Há uma mulher invisível perto de você

Gisela Guarienti
Lean In SP
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2 min readMar 16, 2019

Fátima, Maria, Joana ou Teresa uma destas pode ser protagonista de uma história semelhante: Mulheres invisibilizadas que estão mais perto de você do que imagina.

Fátima (é um nome fictício que escolhi) nasceu em Campina Grande na Paraíba e com 16 anos já estava casada. Além da Paraíba, viveu em Alagoas e há 22 anos reside na periferia de São Paulo. Mãe de sete filhos, avó de dezoito, tem 69 anos.

Apesar de estar aposentada há quatro anos, Fátima precisa complementar a renda trabalhando seis horas por dia como faxineira para uma empresa de serviços gerais: “O que ganho da aposentadoria, não dá pra sustentar, preciso trabalhar”.

Bastante tímida e discreta, Fátima é daquelas pessoas que pouco conversa, ri baixinho, está sempre de cabeça baixa. Foram mais ou menos três anos de muitos sorrisos, “bom dias” e “como a senhora está” para que num raro momento de conversa ela me contasse sua história.

Divorciada, Fátima separou do marido 15 dias antes do caçula nascer. Descobriu que o marido a traía com uma moça mais jovem, que também estava grávida. “Eu mandei ele embora de casa, não ia viver debaixo do teto de um homem assim”.

Após o divórcio, Fátima foi merendeira em escola pública e feirante. Tinha que ter os dois empregos para poder sustentar os sete filhos que o marido abandonou. Ela não aceitava colocar outro homem dentro de casa “Minhas filhas eram pequenas”. Nunca mais viu o ex marido, mas continua falando com as ex cunhadas “A gente sempre se liga”.

Fátima é destas profissionais invisíveis, que muitas vezes você já passou ao lado e nem notou, mas que sem ela seu trabalho não seria possível. “Essa invisibilidade é uma expressão construída historicamente a partir de dois fenômenos psicossociais: a humilhação social e a reificação (transformação em coisa)”, aponta Fernando Braga da Costa, pesquisador que dedicou 10 anos para construção da sua tese de doutorado sobre o tema.

Foto: Tracey Hocking

Entre as diversas bandeiras feministas levantadas nos últimos tempos, temos: a equiparação de salários, igualdade de direitos, equivalência nos boards e diretorias das empresas. Mas estamos nos preparando para tornar as Fátimas visíveis? Estamos lutando para garantir que ela e tantas outras sejam reconhecidas em suas funções e importância? Entendo que a luta de igualdade é para todas nós, não apenas para aquelas que se formaram e têm ensino superior.

Infelizmente a invisibilidade é uma realidade. Quantas profissionais invisíveis passam por você todos os dias? Na próxima oportunidade, cumprimente, observe e veja todas as pessoas do seu trabalho, do seu entorno, da sua vida. Lute por elas. Empodere estas mulheres.

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Gisela Guarienti
Lean In SP

Publicitária com MBA em Gerenciamento de Projetos, atuo no segmento de tecnologia, amo livros, conhecimento, gatos, gastronomia e viagens!