Onde ficam nossos sentimentos reais no ambiente ‘Good vibes only’?

Ana Rita de Holanda
Lavanda Digital
Published in
3 min readFeb 4, 2021

Good vibes only ou good vibes TAMBÉM?

Um passeio pelas redes sociais e não demora muito até sermos atingidos por uma avalanche de positividade. Longe de mim ser contra sentimentos e pensamentos positivos. São justamente eles que nos ajudam a construir hábitos mentais saudáveis. Mas o que acontece quando lidamos com o extremo disso? Quando nossos sentimentos negativos são prontamente sufocados por “podia ser pior” (mas não poderia ser melhor também?) ou quando vem um “Good vibes only” (por que não Good vibes also?).

Na contramão de um ambiente digital verdadeiramente tóxico, testemunhamos, nos últimos tempos, um aumento das contas de Instagram dedicadas à saúde mental e à tal da positividade. Em 2020, então, parece que triplicaram. Ao reforçar a ideia de focar apenas no lado positivo de todas as situações, essa “positividade tóxica” não deixa espaço para tristeza, preocupação, ansiedade e outras emoções “negativas” que, apesar de difíceis, são válidas e necessárias.

O grande problema desta cultura ultra positiva é que ela pode nos levar a reprimir ou negar emoções reais, o que só faz com que, em muitos casos, fiquem cada vez maiores. Quando se trata de sentir uma emoção negativa, geralmente resistimos porque temos medo de senti-la.

Resistir a uma emoção é como tentar afundar uma bola inflável na piscina. Visualizou? Pois é, você tenta, tenta, mas ela não afunda e, quando persistimos, você se dá conta que ela pulou da piscina. Se já estamos predispostas a evitar as emoções negativas, a cultura da positividade tóxica que cresce como espuma nas redes sociais só reforça essa forma de agir.

Nem sempre é fácil vivenciar todas as emoções, mas acredito que as pessoas mais saudáveis são aquelas que são capazes de enfrentar todas elas. Só assim desenvolvemos habilidades como empatia e resiliência e outros valores importantes que nos permitem crescer.

No fim do ano passado, conversando com uma amiga, falamos sobre o impacto da pandemia nos perfis de influenciadores digitais de lifestyle. Todos aqueles e aquelas que pregam uma falsa perfeição de vida e corpo baseada em glamour, bebida e diversão, e que urraram “foda-se a vida” em festinhas clandestinas da high society brasileira em plena crise sanitária que já devastou mais de 200 mil famílias. O declínio desse tipo de perfil foi evidente ao longo de 2020 e a tendência é a diminuição massiva desse tipo de discurso.

O mundo dos influenciadores digitais vazios está caindo. E, no lugar deles, nasce uma geração que tem causas genuínas, que combatem (e não propagam) fake news. Na última atualização do informe da WSGN sobre tendências -Key Consumer Behaviour Trends for 2021 & Beyond — a empresa de previsão de tendência elencou os Genuinfluencers, como os mais promissores.

Os genuine influencers são perfis que criam publicações em suas redes baseadas em conhecimento comprovado, citam fontes reais, além de conscientizar sobre as demandas atuais do mundo. Para dar um bom exemplo de genuinfluencer no Brasil, posso citar o perfil do Átila Iamarino. O biólogo soube como ninguém alertar a população sobre a pandemia da Covid-19 e da importância da vacinação. Menos filtros, mais conhecimento.

Como diz minha amiga, Ana Lopes, “as redes sociais não são ciências exatas. E é aí que mora toda a sua beleza”. Não vou fincar o pé no chão e dizer que será para todo sempre assim, mas ouso dizer que a conscientização sobre o que realmente importa chegou para ficar. Talvez minha positividade esteja aí. A saúde mental é um tema relevante e prioritário no feed da nossa agência de conteúdo Lavanda Digital.

Queremos reforçar o papel que as redes sociais podem assumir de aumentar a conscientização começando com três ações básicas: aprender a pedir ajuda, normalizar a terapia e reconhecer a importância da saúde mental.

Entenda, é ok não estar bem. Permita-se sentir e procure ajuda.

Ana Rita de Holanda

Sócia fundadora da Lavanda Digital.

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