Quando Elon Musk chorou

Thiago Yukio
Launchpad
Published in
3 min readDec 5, 2018

Sempre ouvimos histórias de startups que ouviram 500 investidores falarem que a empresa não daria certo, até que deu. Mas quantas outras ouviram os primeiros feedbacks e, vindo de especialistas, acreditaram ser verdade e mudaram de ideia?

Quer dizer que os investidores são maus e mão-de-vaca? Claro que não.

Caso eles rejeitem a empresa e estiverem errados, eles não perdem nada; apenas deixam de ganhar. Por outro lado, se os mesmos aceitarem entrar na aventura e estiverem errados, eles perderão seus recursos na investida. É uma simples assimetria.

Os investidores ganham em apenas um caso: se participarem do negócio e obtiverem sucesso. Assim, possuem um grande incentivo de desacreditar na ideia. Não interessa o número de falsos negativos, apenas os de verdadeiros positivos.

Até aí, tudo certo. É totalmente justo o investidor não querer perder seu precioso capital. O problema surge quando a pessoa que vai julgar a ideia não possui experiência em negócios ou não terá participação na empreitada.

Há um famoso vídeo do Elon Musk segurando as lágrimas, contando que seus ídolos, Neil deGrasse Tyson e Neil Armstrong, não acreditavam na ideia da SpaceX. O argumento de deGrasse é de que missões de exploração demandam investimentos monstruosos sem garantia de retorno, portanto deveriam ser financiadas por governos (como a Espanha nas Grandes Navegações). Segundo ele, se Musk pedisse capital privado “a reunião duraria 5 minutos”, pois o investidor recusaria na hora.

Um carro da Tesla enviado para o espaço pela SpaceX — Elon é CEO das duas empresas

Neil Armstrong, por outro lado, defende que o governo deveria remover a permissão da SpaceX, porque eventualmente a conta poderia acabar sendo paga pelo contribuintes americanos. Pois nos encontramos em uma situação curiosa: dois especialistas com opiniões diametralmente opostas. A questão, entretanto, não é quem está certo. Toda discussão gira em torno da viabilidade de um modelo de negócio e, perdoem-me, mas neste caso não importa se a pessoa é astrofísica, astronauta ou astróloga.

O pior dos casos, porém, não são de pessoas que acham que sabem mais de negócios do que o Elon Musk (apesar de ser uma tremenda presunção). Para mim, é muito pior quando uma pessoa oferece serviços de coaching/mentoring e dá conselhos que acabam mais atrapalhando do que ajudando.

Nessa onda de startups pelo mundo, é muito fácil encontrar conselhos e programas que vendem a fórmula do sucesso. Curiosamente, a maioria dos mentores nunca tiveram uma empresa funcional (se tivessem, não estariam lá). Esse pequeno detalhe não os impede de desferir argumentos de autoridade sem hesitação.

“It’s far more profitable to sell advice than to take it” — Forbes, Steve

Dois anos antes de fundarmos a Espresso Labs, ganhamos ingressos para um evento imersivo de desenvolvimento de ideias de startups. O último lote custava R$ 500. Tínhamos uma ideia inovadora que parecia satisfazer uma necessidade do mercado e estávamos bem orgulhosos de termos percebido isso. Os mentores, incluindo o fundador da empresa do evento, não concordaram. Disseram que não fazia muito sentido e que se fosse uma necessidade, as empresas já fariam isso. Nos mandaram voltar a colar post-its na parede. Saímos de lá desolados.

Dois meses depois, uma empresa com investimento de centenas de milhões lança um produto idêntico à nossa ideia. Sério. Resolução dos problemas, organização dos processos e tudo mais. Mais dois meses depois, uma multinacional lança um produto parecido.

Tínhamos farejado a lacuna do mercado corretamente. Obviamente, não tentamos lutar contra esses gigantes. Davi não teria ganhado de Golias se ainda fosse um bebê engatinhando. Mas ficamos satisfeitos e aprendemos a lição: é preciso tomar o conselho dos outros com muito cuidado.

A única prova necessária se um negócio é válido ou não é a venda para clientes reais. Por mais que as pessoas deem conselhos por boa vontade, é bem possível que elas se enganem, principalmente quando não estão no dia a dia do negócio.

Se eu tivesse que dar apenas um conselho para os futuros empreendedores, seria:

Pense por si mesmo e siga seu instinto.

Afinal, como diria Sherlock Holmes, o instinto não é algo místico; é apenas o processamento de dados do seu subconsciente que a parte consciente não consegue interpretar.

E assim, no final do dia, você saberá que o sucesso ou fracasso da sua empresa foi totalmente culpa sua.

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