PAPIIRO, Egito & Lambe-lambe

Nosso português é um pouco árabe.

Alberto Pereira
Lambes Brasil
Published in
4 min readNov 27, 2018

--

A chamada Papiiro nasceu da vontade de levar a cena do lambe brasileiro ao oriente médio e hackear mais um pouquinho as instituições e eventos de arte contemporânea, levando um pouco da essência da rua para estes espaços.

Estar na Bienal de Arte do Cairo e incluir dentro da programação oficial uma oficina de lambe-lambe para crianças e adultos em uma comunidade carente foi a melhor liga entre arte e rua que nos esforçamos para realizar.

Muitos egípcios que foram à oficina de lambe não conheciam Ezbet, local onde ocorreu. Ezbet Khairallah é um local esquecido pelo Cairo, que se tornou um enorme lixão. O governo e empresas tentam “pegar de volta” para possivelmente construir prédios e empresas — algo nada distante da realidade brasileira.

A comunidade é tão invisível que nem o Google vê (você não encontra no Google Maps). A oficina foi oferecida para 20 pessoas, num total de 10 vagas para os egípcios de fora da comunidade e as demais 10 para moradores, além da maior quantidade não prevista de crianças.

A parceria com a The Nomad Curator facilitou a articulação com a Bienal e a locação para que a oficina acontecesse. Ela ocorreu na Dawar Kitchen, uma espécie de intercâmbio-cultural-gastronômico e social. É uma casa de culinária sírio-egípcia em que cozinheiras refugiadas preparam pratos típicos (e deliciosos) e, dessa atividade, são remuneradas e remuneram para que o projeto permaneça e evolua.

A Dawar Kitchen faz parte da Dawar for Arts and Development, que promove concertos, exposições e atividades voltadas para grupos e pessoas impactados pela guerra.

Todos os participantes ficaram extremamente felizes com a atividade e as possibilidades. Todos sem exceção colaram pela primeira vez lambe-lambe. Embora exista lambe em forma de anúncio pela cidade inteira, não existe lambe de teor artístico.

Arte urbana é vista em pouquíssimos pontos do Cairo e, desde a Primavera Árabe (que desencadeou na revolução de 2011 no Egito) e do golpe consecutivo pós-revolução, intervir na rua se tornou uma tarefa muito difícil.

Existem trabalhos grandes de artistas consagrados, como o caso do artista francês-tunísio El Seed (foto). Alguns graffitis “antigos” de teor político-revolucionário próximos à Tahir, que foi a praça principal onde ocorreu a revolução egípcia.

E, de todos os lugares que transitei, via muitos stencils e graffitis comissionados do “Neymar” deles, o jogador-ídolo Mohamed Salah, da cantora Umm Kulthum, uma grande cantora popular do século 19. Mas nada nada de lambe-lambe. Pra não dizer nada, avistei apenas um próximo à praça.

E o que fica dessa experiência é ter plantado a semente e a chance de começar uma produção local por lá. E a oficina já surtiu efeito, porque já recebi mensagem que o primeiro lambe egípcio feito pós oficina já foi colado… e removido. Missão comprida… e cumprida.

Demais fotos disponíveis em: https://drive.google.com/drive/folders/1Yj7aQdzLo-jn1wZu2qY_RP6NE3e_5Jg5?usp=sharing

Grato à todos os participantes:

Adriane Palmira (Zebra Amarela), Afonso De Camargo, Ágatha Ursini, , Amanda Favali, Carla Barth, Danusia, Douglas Rocha, Emi Teixeira, Eraquario, Fabiano Gummo, Felipe Gonçalves, Gabriel Xavier Santos, Ge Mauricio, GF Gilmar Ferreira, Iwintolá, Jonathas Oliveira “Pretorei”, Karen Valentim KRN, Kéfren Pok, Laís Medeiros (Cygana), LAMENTO, Matias Blasco, Micaela Nunes (BERRA), Nicolas Figueiredo, GARDE, Silvana Mendes (Lambesgóia), Spdz, Thomas Azevedo, Tuane Eggers e Vendo-te

Alberto Pereira é artista visual, articulador e comunicador nascido no Rio de Janeiro e criado entre Niterói, Rio de Janeiro, Brasília e Angra dos Reis. Seu trabalho foi apresentado em exposições individuais, coletivas, festivais de arte digital, urbana, chamadas independentes e salões de arte contemporânea em países como Argentina, Brasil, Egito, França, Itália e Líbano.

--

--