Rio, se olhe no espelho.
Se encare.
Observe o resultado do teu processo, tua falta de coerência, tuas falhas gritantes, teu medo de se assumir.
Veja o que tua alma reflete; não adianta, você não foge de ser assim, sempre assim, feita de paradoxos e de potenciais mal aproveitados. E te cantam tão charmosa, cidade maravilhosa dos contrastes ignorados, das narrativas seletivas que se ocupam, talvez, de menos de um quinto do que você realmente é.
Você é feia, Rio. Feia. Por dentro sempre te vi podre. As partes mais bonitas sempre foram as mais bagunçadas, por todos que te ovacionam as mais descartadas. Tuas praias ofuscam todo resto, a beleza da ninfa que mata, da medusa que transforma em pedra. Cidade de estátuas que caminham pela orla negando os demais territórios.
Olha o que fizeste, bela cidade, mais uma vez. Se anestesiou de tal forma que está apática, moribunda e estagnada, mas teu reflexo, ao menos este, não te deixa enganar.