Afinal, tentar algo novo dói tanto assim?

Marina Guedes
Lean In SP
4 min readJul 12, 2019

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Resolvi escrever.

Coloquei uma música que flui, me olhei, me entendi e quis dividir.

O que é mais difícil em mudar? Em tentar algo novo?

Acho que é deixar morrer a pessoa que você foi para uma nova pessoa nascer. Mas esse parto não é simples. Não é como uma virar uma chave ou apertar um botão liga/desliga. É um processo. É começar o novo e, já em meio aos primeiros passos, se ver se questionando, se sabotando.

Decidi escrever este texto porque me dei conta da dificuldade que tenho em me deixar vulnerável. Depois de muitos anos no mercado de crédito, como plano de abrir o leque da minha carreira, resolvi me aventurar no mundo das finanças pessoais. Estudei por três meses todos os dias num curso preparatório para conseguir passar no exame da certificação CFP do Instituto Planejar. Essa certificação é uma das mais conceituadas para planejadores financeiros pessoais. Quando finalmente passei na prova, em abril, meu colega e sócio da empresa onde fiz o curso (FK) me disse: “Show, Má, parabéns! Agora grava um vídeo de depoimento falando sobre como foi passar na prova e sobre o curso”.

Nossa, como é difícil gravar um vídeo-selfie! Eu não fazia ideia! Gravei uns três e achei todos muito ruins…rs! O que finalmente aceitei enviar estava ok com relação ao texto que bolei, mas estava frio, travado. Eu parecia um robô falando. Enviei para o meu colega e ele comentou: “Pôxa, Má, no dia em que você soube que tinha passado na prova, você estava tão feliz, radiante, mas nesse vídeo está fria, séria. É isso mesmo que você queria passar?” Respondi que sim. Mas depois fiquei refletindo sobre isso.

Agora entendo o que aconteceu. Eu estava com receio de me expor, pensando em quem veria o vídeo, o que achariam de mim por falar dessa ou daquela maneira. Na dúvida, me fechei e segui o texto que usei para falar no vídeo, superformal, que acabei recitando de uma maneira superfria. Isso sem falar como foi difícil acostumar a gravar o vídeo olhando para meu próprio rosto e chegar numa versão que eu não achasse que minha boca estivesse torta nem minha fala arrastada.

O principal disso tudo que estou dividindo aqui é perceber que a pessoa que me trouxe até onde estou hoje não é mais a que vai me levar aos novos lugares aonde quero chegar. Estou num momento de mudança, tirando um sabático que já dura nove meses e querendo criar opções mais autônomas de carreira e com mais propósitos, mas que não necessariamente já se tornaram minha principal forma de renda agora.

O que tem sido mais desafiador foi que, nesses onze anos de atuação no mercado financeiro, acabei me tornando rígida, exigente, formal. Tive que criar toda uma armadura, necessária em muitas situações da carreira e do dia a dia.

Mas agora que decidi começar a focar no que eu sempre mais gostei, que é ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos, preciso do exato oposto dessa carapaça. O caminho é pessoal, é de tato, é de sensibilidade e é de empatia para compreender a jornada do outro, no mais íntimo que se reflete em seus hábitos, sua situação financeira. Nesse outro caminho preciso deixar a Marina vulnerável, interessada e acessível emergir.

Nesse processo acabei chegando a uma conclusão, por meio da situação do vídeo-selfie mesmo, que é a seguinte: não tem ninguém melhor para a gente interpretar e mostrar do que nós mesmos. Não precisamos de texto decorado, de script perfeitamente descrito no teleprompter e nem de uma imagem de dar inveja a maior das blogueiras. O que é preciso é estarmos ali, de corpo, alma e propósito, falando direto da nossa alma, da nossa essência. Porque assim a mensagem chega ao seu destino e atinge quem precisa. Percebi que o que me trouxe nessa jornada é meu desejo de ajudar os outros a prosperarem, com ferramentas que cada dia domino mais e que já usei muito na minha própria vida. É isso que faz meus olhos brilharem e que faz cada reunião com a minha (ainda única) cliente de consultoria ser especial. É a vontade de trazer um resultado que não tem preço para a vida das pessoas — a possibilidade de viver melhor com a tranquilidade de conhecer sua situação financeira e maneiras práticas de se planejar.

No final, não tem pessoa mais bonita do que aquela que veste o que é e fala com o coração. Foi isso o que descobri.

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Marina Guedes
Lean In SP

Especialista em Crédito, entusiasta das finanças pessoais. Meu hobby é sair do meu caminho para ajudar os outros e é assim que me realizo.