tayná
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3 min readOct 20, 2016

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Minha vida sem mim

O que você faria se soubesse o dia da sua morte? E se ela fosse acontecer daqui a poucos meses? Sua vida continuaria igual ou você se apressaria para fazer tudo aquilo que sempre sonhou? A protagonista dessa história vai morrer em, no máximo, três meses e ao ter consciência do tempo restante da sua vida, começa uma jornada para descobrir aquilo de mais importante que ainda precisa fazer.

Antes de ouvir aquelas palavras angustiantes do médico “não há o que fazer”, Ann vivia seus dias no automático. Seu trailer, localizado no quintal da mãe, era tomado pela alegria das duas filhas, onde, pela manhã, tomava café com elas e o marido. A noite trabalhava no setor de limpeza de uma faculdade e ao sair, buscava a mãe no trabalho e ambas iam juntas para casa.

Essa era sua rotina aos 23 anos, parte de uma realidade que já existia há um tempo, quando teve a primeira filha com o primeiro homem que beijou. Desde então, mal tinha momentos para refletir sobre seus desejos, sonhos e vontades. A medida que os anos passaram, ela se acostumou a não pensar e a se dedicar integralmente aquela vida que provavelmente não foi uma escolha consciente.

“ Pensar. Você não está acostumada a pensar, quando todas essas coisas acontecem a todo tempo e você nunca tem tempo pra pensar. Talvez esteja tão sem prática que esqueceu como se pensa.”

Quando vamos acordar

Ann acordou quando ouviu que sua morte estava próxima, então pegou seu sketchbook e começou a escrever uma lista com suas necessidades. O curioso é que os itens afetariam — direta ou indiretamente — outras pessoas, mesmo depois de sua morte.

Todos nós, em maior e menor grau, nos identificamos com a forma que a protagonista age antes de ter consciência que vai morrer. A verdade é que todos irão morrer, mas raramente encaramos cada dia vivido como um dia a menos, ou seja, menos tempo para sentir os sabores doces, agridoces, amargos e tantos outros que só a existência proporciona.

Monja Coen explica sobre os quatro tipos de cavalos que podem ser comparados a seres humanos. O primeiro cavalo é aquele que com a sombra do chicote já dá o galope; no segundo, o chicote precisa encostar na pele para ele sair do lugar; no terceiro, o chicote necessita atingir a carne; e no quarto, o chicote alcança o osso e só assim ele se move.

O primeiro cavalo representa o ser humano que se dá conta da transitoriedade da existência através de evidências sutis, como mortes de pessoas desconhecidas num desastre natural de um país que fica do outro lado do mundo. Por outro lado, o quarto cavalo é o extremo oposto e pode ser comparado a Ann, a qual só percebeu essa temporariedade quando recebeu sua sentença de morte.

Acompanhamento - para pensar mais sobre, confira o vídeo: O que faz uma pessoa mudar?

minha vida sem mim
isabel coixet
106 minutos
eua, 2003
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tipo de lanche:
drama com pitadas de romance

sabor:
gostinho de vontade de viver

ingredientes:
reflexões sobre a vida, contém: morte.

outros lanches:
+ vontade de viver: o filme “as vantagens de ser invisível” (the perks of being a wallflower, 2012)
+ reflexões sobre a vida: o filme “antes do pôr do sol” (before sunset, 2004)
+ mortes metafóricas e reais: a história em quadrinhos “daytripper” (daytripper, 2011), de Fábio Moon e Gabriel Bá

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