Foto: Eduardo Trindade

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Nahira Salgado
Lavanda Digital

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Eu gosto muito de carnaval. Mas não foi sempre assim, confesso que não gostava quando era adolescente. Sabe aquela coisa “sou rockeira”?! Aí a gente cresce e percebe que foi tempo perdido? Tem tanta coisa maravilhosa na música que não vale a pena se limitar.

Quando criança, até curti alguns poucos carnavais em Goiandira, cidade bem pequena que fica perto de Catalão (Goiás). O esquema era um bando de criança fantasiada, com saco de confete e um mini trio elétrico tocando marchinha. Mas foi (finalmente!) em 2012 que tive meu primeiro carnaval de verdade. Olinda, salve o teu Carnaval!

Aquele brincar carnaval mudou toda minha percepção. É muito mais que “pular carnaval”. Minha entrega era outra, de corpo e alma, uma espécie de transe coletivo com o bloco (gente tocando na rua, e não um trio elétrico, era a primeira vez que via aquilo) passando numa rua estreita e as pessoas pulando atrás enquanto alguma alma caridosa jogava água na galera com uma mangueira. Você se joga naqueles quatro dias, e na volta pra casa, joga o tênis fora.

Desde que fui passar esses dias em Olinda, o carnaval nunca mais saiu de mim. Em 2013, foram surgindo blocos novos em Brasília, pessoas tirando os instrumentos de casa, e outros aprendendo a tocar. Pra quê viajar se a gente pode fazer nosso próprio carnaval? Em 2016, comecei a tocar caixa no Vai Quem Fica, e em 2018 trombone na Fanfarra Tropicaos. Foi um novo transe. Agora além de conhecer a magia de seguir os blocos eu passava a fazer parte daquela outra mágica, a que carrega as pessoas pela cidade sem nem que elas percebam.

Morta de saudade e com cisco no olho, relembro todos esses anos que o carnaval me alegrou, com amigos, música, fantasias mil e muita dança. Em um fevereiro “normal” meus amigos de tocada e eu já estaríamos no modo “sem cumprimentos”, uma brincadeira que fazemos por nos vermos praticamente todo dia no pré-carnaval (pouca gente sabe a trabalheira que é botar o bloco na rua). A gente já estaria fazendo os ajustes finos nos arranjos com o Vai Quem Fica, tocando em vários pré-carnavais com o Tropicaos e malucos com as fantasias que não estariam prontas ainda.

Na sexta-feira antes do carnaval, minha agenda à noite estaria toda reservada para: terminar fantasias. Ia dormir às 2 da manhã, preocupada em acordar cedo, porque no sábado às 8h o bloco começava a andar e eu ia finalmente jogar purpurina na cara e cair na folia.

E esse ano não vai ter. O carnaval, que é tão importante que o ano só começa quando ele acaba. Reluto em aceitar, mas não há espaço para o luto. Luto mesmo é por todos que estão perdendo pessoas queridas. E é nessa dor que aceito completamente o desafio de engolir a saudade.

Mas vai ter o feriado, e, já que não pode aglomerar deliciosamente na rua (fica em casa, gente!), resolvi aproveitar para fazer coisas que nunca tenho tempo (alô, mães desse Brasil!!!). Sabe aquelas coisas que estão sempre no fim das listas? Mas que podem ajudar a começar o ano de uma forma mais leve. Talvez uma listinha como essa também te ajude:

  • Dar uma limpa no armário
  • Organizar os livros
  • Ver toda saga Star Wars
  • Testar aquelas receitas que você salvou
  • Dedicar um tempo às suas plantinhas
  • Ler um livro inteirinho!
  • Rever clássicos
  • Pintar uma parede sem graça na sua casa
  • Organizar suas fotos que estão espalhadas e misturadas no computador
  • Juntar todas as tampas com seus respectivos potes, naquele pedaço do seu armário que sei que está uma zona
  • Fazer algumas dessas coisas ouvindo frevo e tomando uma cervejinha: olha as coisas melhorando!

Escrevi tudo isso pra dizer que estou me guardando pra quando o carnaval chegar, aquele com todo mundo alucinado, opa, vacinado. Para o Brasil cantar, dançar, suar toda essa tristeza. Lavar com chuva, suor e cerveja o desgosto que o país traz politicamente e renovar as forças que ainda vem muita luta por aí.

Enquanto isso, vou me preparando. Fazendo exercício pra aguentar mais de 4h segurando instrumento pesado, tocando de vez em quando pra boca não afrouxar e contando muitas histórias dessas farras pra minha filhota não esquecer de como é bom brincar carnaval na rua.

Um beijo suado cheio de glitter em todos vocês!

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