O tigre imitou o porco

Glauber Morais
Leitura de Jogo
3 min readMar 23, 2015

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E o bode observa tudo com o regulamento debaixo do braço

Noite de domingo. Na rotineira zapeada pela mesas redondas, o de sempre: gols, polêmicas de arbitragem... A exceção ficou por conta da curiosa expulsão do mascote do São Bernardo no intervalo do jogo contra o Palmeiras. Sim, o Tigre provocou a torcida rival e foi mandado pro chuveiro mais cedo.

O fato é que, além do inusitado (nem tão inusitado assim), o destaque dado ao episódio diz muito sobre os campeonatos estaduais. Primeiro que pra variar o cotejo não rendeu lances muito mais interessantes. Segundo, porque todo mundo falou mas ninguém mostrou a tal imitação. Como um cara vestido de tigre consegue imitar um porco? Cadê o vídeo? STJD nele!

Estamos de bode. Somos campeões da irrelevância. Imbatíveis na confabulação de regulamentos ilógicos, campeonatos desinteressantes, jogos inúteis, estádios vazios. Nos superamos na procrastinação futebolística, essa arte que tem nos estaduais a sua bienal a cada ano.

Hoje é 23 de março e lá se foram quase três meses, 1/4 do ano. Se o seu time não está na Libertadores, amigo, a sensação é de que o ano ainda não começou. Fala a verdade: Passaram-se 10, 11 rodadas, mas é como se fossem amistosos. Acompanhamos os estaduais se arrastando com a empolgação de quem pega ônibus lotado numa segunda-feira chuvosa. A derrota do domingo seria um agravante. Já não é mais, como captou o Xico Sá em um tweet:

Não fede nem cheira, Xico. É indiferente porque não vai mudar nada. Nem o nosso humor de segunda. É mais fácil ver colegas debatendo o clássico Barcelona x Real Madrid e a polêmica do fim de semana: “foi ou não foi pra cartão vermelho o lance do mascote?”

A gozação entre rivais já não é mesma no escritório. Quase ninguém berra #Chupa na janela pros vizinhos. O interesse não é o mesmo porque os regulamentos são feitos para satisfazer exclusivamente os interesses de quem os faz. Confuso, não? Experimenta tentar entender esses tratados de conveniência política que pouco ou nada favorecem “detalhes” como rentabilidade e competitividade.

Não é uma questão de fórmula de disputa. O mata-mata não salva campeonatos inchados e deficitários. Veja o caso do Paulista. Fazer melhor campanha nos 15 jogos da primeira fase garante a ~imensa~ vantagem de ser mandante nas quartas. E só. Empatou, pênaltis. Depois, aí sim vale a pontuação ao longo da competição para definir o chaveamento dos semifinalistas e a vantagem nas finais. Qual a lógica?

E no Baianão 2015? Dois grupos de 6 times cada enfrentam adversários do outro grupo. Os melhores da primeira fase tiveram a vantagem de decidir em casa e jogar por resultados iguais nas quartas. O mesmo vale pra semi, certo? Errado. Tem vantagem o semifinalista que fez mais pontos apenas nas quartas. E nas finais? Bom, aí vale a pontuação de todo o campeonato. Entendeu? Agora tenta descobrir quem se classifica para a Série D, Copa do Nordeste e Copa do Brasil.

E no meio dessa confusão toda, a ironia dos regulamentos colocou frente a frente Vitória da Conquista e Colo-Colo. É bode contra tigre.

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Glauber Morais
Leitura de Jogo

Jornalista| Editor de Conteúdo| Adepto do Fruta, pan y café