma diretora deu sua opinião sobre um evento, dizendo que seria bacana se ele durasse o final de semana inteiro. Depois de muito esforço e stress da equipe organizadora, a diretora perguntou por que o evento tinha durado dois dias, se dava trabalho e causava tanto. Uma simples opinião tinha sido interpretada como uma ordem.
O HiPPO causa uma série de problemas:
- Alternativas e inovações são jogadas fora prematuramente;
- A expertise de profissionais experientes são desconsideradas;
- A inteligência coletiva é desperdiçada;
- Prazos, metas e restrições são criados de maneira inconsciente e desastrosa;
- O conceito data-driven business é jogado fora em troca do “HiPPO-driven”.
Milhares de casos que mostram o impacto do HiPPO surgem nas áreas de desenvolvimento de produto, marketing, estratégia, design, engenharia etc. Basta procurar notícias de fracassos que você tem grande chance de encontrar um no meio da história.
Como domar o HiPPO
Se você é o dono do HiPPO, então a primeiro coisa é ganhar consciência. Depois, patrocinar ou protagonizar as mudanças estruturais e culturais que são necessárias para minimizar o seu HiPPO. Se você é só um reles participante, não se amedronte, sempre existe algum espaço para manobrar e hackear as entranhas do mundo corporativo. Seguem algumas estratégias para domar o HiPPO, listadas das mais simples até as mais complexas:
- Adote um processo em reuniões onde todas as alternativas e argumentos precisam estar registrados e as soluções são escritas e votadas de maneira anônima. Só depois o HiPPO é revelado e uma conversa aberta e iniciada;
- Proponha que alguém assuma o papel de advogado do diabo. Alguém com carta branca para questionar tudo e todos;
- Tenha um facilitador sempre presente. Essa pessoa obviamente não pode ter a HiPPO e precisa ser destemida para criar e propor processos que dão voz a todos e fazem uso de estratégias, como as citadas acima, de maneira recorrente;
- Estimule uma cultura organizacional pautada em dados e não em opiniões. Exemplo: se existe uma urgência que impede que você faça um teste A/B em uma landing page, faça dois testes; ;)
- Proponha e trabalhe com uma estrutura organizacional que consegue distribuir a autoridade de maneira explícita, sem concentrar poder no topo de maneira exagerada e sem depender de muitas decisões em grupo. Novos modelos de gestão que possibilitam isso tudo estão surgindo.
O desafio é grande, mas acho que você não precisa se sentir sozinho. Conheça o curso LiFT — Liderança Facilitadora e Transformadora*. Este programa tocará em temas como esse e te ajudará a assumir um papel importante na criação de um contexto organizacional, onde o HiPPO fica preso e o potencial criativo e inovação ganham asas.
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