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3 min readOct 6, 2016

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Um conto chinês

Um casal apaixonado está prestes a trocar alianças em um lago da China, ao serem surpreendidos por uma vaca caindo do céu. Através dessa situação improvável, mas real — uma história verídica — o filme começa.

Roberto é apresentado como um homem solitário e ranzinza, que tem sua vida rotineira e pacata modificada após o encontro com um chinês que é jogado para fora de um táxi. Em um primeiro momento, parece impossível haver alguma comunicação complexa entre o argentino e o estrangeiro, mas a medida que a trama se desenrola, percebemos que através de outras linguagens — os atos, os olhares, os gestos — esses dois homens, com aparentemente nada em comum, se aproximam. E a jornada dos dois juntos é traçada de uma maneira surpreendente.

Em um mundo cheio de perguntas sem respostas, o filme Um conto chinês traz um protagonista complexo e um chinês simpático, enquanto monta seu argumento diante de uma questão impossível: o acaso.

para ler escutando: have we met before

“A vida é uma grande falta de sentido, um absurdo.”

Nada é por acaso?

Um cachorro late incansavelmente, acordando a vizinhança. O vizinho do apartamento de cima, sai na sacada para tentar fazer o cachorro parar de latir e ao se apoiar no parapeito, escorrega e em queda livre alcança o chão após sete andares. Foi um acidente, mas é possível pensar em uma série de questões a partir disso.

Por que as pessoas morrem trivialmente? Por que justamente naquela noite o homem tentou fazer o cachorro se calar? Por que ele, justo ele, saiu na sacada? Se fosse outro em seu lugar, também escorregaria? Porque o cachorro estava latindo? A vida de quantas pessoas serão modificadas por esse acontecimento? E quanto ele mudará a trajetória da história do mundo?

No livro meu último suspiro, Luís Buñuel diz que o acaso é o grande senhor de todas as coisas. O diretor acredita piamente que nada é pré-determinado e absolutamente todos acontecimentos do universo são uma série inevitável de acasos.

A consequência desse pensamento é a inexistência de Deus, já que o acaso é a negação Dele. Se Deus existe, então o universo é organizado e possui uma lógica divina e, portanto, não é entregue ao acaso. Em síntese, a coexistência de Deus e acaso são paradoxais.

Um conto chinês segue a mesma lógica de Luís Buñuel, entretanto apresenta o outro lado, ou seja, demonstra, através dos acontecimentos, que existe um destino. As vidas dos protagonistas são construídas para um destino no qual ambos se encontram para se ajudarem e mudarem a vida um do outro.

E você, em qual lado tende a acreditar? Vivemos em um universo aleatório, em uma vida acidental ou somos guiados por um propósito supremo?

um conto chinês
Sebastián Borensztein
100 minutos
argentina, 2011.

tipo de lanche:
drama com pitadas de comédia.

sabor:
fica um gosto de contentamento na boca.

ingredientes:
reflexões sobre destino, acaso e mudanças na vida.

outros lanches:
+ destino: o filme “o fabuloso destino de amélie poulain” (le fabuleux destin d’amélie poulain, 2001)
+ acasos (ou não): o filme “amor ou consequência” (jeux d’enfants, 2003)
+ mudanças na vida: o livro “meu último suspiro” (mon dernier soupir), de Luis Buñuel.

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