Frida e Eu
Paula Tainar
Eu já conhecia a Frida e o trabalho dela e embora a admirasse intelectualmente, nunca tinha pensado sobre ela ser bonita ou não. Em determinado momento de transição na minha vida, aconteceu uma festa a fantasia na casa de uns amigos e sugeriram que eu fosse de Frida, porque me achavam parecida com ela. Foi consenso geral que a fantasia ficou incrível e eu concordei, mas não fiquei muito satisfeita com a comparação.
Questionei-me por isso e percebi de maneira clara que era preciso me autoconhecer e desconstruir algumas coisas. Esse acontecimento foi o estopim, juntamente com outras questões, que me levaram a questionar os padrões impostos às mulheres na sociedade. É realmente difícil e necessário sair da teoria — ela é uma zona de conforto.
Eu tinha muita leitura e nada de prática, por isso achei necessário recuperar o meu corpo e renascer, já que o foco no pensamento era extremo. Me dediquei a outras atividades como a dança, arte marcial e bicicleta. Simultaneamente eu mergulhei na filosofia e disciplina de Yoga e comecei a pensar o autoconhecimento de maneira mais profunda.
De acordo com alguns autores que me inspiram, é necessário estar em movimento para Criar. O processo de busca pela liberdade, permitindo emergir a diferença é altamente dificultoso, e pra isso é fundamental estar em movimento. Quando alcançamos essa união e equilíbrio entre corpo e mente, tudo que realizamos se torna artístico. E eu penso a beleza seguindo essa mesma influência: ‘com quanta intensidade e verdade você permite que seu ser se manifeste?’
Concordando que a beleza está na diferença e não na repetição, comecei a explorar mais o que é só meu — minhas diferenças -, sem medo de ser verdadeira e plena em todas as coisas, sem medo de julgamentos.
Hoje, baseada nas minhas experiências, eu vejo o feminismo como um processo necessário de luta e resistência constante. Primeiro foi preciso conquistar Igualdade (intelectual, política, econômica, social) que historicamente muitas mulheres lutaram para conseguir e hoje colhemos esses frutos. Mas ainda não é suficiente! A busca pela Liberdade (das nossas escolhas, do nosso corpo, das nossas ações, do nosso eu), ainda se faz necessária e urgente. Simone de Beauvoir alertou que, nós mulheres, deveríamos nos manter constantemente vigilantes, em qualquer crise os direitos das mulheres seriam os primeiros a serem questionados. É preciso muita resistência, muita coragem, para ser mulher em qualquer sociedade, seja ocidental ou oriental.
A propaganda é implacável, ela quer que abandonemos o que é de mais caro: o nosso Eu, para abraçar e desejar uma vida rasa e superficial, nos transformando em consumidores. É mais fácil controlar o que é morto, por isso na história a representação da mulher perfeita é sempre estática, impecável, repousando. Essa influência é lesiva se adotada para a vida. Aquela clássica ideia de que é ‘preciso se mover para perceber as correntes que nos aprisiona’ é verdadeira. É um ato de resistência romper com esses padrões e não ser escravo do que a sociedade patriarcal nos impõe.
Só depois de ter consciência de si e permitir o resgate da singularidade é que alcançamos o real objetivo da existência: Fazer da vida uma obra de arte!
E Frida Kahlo é um exemplo lindo disso.