Compartilhar é o novo ensinar

Yoris Linhares
Learning 3.0
Published in
5 min readMay 23, 2017

O Sr. Diaz, um professor na Universidade TechSun, tem ensinado programação e outras disciplinas do curso de Ciência da Computação por mais de 10 anos.

Nos últimos anos o Sr. Diaz tem visto uma diminuição na participação de estudantes em suas aulas de programação, todos matriculados mas poucos aparecem em sala. A ausência dos estudantes às suas aulas não é um grande problema para ele, desde que esses estudantes continuem matriculados e fazendo as provas, mas é algo que o chateia.

O Sr. Diaz planeja suas aulas antecipadamente, preparando slides inspiradores. Ele procura por informações mais recentes no mundo da programação para mostrar aos estudantes. Algumas vezes, ele solicita aos estudantes que trabalhem em equipes, programando para criar softwares para os requisitos criados por ele. Ele até criou uma página em seu website onde os estudantes podem fazer a ele perguntas sobre programação, estendendo assim a sala de aula.

Apesar disso, o Sr. Diaz tem notado uma diminuição na quantidade de perguntas no seu website e, contrariamente, um aumento na qualidade do software desenvolvido pelos estudantes. Mais notavelmente, esses estudantes, que não frequentam as aulas, estão obtendo as melhores notas nas provas. Muito estranho!

O Sr. Diaz acha que talvez os estudantes estejam fazendo aulas extras com outra pessoa, ou eles estejam trapaceando nas provas, ou eles estão estudando muito por eles mesmos (o que???).

O Sr. Diaz percebeu que ele nunca havia perguntado aos seus estudantes o que os faria mais confortáveis em sala de aula, assim ele decide conversar diretamente com alguns estudantes para descobrir o que está acontecendo.

Uma investigação sobre a aprendizagem

A primeira pista vem de uma estudante que antes fazia muitas perguntas no website. Ela diz ao Sr. Diaz que encontrou outros websites com várias dicas sobre programação. Ela também diz que conversa com outros estudantes e profissionais em alguns fóruns e canais on-line onde ela consegue além de dicas, sugestões e respostas para as suas dúvidas e perguntas, de forma mais rápida e melhor que no website do Sr. Diaz.

Um outro estudante diz que ele está aprendendo como codificar software usando uma abordagem de experimentação e exploração aprendida em vídeos que ele assistiu da internet. Ele tenta codificar alguma coisa e quando ele encontra um erro ele copia a mensagem de erro no Google e procura pelo seu significado e o que fazer para consertá-lo. Além disso, ele e seus colegas programam juntos, compartilhando o que eles aprendem enquanto programam.

O Sr. Diaz está maravilhado, aliviado e sem saber o que fazer. Ele percebe agora que seus estudantes são muito inteligentes e o que eles estão fazendo não é o que ele pensou antes. Contudo, ele não sabe o que fazer para resolver uma pergunta que agora o está aborrecendo, “o que eu posso fazer para envolver os meus estudantes nas aulas de programação?”

Mudanças na aprendizagem do sec. 21

Bem, esta é uma história fictícia baseada em histórias reais do livro New Culture of Learning. Mas, essa pode ser uma realidade que esteja pressionando mudanças nos sistemas educacionais. Hoje, a internet disponibiliza uma quantidade e variedade enorme e crescente de informações a baixo custo e fácil acesso. Isso está permitindo que as pessoas aprendam por elas mesmas, no ritmo que quiserem e em relação próxima com a realidade e a prática diária. Como dito no livro Learning 3.0: Como os profissionais criativos aprendem, não há mais uma dependência da aprendizagem na existência e disponibilidade de portadores do conhecimento. Também, não há necessidade de espaço e tempo para a aprendizagem acontecer. Embora já existam mudanças acontecendo, estas não são suficientes para liberarem todo o potencial da aprendizagem na dinâmica do século 21. Para isso, um novo sistema baseado em princípios e um fluxo de aprendizagem, esses associados a práticas e suportado por ferramentas, podem oferecer uma melhor experiência de aprendizagem.

Então, o que o Sr. Diaz pode fazer diante desse cenário?

Primeiro, ele não deve interromper nada que os seus estudantes estejam fazendo. Segundo, ele pode facilitar a aprendizagem deles para melhorar ainda mais o que eles estão fazendo.

A grande mudança para ele é reconhecer os fatos. Ele não é mais o protagonista da aprendizagem deles. Também, reconhecer que os estudantes aprendem mais e melhor da sua rede de contatos e ao compartilhar entre eles.

Não ser o protagonista da aprendizagem deles não significa que eles não precisam do Sr. Diaz. Claro que eles precisam dele. O Sr. Diaz pode ajudá-los a aprenderem no mundo real, por exemplo, ao usarem requisitos reais de software vindos de organizações em parceria com a universidade. Além disso, ele pode acrescentar conexões à rede de contatos dos estudantes, trazendo a ela pessoas com ideias e experiência para ajudá-los. Ele pode também fazer a curadoria de conteúdo ou dar aos estudantes boas referências de conteúdo — isso pode economizar tempo e esforço para encontrar boa informação. Entretanto, isso não deve nem ser empurrado pelo Sr. Diaz nem esperado pelos estudantes. O Sr. Diaz deve delegar a eles a autonomia e a responsabilidade para aprenderem o que eles precisarem e como eles quiserem, deixando-os serem os protagonistas da própria aprendizagem.

Por aprender com a rede de contatos e compartilhando, significa que os estudantes estão usando suas redes de contato para aprenderem uns com os outros. O que um estudante sabe pode facilmente ser compartilhado com outros quase que instantaneamente na internet. O Sr. Diaz pode usar ferramentas e práticas para mostrar a eles que não existem experiências sem importância ou ideias muito ultrajantes e, mais importante, não há um conhecimento individual considerado mais importante que um outro.

Isso deixará os estudantes se sentindo mais confortáveis para compartilharem e aprenderem no próprio ritmo — em harmonia com o cérebro deles.

O Sr. Diaz pode também ajudá-los a visualizarem o que eles estão aprendendo. Dessa forma, ele pode levá-los a preencherem as próprias falhas de aprendizagem ao verem o que os outros já aprenderam e assim qual conhecimento podem oferecer uns aos outros.

E sobre as provas? Bem…como ele pode medir o quanto um estudante aprendeu com os outros? Ele não pode. Como ele pode medir o quanto um estudante é bom em programação? Bem, ele pode. Mas, se ele decidir avaliar cada estudante individualmente nesse processo de aprendizagem, como ele pode nutrir a colaboração e, mais importante, o compartilhamento sem ferir a confiança entre eles? Isso é um esforço de equipe! Bem, vamos deixar para discutir isso em um outro artigo.

Os estudantes podem ensinar!

O que é sugerido é que o processo e o produto da aprendizagem não sejam mais definidos por especialistas como o Sr. Diaz, mas que eles sejam facilitados. Assim, os estudantes podem descobrir formas melhores de aprender e qual é o melhor resultado para o que eles querem alcançar. De novo, como bem colocado no livro Learning 3.0: Como os profissionais criativos aprendem, a aprendizagem emerge das conexões de histórias, ideias e práticas, da discussão por meio de uma situação problematizada do mundo real. Os estudantes podem compartilhar ainda mais e melhor. Ao compartilharem, eles ensinam uns aos outros. Compartilhar é o novo ensinar!

--

--