Awakening from the nightmare: Biodiversity science in Brazil starts breathing again

Fernando Marques Quintela
Landscape, Society & Culture
18 min readJun 19, 2024

After four years of dismantling, the Brazilian government resumes financial support to research on biological diversity

Acordando do pesadelo: ciência da biodiversidade no Brasil começa a respirar novamente

Após quatro anos de desmantelamento, o governo brasileiro retoma o suporte financeiro à pesquisa em diversidade biológica

Chironius dracomaris, a new snake species described by Vinicius Sudré (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro) and colleagues from four other Brazilian public institutions. The study was published in January 2024. Chironius dracomaris, uma nova espécie de serpente descrita por Vinicius Sudré (Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro) e colegas de outras quatro instituições públicas brasileiras. O estudo foi publicado em janeiro de 2024 (https://doi.org/vz.74.e106238). Foto: Thabata C. dos Santos.

Brazil is the country with the highest biodiversity in the world, comprising 15–20% of the total known species. Numbers are quite impressive, considering the occurrence of more than 120,000 invertebrates, 9,000 vertebrates, and 40,000 plant species in the country. For example, when only freshwater fish are considered, more than 4,500 native species are found in Brazil, whereas a little more than 540 native species are recorded in the whole of Europe. The Brazilian territory has a continental dimension, encompassing a coast extension of 10,959 km, five biomes, and 53 ecoregions. Such large dimensions and the marked environmental heterogeneity, ranging from semiarid shrubby savannas to moist dense forests, make the country a place where new species are constantly found and described. An average of about 700 new animal species are annually described from Brazil.

O Brasil é o país com a maior diversidade no planeta, abrigando 15–20% do total de espécies atualmente conhecidas. Os números são um tanto impressivos, considerando-se a ocorrência de mais de 120.000 invertebrados, 9.000 vertebrados e 40.000 espécies de plantas no país. Como exemplo, considerando-se somente os peixes de água doce, mais de 4.500 espécies nativas são encontradas no Brasil, ao passo que cerca de pouco mais de 540 espécies são registradas em toda a Europa. O território brasileiro possui dimensões continentais, compreendendo 10.959 km de extensão costeira, cinco biomas e 53 ecoregiões. A grande dimensão do território e a marcante heterogeneidade ambiental, indo desde savanas arbustivas semiáridas a densas florestas úmidas, faz do país um local onde novas espécies são constantemente descobertas e descritas. Em média, cerca de 700 novas espécies animais são anualmente descritas para o Brasil.

Considering the position of Brazil at the top of the ranking of megadiverse countries, vigorous adoption and maintenance of measures of environmental protection and incentive to biodiversity research would be expected from Brazilian political actors. However, environmental policy and support for research about biological patrimony in the country suffered a drastic weakening in recent years. The volatilization of environmental management, policy, research, and legislation was intensified since the third to last presidency (President Michel Temer; 2016–2018) and strongly increased during the last presidency (President Jair Bolsonaro; 2019–2022), the last being well documented in scientific communication vehicles. Indeed, the ‘age of darkness’ for the research on Brazilian biodiversity was experienced during Bolsonaro’s presidency.

Considerando-se a posição do Brasil no topo do ranking dos países megadiversos, uma vigorosa adoção e manutenção de medidas de proteção ambiental e incentivo à pesquisa em biodiversidade seria esperada por parte dos atores politicos no país. No entanto, as políticas ambientais e o apoio à pesquisa sobre o patromônio biológico do país sofreram um drástico enfraquecimento em anos recentes. A volatilização da gestão ambiental, políticas públicas, pesquisa e legislação foi intensificada desde a penúltima presidência (president Michel Temer; 2016–2018), acentuando-se gravemente na última presidência (presidente Jair Bolsonaro; 2019–2022), sendo a última bem documentada em veículos de comunicação científica. De fato, a ‘idade das trevas’ para a pesquisa da biodiversidade brasileira foi vivenciada durante o governo de Bolsonaro.

A great part of scientific production on biodiversity in Brazil results from postgraduation programs (specialization, master’s, doctorate, and postdoctoral degrees). Currently, over 50 postgraduate programs concerning biodiversity are in operation in Brazil, accounting for more than a thousand researchers and students dedicated to studies on unicellular organisms, fungal, vegetal, and animal systematics and taxonomy. In addition to these, many other students and researchers are directly involved in biodiversity investigations through postgraduate programs in genetics, ecology, pharmacology, biotechnology, and other related areas. The maintenance of students/researchers in such programs is partially supported by fellowships given by two main Federal Brazilian agencies: the CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior in Portuguese; Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel) and the CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico in Portuguese; National Council for Scientific and Technological Development). Master’s and doctorate fellowships until February 2023 were respectively stipulated in BRL (Brazilian reais) 1,500 and 2,200, which is equivalent to about USD 301 and USD 443, respectively. Postdoctoral fellowships varied between BRL 4,100 and 4,400, equivalent to USD 826–887. The fellowships are granted for students/researchers personal expenses such as food, housing, clothing, and transportation, many of whom living far from their hometowns and lack financial support from their families. Master’s and doctorate fellowships were especially unworthy, considering the low values and the full-time dedication required to fulfill academic agendas and the development of high-level scientific research. Such fellowships are distributed by quotas which were directly passed on to postgraduation programs, the number of fellowships given to each program proportional to its level of performance in research and teaching (programs are evaluated for three-year periods by Sistema Nacional de Pós-Graduação [National System of Postgraduation] of CAPES). While fellowships are targeted for students’/researchers’ personal expenses, the governmental funds for research itself are distributed via evaluation and consideration of the merit of projects submitted to public calls with general or specific areas or themes (including biodiversity). Public calls are launched mainly by CNPq and the Fundações Estaduais para Amparo da Pesquisa (State Foundations for Research Support), the latter totalizing 24 institutions. Despite the satisfactory organizational structure for research development already established in Brazil, the science funding policy adopted in Jair Bolsonaro’s presidency (2019–2022) based on “strategic areas” exclusivity represented a throwback in biodiversity research in Brazil.

Grande parte do conhecimento produzido em biodiversidade no Brasil é resultante de programas de pós-graduação (níveis de especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado). Atualmente, mais de 50 programas de pós-graduação sobre biodiversidade estão em operação no Brasil, aspectos postgraduate programs concerning biodiversity are in operation in Brazil, somando mais de mil pesquisadores e estudadntes dedicados à sistemática e taxonomia de organismos unicelulares, fungos, vegetais e animais. Além desses, muitos outros estudantes e pesquisadores estão diretamente envolvidos em investigações de biodiversidade através de programas de pós-graduação em genética, ecologia, farmacologia, biotecnologia e outras áreas relacionadas. A permanência de alunos/estudantes em tais programas é parcialmente financiada por bolsas concedidas por duas principais agências federais brasileiras: a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As bolsas de mestrado e doutorado, até fevereiro de 2023, eram respecitivamente estipuladas em R$ 1.500 e R$ 2.200, o equivalente a cerca de USD 301 e USD 443, respectivamente. As bolsas de pós-doutorado variavam entre R$ 4.100 e R$ 4.400, equivalentes a USD 826–887. As bolsas são concedidas para despesas pessoais de estudantes/pesquisadores, o que inclui alimentação, moradia, vestuário e transporte, muitos desses vivendo longe de suas residências familiares e carentes de suporte financeiro por parte de suas famílias. As bolsas de mestrado e doutorado eram particularmente impróprias, considerando-se o baixo valor e a dedicação em tempo integral necessária para atender as exigências acadêmicas e o desenvolvimento de pesquisas de alto nível. As bolsas são distribuídas em cotas diretamente repassadas aos programas de pós-graduação, sendo o número de bolsas concedido a cada programa proporcional à sua performance em pesquisa e ensino (os programas são avaliados em períodos trienais pelo Sistema Nacional de Pós-Graduação da CAPES). Enquanto as bolsas são distribuídas para as despesas pessoais de estudantes/pesquisadores, os recursos para o desenvolvimento de pesquisas são distribuídos por meio de avaliação e mérito de projetos submetidos à chamadas públicas em áreas/temas gerais ou específicos (incluindo biodiversidade). As chamadas públicas são lançadas principalmente pelo CNPq e pelas Fundações Estaduais para Amparo da Pesquisa,essas totalizando 24 instituições. Apesar da estrutura organizacional satisfatória estabelecida no Brasil para o desenvolvimento de pesquisas, a política para financiamentos científicos adotada durante a presidência de Jair Bolsonaro (2019–2022) baseada em exclusividade de ‘áreas estratégicas’ representou um retrocesso na pesquisa em biodiversidade no Brasil.

The policy of ‘strategic areas’ applied to research has its roots back in 2006 (presidency of Luiz Inácio Lula da Silva), and it was associated with economic and technological programs known as Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas (Mobilizing Programs in Strategic Areas), inserted in the context of Política de Desenvolvimento Produtivo (Productive Development Policy). Such programs were established to highlight the segments that have a high impact on the economy and energetic efficiency, which include the following areas: Defense, Information and Telecommunication Technologies, Biotechnology, Nanotechnology, Health, Nuclear Energy, and Renewable Energy 9. The public investments in biodiversity research, however, were not interrupted during the period of establishment of ‘strategic areas’ programs (last year of Lula’s first presidency, 2006) and during the two following presidencies (Lula re-election, 2007–2011; Dilma Rousseff presidency, 2011–2016).

A política de ‘áreas estratégicas’ aplicadas à pesquisa tem suas raízes em 2006 (presidência de Luiz Inácio Lula da Silva), e esteve associada com programas econômicos e tecnológicos conhecidos como Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas, inseridos no contexto da Política de Desenvolvimento Produtivo. Tais programas foram estabelecidos para ressaltar segmentos de alto impacto na economia e eficiência energética, o que incluiu as seguintes áreas: Defesa, Tecnologias de Informação e Telecomunicações, Biotecnologia, Nanotecnologia, Saúde, Energia Nuclear e Energia Renovável. Os investimentos públicos em pesquisa em biodiversidade, no entanto, não foram interrompidos durante o período do estabelicemento dos programas de ‘áreas estratégicas’ (último ano do primeiro mandato de Lula, 2006) e durante as dois madatos seguintes (reeleição de Lula, 2007–2011; presidência de Dilma Rousseff, 2011–2016).

For a clear perception of the fluctuation of annual budgets, let’s take into account the government investments in CAPES — which were mostly applied to students/researchers’ fellowships — during the last decade (2013–2023). The budgets for the years 2013, 2014, and 2015 (Dilma Rousseff’s presidency) were BRL 5.30, 6.07, and 7.43 billion, respectively. The year 2016 was marked by the polemic impeachment process of Dilma Rousseff — seen by many legal and social sectors as a political coup orchestrated by parliamentarians and the then vice-president Michel Temer — who was deposed and substituted by her vice, Michel Temer, on 31 August 2016. In that year, the CAPES budget achieved BRL 5.90 billion. In the two following years, under Michel Temer’s government, a restriction to CAPES annual budgets was observed when BRL 4.95 and 3.84 billion were transferred for the institution in the years 2017 and 2018, respectively. The year 2019 arrived with Jair Bolsonaro’s victory in the presidential election. CAPES fund in 2019 achieved a small increase in relation to the previous year (BRL 4.19 billion), but in the next three years of Bolsonaro’s government (2020–2022), the budgets greatly dropped to annual amounts of BRL 3.54, 3.37, and 3.56 billion. The 2021 budget (BRL 3.37 billion) corresponded to only 45.3% of the 2015 budget (BRL 7.43 billion). Still, the distributional biases of those annual values should be considered, as they weighed heavily against the biodiversity sciences during Bolsonaro’s government. In addition, the annual inflation rates in Brazil varied between 3.8 and 10.7% during this period, which means that while living costs rose, students/researchers’ income fell.

Para uma clara percepção sobre as flutuações nos orçamentos anuais, vamos levar em consideração os investimentos públicos repassados à CAPES — que foram aplicados principalmente em bolsas de estudantes/pesquisadores — durante a última década (2013–2023). Os orçamentos para os anos 2013, 2014, and 2015 (mandato de Dilma Rousseff) foram respectivamente R$ 5,3, R$ 6,07 e R$ 7,43 bilhões. O ano de 2016 foi marcado pelo polêmico processo de impeachment de Dilma Rousseff — visto por muitos setores jurídicos e sociais como um golpe político orquestrado por parlamentares e o então vice-presidente Michel Temer — que foi deposta e substituída por seu vice Michel Temer, em 31 de agosto de 2016. Naquele ano, o orçamento da CAPES atingiu R$ 5,90 bilhões. Nos dois anos seguintes, sob o mandato de Michel Temer, uma restrição orçamentária à CAPES foi observada, quando foram transferidos para a instituição R$ 4,95 e R$ 3,84 bilhões nos anos 2017 e 2018, respectivamente. O ano de 2019 chegou com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. O fundo da CAPES obteve um pequeno acréscimo em relação (R$ 4,19 bilhões), mas nos três anos seguintes do governo Bolsonaro (2020–2022) os orçamentos despencaram para quantias de anuais R$ 3,54, R$ 3.37 e R$ 3.56 bilhões. O orçamento de 2021 (R$ 3,37 bilhões) correspondeu a apenas 45,3% do orçamento de 2015 (R$ 7,43 bilhões). Devem ser considerados ainda os viéses na distribuição desses valores, que pesaram massivamente contra as ciências de biodiversidade durante o governo Bolsonaro. No mais, os índices anuais de inflação no Brasil variaram entre 3,8 e 10,7% durante esse período, o que significa que enquanto o custo de vida subia, os ganhos de estudantes/pesquisadores decresciam.

The ‘real drama’ began in 2019, when Bolsonaro’s Ministry of Education announced budget cuts in higher education on three occasions, totalizing the freezing of more than 12,000 fellowships in all academic areas. These announcements led to generalized protests by research and education institutions, which mobilized thousands of people in hundreds of Brazilian cities. In view of the great repercussions of protests (including international press coverage), the Ministry of Education stepped back and secured the maintenance of the active fellowships at that time until their conclusions. During the years 2019 and 2020, the CNPq launched 30 public calls, with only two including biodiversity research. One of these was restricted to Brazilian marine islands and archipelagos and included the biodiversity amongst a vast series of other issues, including Petrology, Geochemistry, Meteorology, Climate Changes, History, and Archeology; the other concerned biodiversity and its relationships with ecosystem services, without specification about the geographic area or biome to be covered. Thus, this last can be considered the only call exclusively directed to biodiversity research, and remarkably, it awarded only five proponents. For State Foundations for Research Support, the situation was very similar. Associated with the derisive investments by CNPq and state foundations in biodiversity projects, students/researchers faced the drastic new regime of CAPES concession of fellowships. The transition from a quota system to a system of public calls for obtaining fellowships (from CAPES and CNPq) by the postgraduation programs was adopted during Bolsonaro’s presidency without any consultation to administrations of the public universities, and strongly biased to ‘strategic areas’. When analyzing the CAPES public calls from 2019–2020, the only call with some reference to biodiversity was the Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação na Amazônia Legal (Postgraduate Development Program in the Legal Amazon), and yet biodiversity was just one of many other topics, which included Engineering, Information, Communication Technology, and similar.

O ‘drama real’ começou em 2019, quando o ministro da Educação de Bolsonaro anunciou cortes orçamentários para o Ensino superior em três ocasiões, causando a interrupção do pagamento de mais de 12.000 bolsas em todas as áreas acadêmicas. Estes anúncios causaram protestos generalizados por parte de instituições de pesquisa e Ensino, mobilizando milhares de pessoas em centenas de cidades brasileiras. Em vista da grande repercussão dos protestos (incluindo a cobertura pela mídia internacional), o então ministro da Educação voltou atrás e garantiu a continuidade dos pagamentos das bolsas ativas até a data de suas conclusões. Durante o ano de 2019 e 2020, o CNPq lançou 30 chamadas públicas (editais), sendo apenas duas dessas diretamente voltadas para pesquisa em biodiversidade. Uma dessas foi restrita a ilhas e arquipélagos marinhos, onde a temática biodiversidade foi inserida juntamente com uma série de outras temáticas, incluindo Petrologia, Geoquímica, Meteorologia, Mudanças Climáticas, História e Arqueologia; a outra chamada foi direcionada à biodiversidade e suas relações com serviços ecossistêmicos, sem especificações sobre a área geográfica ou bioma a serem contemplados. Portanto, a última pode ser considerada como a única chamada direcionada exclusivamente para pesquisa em biodiversidade, e notavelmente, apenas cinco propostas foram comtempladas. Para as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, a situação foi muito similar. Associado aos irrisórios investimentos do CNPq e fundações estaduais em projetos de biodiversidade, estudantes/pesquisadores enfrentaram ainda o drástico novo regime de concessão de bolsas da CAPES. A transição do sistema de cotas para um sistema de chamadas públicas para a obtenção de bolsas (ambos CAPES e CNPq) pelos programas de pós-graduação foi adotado durante o governo de Bolsonaro sem qualquer consulta às administrações de universidades públicas, além de ser claramente enviesado para as ‘áreas estratégicas’. Quando analisadas as chamadas públicas da CAPES durante o período 2019–2020, a única com referência à biodiversidade foi o Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação na Amazônia Legal, e ainda assim o tópico biodiversidade foi apenas mais um entre tantos outros, tais como Engenharia, informação, Tecnologia da Informação e similares.

Brazilian researchers and students protesting against government cuts in biodiversity research that occurred in 2019. Pesquisadores e estudantes brasileiros protestando contra cortes governamentais em pesquisas de biodiversidade ocorridos em 2019. Photo: G. Martins

The Ordinance nº 1.122 of March 19, 2020, published by the Brazilian Ministry of Science, Technology, Innovations, and Communications (MCTI), established the priority areas for the ordering of financial support for research projects in the 2020–2023 period. This document determined the following areas and topics as priorities: Strategic Technologies, Enabling Technologies, Production Technologies, Technologies for Sustainable Development, and Technologies for Quality of Life. Thus, the government of the country with the greatest biological richness in the world incredibly had no intention of applying resources to biodiversity research during Bolsonaro’s presidency, which strongly hampered new discoveries. Moreover, it is also worthy to briefly cite some Brazilian government actions incongruous with “environmental protection,” a topic included in the area “Technologies for Sustainable Development” of Bolsonaro’s government: severe weakening of Brazilian environmental inspection agencies, creation of a provisional measure for the reversal of credit of environmental fines to private entities, the amnesty attempt for illegal loggers in the Amazon and Atlantic Forest, recategorization of conservation units, and other atrocities.

O Decreto nº 1.122 de 19 de março de 2020, publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) do governo Bolsonaro, estabeleceu áreas prioritárias para a liberação de apoio financeiro para projetos de pesquisa no período 2020–2023. Este documento determinou as seguintes áreas e tópicos como prioritárias: Tecnologias Estratégicas, Tecnologias Facilitadoras, Tecnologias de Produção, tecnologias para Desenvolvimento Sustentável e Tecnologias para Qualidade de Vida. Portanto, o governo do país com a maior riqueza biológica no mundo, incrivelmente não teve intenções para aplicar recursos em pesquisa de biodiversidade durante a pressidência de Bolsonaro, o que dificultou em muito a realização de novas descobertas. Ainda, cabe resssaltar brevemente algumas alguams ações incongruentes com a “proteção ambiental”, um tópico incluído na área “Tecnologias para Desenvolvimento Sustentável: enfraquecimento das agências de fiscalização ambiental, criação de medida provisória para reversão de crédito de multas ambientais para entidades privadas, tentativa de anistia para madereiros ilegais na Amazônia e Floresta Atlântica, recategorização de unidades de conservação, entre outras atrocidades.

The last year of Bolsonaro’s government — 2022 — was especially cloudy. Nothing more than five announcements of cuts to budgets to federal universities and institutes caused profound astonishment in Brazilian students/researchers of biodiversity sciences. These catastrophic measures affected the functionality of public institutions, which faced problems related to costs for water and energy supply, security, assistance to students (e.g. food), and obviously, the payment of fellowships. Just try to imagine the psychological condition of postgraduate students with ongoing research at that time, and who were unsure about finalizing their commitments.

O último ano do governo de Jair Bolsonaro — 2022 — foi especialmente nebuloso. Nada menos do que cinco anúncios de corte de orçamento às universidades e instituros federais causaram profundo assombro aos estudantes aos estudantes/pesquisadores das ciencias da biodiversidae. Essas medidas catastróficas afetaram a funcionalidade das instituições públicas, que enfrentaram problemas relacionados ao custos para fornecimento de água e energia, segurança, assistencia estudantil (p. ex alimentação), e obviamente, o pagamento de bolsas. Apenas tente imaginar a condição psicológica de estudantes de pós-graduação com pesquisas em andamento naquele período, e que não tinham certeza quanto ao cumprimento dec seus compromissos.

So, what are the consequences of such a negligible policy? First, the lack of investment in projects directly affects the local production of biodiversity knowledge, considering that the process of discovery of new species is considerably expensive in view of costs with field expeditions, genetic sequencing, visits to collections in several institutions (many of them located abroad), specimens shipping, obtaining of high-resolution images (electron microscopy), publication fees, and others. Brazilian researchers still have additional expenses with linguistic revision, considering that prestigious scientific periodicals publish articles only in irreproachable English language. Second, the insufficient number and the excessively low value of the fellowships hinder the maintenance of many students/researchers in postgraduate programs since they will no longer be able to afford their personal expenses. Such a situation resulted in students/researchers’ withdrawals and a decrease in demand for postgraduation courses in biodiversity, which may lead to the weakening and even closing of many programs. Finally, the Brazilian government’s disregard for research in biodiversity implies a loss of human health and well-being. Many studies have demonstrated the pharmacological potential of plant and fungi extracts and animal secretions/toxins from species of Brazilian biota. Hence, each discovery of new plant or animal species may also lead to the discovery of new potential sources for candidate drugs and therapies. Many species have also a crucial role in providing ecosystem services. Clear examples are the frugivorous mammals — many species of bats, rodents, hypo/mesocarnivorans, and ungulates — which greatly contribute to the regeneration and maintenance of native vegetation, ensuring functions as atmospheric carbon storage, climate regulation, protection of water courses against marginal erosion and silting, and many others.

Portanto, quais as consequências de tão negligenciável política? Primeiramente, a falta de investimento nos projetos afeta diretamente a produção local sobre o conheciemento da biodiversidade, considerando-se que o processo de descobrimento de novas espécies é consideravelmente custoso, em vista dos gastos com expediçõs, sequenciamentos genéticos, visitas a coleções em diversas instituições (muitas dessas localizadas for a do país), taxas de publicação, e outros. Pesquisadores brasileiros ainda têm que custos adicionais relacionados à revisões linguísticas, considerando-se que periódicos científicos prestigiados publicam artigos somente em impecável linguagem inglesa. Segundo, o número insuficiente e o baixo valor das bolsas dificultam a a permanência de muitos estudantes/pesquisadores nos programas de pós-graduação, uma vez que essses tornam-se incapazes de lidar com suas despesas pessoais. Tal situação resultou em desistências (evasões) por parte dos estudantes/pesquisadores e uma diminuição na demanda por cursos de pós-graduação em biodiversidade, o que levou ao enfraquecimento e mesmo ao fechamento de muitos programas. Finalmente, o desprezo do governo Bolsonaro pela pesquisa em biodiversidade implica em perdas para a saúde e o bem-estar humano. Muitos estudos têm demonstrado o potencial farmacológico de extratos de plantas e fungos e secreções/toxicinas animais a partir dec espécies da biota brasileira. Portanto, a descoberta de cada nova espécie pode levar à descoberta de novas fontes potenciais para medicamentos e terapiais. Muitas espécies possuem ainda papel crucial para a provisão de serviços ecossistêmicos. Um exemplo claro são os mamíferos frugívoros — muitas espécies de morcegos, roedores, hipo/mesocarnívoros e ungulados — que contribuem significativamente para a regenaração e manutenção da vegetação, garantindo funções como estocagem de carbono atmosférico, regulação climática, proteção de cursos d’água contra erosão marginal e assoreamento, e muitos outros.

During Bolsonaro’s government, Brazilian researchers faced a period that could be considered a ‘biodiversity science crisis’. Consequently, great young talents and eminent researchers had left Brazil and joined biodiversity programs abroad. For those who stayed in Brazilian institutions, the lack of government support led to the search for international financial support. For those lucky enough to get this support, that condition represented a short-term solution in view of the “international collaborative character” of biodiversity research and the existence of already established partnerships between researchers and institutions from Brazil and abroad. The vast majority, on the other hand, was forced to deal with the ghosts of uncertainties and frustrations.

Durante o governo Bolsonaro, os pesquisadores brasileiros enfrentaram um período que poderia ser considerado como uma ‘crise nas ciências de biodiversidade’. Consequentemente, muito jovens talentos e eminentes pesquisadores deixaram o Brasil e se ligaram a programas de biodiversidade no exterior. Para aqueles que permaneceram nas instituiçoes brasileiras, a falta de apoio do governo levol à busca por apoio financeiro internacional. Para aqueles que com sortem conseguiram esse apoio, tal condição representou uma solução de curto prazo, em vista do ‘caráter internacional colaborativo’ da pesquisa em biodiversidade e da existência de parceria pré-estabelecidas entre pesquisadores e instituições do Brasil e exterior. A vasta maioria, por outro lado, foi forçada a enfrentar os fantasmas das incertezas e frustações.

Time passed in fits and starts, and Bolsonaro’s government ceased in 2022. The year 2023 arrived with a promise of hope when Lula resumed the presidency. The event was fervently celebrated by the majority of students/researchers in Brazil, in view of the friendly relationships between investments in science and previous governments conducted by the political party to which Lula associates himself. The first year of Lula’s presidency was marked by a substantial increment in CAPES budget (from BRL 3.56 billion in 2022 to BRL 5.04 billion in 2023), which included a readjustment of 40% for master’s and doctorate fellowships and 25% for postdoctoral fellowships. Even more important, a recomposition in the number of fellowships offered was implemented10. Moreover, financial aid to low-income students was resumed, and public calls for financing projects in the areas of biodiversity were reopened. For 2024, a budget of BRL 5.17 billion was established for CAPES.

O tempo passou aos trancos e barrancos, e o governo Bolsonaro cessou em 2022. O ano de 2023 chegou com uma promessa de esperança quando Lula reassumiu a presidência. O evento foi fervorosamente comemorado pela grande maioria dos estudantes/pesquisadores no Brasil, em vista das amigáveis relações entre os investimentos em ciência e os governos anteriores conduzidos pelo partido político ao qual Lula associa-se. O primeiro ano do governo de Lula foi marcado por um substancial incremento no orçamento da CAPES (passando de R$ 3,56 bilhões em 2022 para R$ 5,04 bilhões em 2023), o que incluiu um reajuste de 40% para as bolsas de mestrado e doutorado e 25% para as bolsas de pós-doutorado. Ainda mais importante, a recomposição no número de bolsas oferecidas foi implementada. Ainda, o auxílio financeiro aos estudante de baixa renda foi reassumido e chamadas públicas para o financiamento de projetos na área de biodiversidade foram reabertos. Para 2024, um orçamento de R$ 5,17 bilhões foi estabelecido para a CAPES.

After the gloomy period of Bolsonaro’s government, the biodiversity science in Brazil starts breathing again. When walking through the corridors of the biological departments of public universities, it is noticeable once again the smiles on the faces of students and researchers. Expeditions are being conducted in all biomes of the country, producing material for the description of new species. In laboratories, the atmosphere is one of commitment and aspiration for new discoveries. Money spent on science is not a cost, it is an investment. And, in the case of biodiversity science, it’s an investment in one of the greatest patrimonies held by a country: life.

Após o tenebroso período do governo Bolsonaro, a ciência da biodiversidade no Brasil começa a respirar novamente. Quando se caminha pelos corredores dos departamentos de Biologia das universidades públicas, é notável o sorriso de volta aos rostos de estudantes e pesquisadores. Expedições estão sendo conduzidas em todos os biomas do país, produzindo material para a descrição de novas espécies. Noa laboratórios, a atmosfera é de comprometimento e aspirações por novas descobertas. O dinheiro destinado à ciência não é um custo, é um investimento. E, no caso da ciência da biodiversidade, é um investimento em um dos maiores patrimônios de um país: a vida.

The recently described treefrog Aplatodiscus aulophonus from Mantiqueira Mountain Range, southeastern Brazil, resultant from the work of Pedro Marinho (Universidade de São Paulo) and collaborators from universities of Minas Gerais state, Argentina, and the United Arab Emirates. The paper was published in March 2024. A recentemente descrita perereca Aplatodiscus aulophonus procedente da Serra da Mantiqueira, sudeste do Brasil, resultante do trabalho de Pedro Marinho (Universidade de São Paulo) e colaboradores de universidades do estado de Minas Gerais, Argentina e Emirados Árabes Unidos. O artigo foi publicado em março de 2024. (https://doi.org/10.1655/Herpetologica-D-23-00008). Photo: Thiago R. de Carvalho.

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Fernando Marques Quintela
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Zoologist, ecologist, conservationist, photographer, and passionate writer. Instagram: @fernandotaxamundi