Lições de feminismo na TV

Bia Nunes de Sousa
Lean In SP
Published in
3 min readNov 1, 2019

No episódio 9 da temporada 2 de 9-1-1, Hen (Aisha Hinds) é a recruta novata que chega à Estação 118 do Corpo de Bombeiros de Los Angeles para assumir seu primeiro posto como paramédica. Feliz da vida por estar começando o trabalho dos seus sonhos, ela encontra um obstáculo e tanto no capitão da equipe. Hen é uma mulher negra lésbica. O capitão, um homem branco de meia-idade. Não é preciso dizer o tipo de problemas que ela enfrenta.

Uma das falas mais marcantes de Hen se dá quando outro bombeiro da equipe — Chimney, de origem asiática — tenta ser solidário e diz que também se sente discriminado pela equipe. Hen resume magistralmente a diferença entre eles:

“Tem uma grande diferença entre ser invisível e ser uma ameaça ao estilo de vida deles. Tudo bem, você também é minoria, mas ainda assim é homem. Você se beneficia de um sistema que mantém mulheres como eu sempre por baixo.”

Na primeira chamada de emergência que atende junto com os colegas, Hen recebe ajuda de Athena (Angela Bassett), mulher negra e policial, que percebe na hora as dificuldades que Hen está enfrentando. Quando a ocorrência se resolve, Athena dá mostras da amiga maravilhosa que vai se tornar para Hen ao longo do seriado e a convida para tomar uns drinques qualquer dia desses.

Corta a cena e chega a noite dos drinques. Athena apresenta o resto da turma: um bombeiro gay e outra policial feminina. Hen olha em volta e pergunta, “Mas o que é isso, é tipo um grupo de apoio?”. Gritei para a televisão:

“Sim! Eles são o seu Lean In!”

No seriado, o que se segue é uma noite de risos e desabafos, que termina com a fala poderosa de Athena, instando a nova amiga a não deixar que o capitão machista ou os colegas omissos definam a profissional que Hen pode ser, a acordar cada dia determinada a fazer o melhor possível, a levar adiante a luta que começou com as mulheres que vieram antes dela, mas que está longe de terminar com as que virão logo depois:

“As mudanças não acontecem da noite para o dia, mas elas acontecem. Por isso, você sabe o que fazer. Chegue no trabalho amanhã e faça o seu melhor. Melhor que todos eles. Seja você mesma. Trabalhe com a cabeça erguida, porque não cabe a eles dizerem quem você é. Essa decisão é sua.”

Firefighter Henrietta Wilson, played by Aisha Hinds, looks herself in the mirror with a smile.
“Looking good, girl.”

Hen se sente mais forte por causa do apoio dos colegas, a ponto de, no dia seguinte, subir no caminhão de bombeiros e fazer um discurso jogando na cara de toda a equipe que ela veio para ficar e que os incomodados que se mudem.

Sim, Hen é uma ameaça ao preconceito de gênero, raça e classe. Ela é uma afronta ao sexismo, ao machismo, à misoginia. Ela é uma LeanInner, como nós.

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Bia Nunes de Sousa
Lean In SP

Editora e produtora de conteúdo, tradutora, preparadora e revisora de textos. Nas horas vagas, artesã de encadernação. Desde 2012, na Editora Alaúde.