Encontrando sua voz e criando arte para abrir caminho aos outros enquanto é líder de TI e empresária

Thaisa Fernandes
Latinx no Poder
Published in
13 min readJan 29, 2021

Baseado no episódio com Diana Mucci 🇵🇷

Bem-vindx ao Latinx in Power, um blog e podcast que compartilha histórias de líderes latinxs incríveis ao redor do mundo, apresentado por Thaisa Fernandes. Nós falamos com Diana Mucci, uma autora afro-latina, dramaturga, poeta e produtora. Uma ex-professora de inglês, executiva de vendas de TI e empreendedora no ramo da moda.

Diana performou como atriz e escreveu, publicou e produziu contos, livros infantis, filmes indies e peças completas. Diana também é Diretora de Serviços de Segurança com 20 anos de experiência na área de Software de TI e Vendas de Cibersegurança. Ela também está atualmente terminando seu livro de memórias “Growing up with Big Hair”.

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Eu adoraria saber mais sobre como sua história começou.

É meio que aí onde as melhores histórias começam, pelo início. Eu fui criada na parte sul de Chicago por pais imigrantes. Meu pai é do Haiti e minha mãe é de Porto Rico. Quando eles vieram para este país, nenhum deles falava inglês, então eles tiveram que trabalhar muito para conquistar algo, já que o inglês, como uma segunda língua, era difícil para eles, mas eles conseguiram.

Apenas como exemplo, eles instigaram em mim uma grande ética de trabalho e desejo de conquistar coisas grandes, mas eles não conseguiam pagar minha faculdade. Então, depois do ensino médio, eu consegui um trabalho em tempo integral. Depois de três anos nessa empresa, eu perdi uma promoção, que foi para uma mulher que tinha um diploma de faculdade, o que era um pouco deprimente na época. Eu achava, naquela época, que se eu fosse prosperar, eu deveria ter que ir para a faculdade.

Naquela época, eu estava casada, era muito jovem, 20 e poucos anos. Eu tinha uma filha de um ano de idade e outra a caminho, mas eu me matriculei para ser uma estudante universitária. Larguei o meu emprego, consegui empréstimos estudantis e alguns subsídios, o que era uma benção. Eu consegui uma graduação em Inglês, na área de educação. No meu último ano, eu tive meu terceiro bebê e também uma ótima oportunidade para trabalhar em uma empresa de tecnologia, uma empresa de desenvolvimento tecnológico e foi assim que eu aterrissei na tecnologia.

Ao longo dos anos, eu subi na minha carreira de vendas de TI, mas nesse período eu tirei um tempo, e foi quando eu consegui focar em lecionar e escrever. Eu também trabalhei nos meus projetos de teatro e de cinema. Eu até comecei alguns negócios no caminho; o mais recente foi na área de arte e entretenimento, o que combina com meu trabalho de produção cinematográfica e teatral para diversos artistas independentes. Meu marido também abriu uma boutique italiana e infelizmente nós tivemos que fechá-la por conta da COVID.

Eu tenho que compartilhar isso, porque minha história toda é muito diversa, tem altos e baixos. Como essa mulher faz o que ela faz? Como ela é capaz de fazer vendas de TI e depois abrir uma boutique italiana? Eu quero dizer, isso nem parece real, mas essa sou eu, essa é a ambição que eu tenho e é o que eu falei no começo, porque meus pais instigaram isso em mim, a sempre conquistar grandes coisas, tentar fazer cada vez melhor e melhor.

Quando a COVID nos atingiu, o mundo todo estava de ponta cabeça. Eu disse, “okay, agora não vai acontecer essa boutique. Mas, sabe, eu ainda tenho minha escrita, o que eu posso fazer para provocar a diferença, enquanto as pessoas estão sofrendo e lutando?”. Eu lembro que eu havia escrito esse livro infantil de contos para ninar, há seis anos, e eu pensei que talvez fosse uma boa hora para publicá-lo. É hora de tirar a poeira, eu comecei a lançar ele oficialmente e então enviei para a editora para fazer isso acontecer.

O que significa ser latina para você:

É como a base de quem eu sou. Quando eu ouço a palavra “latina”, o que imediatamente vem à minha mente é uma mulher forte, alguém que ama ousadamente, alguém que tem orgulho de sua família, sua herança, sua mãe, sua língua, sua comida. Eu sou uma grande fã de comida latina de cada país na América Latina, e da música latina. Eu acho que tudo isso vive dentro de nós.

Diana acabou de publicar sua série de contos de ninar para crianças e está terminando seu livro de memórias. Nos conte mais sobre seus livros.

Desde o momento que eu aprendi a ler, amava livros e era muito nova quando comecei a ler. Quando eu tinha nove anos de idade, eu sabia que eu queria ser uma escritora. Quando eu tive meus filhos, realmente gostava de ler os clássicos para eles na hora de dormir. Nós tínhamos um ritual de hora de dormir pelo qual eu ansiava provavelmente mais do que eles. Eu sempre tentava fazer disso uma experiência, não um episódio.

Eu decidi que eu escreveria sobre isso há 27 anos, minhas crianças hoje estão crescidas. Naquela época, eu enviei o livro para algumas editoras e agentes e fui rejeitada, e isso foi desencorajador para mim. Então, eu pensei, “eu realmente tenho tempo para enviar isso para milhares de editoras?”. Eu deixei isso de lado e continuei com minha carreira e minhas outras escritas. Eu nunca parei de escrever. Seis anos atrás, eu disse, “sabe, eu preciso fazer isso, está em mim, eu vou voltar a escrever isso”. Eu reescrevi essas histórias, há seis anos. Eu apenas falei, “vou fazer uma série de ninar sobre uma linda experiência da hora de ir para a cama”. Eu encontrei, com sorte, uma ilustradora brilhante e uma designer gráfica para me ajudar a concretizar. Eu segui adiante e me publiquei. É chamado The Snugawinks of Cuddleton Falls, eu criei meu segundo livro Off to Dreamland with the Snugawinks.

E o livro de memórias é uma história da minha vida, eu chamo de Growing Up with a Big Hair, porque eu tinha um cabelo bem longo enquanto crescia. É uma história sobre uma afro-latina, se mudar para um bairro branco, confrontar o racismo e como ela encontra seu lugar verdadeiro nesse mundo. Meu último objetivo, quando eu escrevo histórias, é visualizá-las. Eu sou uma pessoa visual, eu amo arte performática, e eu visualizo elas quando eu escrevo. Eu amo vê-las, seja no palco ou performada de alguma forma no cinema e televisão.

Minhas crianças me inspiraram a escrever The Snugawinks of Cuddleton Falls, e agora eu estou escrevendo um livro de memórias. Eu escrevi uma peça sobre minha vida, e toda a inspiração que eu tenho vem das minhas experiências da vida real e minhas verdades. É como se minha vida fosse um filme passando, e eu guardo esses eventos no meu banco de memórias. Quando é hora, eu meio que puxo essas memórias e apenas escrevo sobre elas.

Você desperta atenção à injustiça racial por meio de suas histórias. Onde você encontrou sua voz?

Leva anos para que as pessoas encontrem sua voz — e, para mim, isso não foi fácil. Quando eu era criança, sempre me disseram para eu não falar até que conversassem comigo; eu não sei se isso era da minha cultura familiar ou da geração. Se você tem algo a dizer, diga a si mesma, vá ao seu quarto, e fale sobre isso com você mesma.

Talvez seja por isso que eu amo escrever, eu percebi que através da escrita eu posso dizer o que eu quero dizer e ninguém vai me parar. Eu estou apenas escrevendo o que estou sentindo e colocando isso no papel, mas não foi assim até meados dos meus 30 anos, quando eu escrevi e produzi minha primeira peça, que eu realmente me senti mais confiante para dizer em voz alta o que eu verdadeiramente queria dizer. Isso foi por meio do suporte do teatro.

No palco, em frente a uma plateia, eu fui capaz de contar minha história e, ao longo dos anos, para mim tem sido uma jornada difícil me manifestar — e eu acho que mais agora do que nunca, é super importante fazer isso. Em prol daqueles que não podem se manifestar, eu estou aprendendo a dizer em voz alta. É para as pessoas que não podem falar também. Isso te ajuda a contar sua história e isso me ajuda a contar a minha. Você não sabe quantas pessoas você pode inspirar e mudar usando sua voz.

Como foi sua experiência quando você filmou sua primeira peça completa, Bloom, em 2005? Ela estreou no Chicago Latino Film Festival.

Eu produzi a minha primeira peça, I’m a Female Seeking a Male, que é uma comédia baseada na minha vida — na verdade, meu casamento. Na época, eu estava tentando entender e navegar pelo meu casamento, porque estava meio que desmoronando. Minha irmã também, sua vida estava desmoronando, e ela também estava com o coração partido. Essa foi a minha primeira peça. Foi baseada em uma história real e nas minhas entrevistas com homens solteiros. Essa experiência foi maravilhosa, foi uma honra e um privilégio ver a minha história e todos os personagens tomarem vida por meio da colaboração desses artistas brilhantes, o diretor, os atores e atrizes, equipe técnica, o gerente da temporada, gerente de produção, e depois a plateia.

Quando você está fazendo teatro ou performances artísticas ao vivo, a audiência tem um grande papel artístico. Foi fenomenal ver a colaboração. É muito diferente de escrever, porque como uma escritora, eu me sento, escrevo sozinha — e escrevo um livro, um roteiro, um conto, o que for. É um processo solitário. Quando você está produzindo seu trabalho ou o trabalho de alguém, é muito divertido, porque é realmente onde você está trabalhando de fato para criar arte colaborativamente com outros artistas, e eu acho que é mágico.

Eu tive a mesma experiência com a produção de Bloom, que foi escrita por uma amiga minha, outra companheira latina. Ela estava escrevendo isso baseado na história de sua irmã também. É sobre como sua irmã estava lutando, como uma latina, e um ciclo de decisões ruins. Nós filmamos em Chicago e nos divertimos muito. Eu não ligava se estivesse de pé às quatro da manhã filmando, foi uma experiência muito divertida.

O fato de que Bloom estreou no festival de cinema Chicago Latino, em 2005, foi realmente apenas uma validação, nós ficamos tipo, “uau, nós somos de fato contadores de histórias latinos”. Nós não chamávamos de latinx, mas contadores de histórias latinos, naquela época. Foi uma experiência muito, muito fenomenal. Eu nunca vou esquecer que ele estreou em um lugar muito especial e que eu fui a co-produtora do filme.

Me fale sobre a primeira coisa que vem à sua mente quando você ouve essas frases:

Um superpoder

Teletransporte, será maravilhoso ser capaz de ir para o próximo lugar sem ter que entrar em um avião. Eu meio que estou sentido que quero ir para a Itália agora, nesse exato segundo.

Um sonho

Eu sinto que eu estou vivendo meu sonho.

Palm Springs

Festival de cinema. Foi onde o filme Bloom estreou, no festival de Palm Springs.

Uma curiosidade

A lua. Como será que é estar na lua? Aterrissar nela? Olhar para ela? Senti-la?

Eu vi sua declaração artística, na qual você disse que é atraída pela vida, uma vida real com seres humanos reais, e você sempre tenta encontrar humor nela. Eu acho que isso é corajoso e bem difícil também.

Minha verdadeira inspiração para contar histórias vem das minhas próprias experiências de vida, onde eu posso falar de um lugar de fala real e autêntico. Por alguma razão, eu tenho muita dificuldade em criar um personagem completamente fictício do nada, da minha imaginação. Tenho dificuldade em fazer com que pareça honesto e vulnerável. Meu filho é um escritor, ele escreve fantasia e cria não apenas os personagens, mas a comunidade, uma cidade e um universo inteiro de sua imaginação. Eu realmente admiro esse tipo de escrita. Eu ambiciono um dia ser capaz de fazer isso.

Hoje, eu recorro a minha própria vida e eu amo rir, eu estou sempre rindo. Eu não tenho problema em rir de mim. Sempre tento encontrar um pequeno alívio cômico, mesmo que nas situações mais difíceis. Eu acho que é uma reflexão real de nossas vidas reais, como em um minuto você está tendo um colapso emocional, você pode estar chorando sobre algo que é realmente triste para você, ou algo que você pode não funcionar, qualquer exemplo de algo que te deixa triste; no próximo minuto, você está rindo, eu nem sei se é o que alguém disse, ou você está apenas tão emocionalmente focada em si mesma, que do nada começa a rir, e isso acontece comigo, quando algo apenas quebra esse ciclo. Como humanos, podemos fazer isso.

Eu realmente acho e acredito que rir é um presente de Deus para nos ajudar a passar pelos maiores sofrimentos da vida e isso é o que eu uso na minha escrita para quebrar o drama e a tristeza ou algum momento dolorido. Vamos respirar. Vamos rir sobre algo. Eu penso se isso é porque minha família, quando nos reunimos, é como se fosse uma piada sem parar. Alguém sempre está em cima do outro fazendo uma piada. Meu pai é realmente hilário, ele é um contador de histórias e eu puxei isso dele. Quando ele fala, é sempre super engraçado. Quando nós éramos crianças, as pessoas costumavam dizer, “como você vive com esse cara engraçado?”. Eu respondia, tipo, “ele não é tão engraçado”. Ele tinha uma mão robusta, mas quando crescemos, nós apenas percebemos que o senso de humor se reduz às coisas mais simples, ou pode ser apenas uma expressão facial.

Eu realmente acho que talvez seja cultural, de nossa herança latinx, eu apenas curto nossa família. Nós também temos um Natal “Muccie”, quando nossa família toda se reúne, e é apenas como se fosse um festival de risadas, não obstante. Eu sou muito abençoada com a risada, então isso é importante.

Quais são seus momentos favoritos de atuação até então?

Eu diria que eu tenho atuado minha vida toda, desde criança mais ou menos, mas atuava em comerciais. Eu também estive no filme indie Bloom, eu era a amiga da personagem principal. Eu também performei meu próprio trabalho e minha própria escrita. Eu diria que meus maiores momentos de atuação são atuando eu mesma.

Algumas semanas atrás, eu performei uma leitura do meu conto Spit, é parte de um excerto do meu livro de memórias. Foi extremamente poderoso e carregado de emoções para mim. Eu tive que cavar bem fundo para encontrar aquela dor novamente e reencarnar aquilo. Para os outros, isso poderia realmente abalar as estruturas. Eu sei que muitos atores e atrizes que estão encenando outros personagens e outras partes, eles têm que cavar bem fundo no personagem, e levar isso para fora deles. Eu tive que cavar bem fundo na minha própria personagem e encontrar aquela pequena garotinha de 12 anos, de quando eu experienciei essa situação traumática. No final, é isso o que os artistas têm, certo? Nós apenas precisamos cavar fundo, encontrar a verdade e compartilhá-la.

Eu acho que, quando você está escrevendo, isso te ajuda a curar. Se você não está performando, você poderia escrever como um escape para suas emoções, como um alívio e experiência sobre a qual você não é livre para falar sobre. Mas escrever é uma forma de fazer isso. Mesmo quando performo novamente, eu consigo sentir isso, que eu me alivio novamente. Me levou alguns dias, acredite ou não, para me recuperar da performance, algumas semanas atrás. Mesmo tendo sido difícil de fazer, eu voltei para aquele lugar, voltei ao lugar em que aquela pequena garota foi machucada. Eu meio que tive que direcionar isso e, você sabe, está ok, aconteceu no passado, mas eu tive que encarar isso novamente, e percebi que quanto mais eu conto aquela história, mais isso passa — e leva tempo.

Essas histórias sobre as quais estou escrevendo no meu livro de memórias ainda trazem à tona emoções em mim. Eu ainda me sinto emocionada com isso, porque está lá, está no meu núcleo, aconteceu comigo. A memória disso ainda é perturbadora, mas é definitivamente um processo de cura. Eu tenho trabalhado nisso por não sei quanto tempo, quero dizer, 15 anos, para ser honesta. Não é algo que apenas acontece, isso leva tempo, porque eu preciso voltar para o local no qual estava e é um processo emocional escrever isso. Não é fácil escrever sobre suas histórias, que são profundas e algumas vezes dolorosas, mas é algo que vem junto. Eu acabei de terminar outra, chamada Oreo. Talvez, eu compartilhe outro conto em uma leitura ou algo assim, então vocês poderão ter uma pequena amostra disso.

O que te faz rir?

Quando minha família se reúne, eu acho que isso me faz rir, é a simples lista de pequenas coisas que vão me fazer rir histericamente. Se alguém fala algo, se você disser algo na hora errada, essa é a pior coisa de todas. Isso não faz nenhum sentido, mas é hilário, então eu rio disso.

Eu também rio de mim. Eu tenho uma prima, eu escrevi sobre ela no meu livro de memórias, ela era minha melhor amiga na infância e ela era hilária. Ela costumava zombar de mim naquela época, ela me azucrinava da maneira mais engraçada e ela me fazia rachar de rir no chão muitas vezes. Apenas rir de mim ou de algo muito simples e estúpido, eu sempre encontrei algo para rir na vida, em geral. E existe uma diferença entre zombar de alguém de uma forma ruim e escolher uma coisa e então se divertir juntos.

Espero que você tenha gostado desse podcast. Nós teremos mais entrevistas com líderes Latinxs incríveis toda primeira terça-feira do mês. Confira nosso site do Latinx in Power para ouvir mais. Não se esqueça de compartilhar comentários e feedback, mas sempre com gentileza. Te vejo em breve.

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Thaisa Fernandes
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