Louie Martins
Leminski odiaria
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2 min readOct 12, 2017

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Minha primeira vez em Nova Iorque foi um tanto mágica. Mágica não, palavra cafona. Melhor surpreendente. Isso, cabe bem essa palavra? Tipo a que o woody Allen usaria, no alto de seu sexismo, para uma mulher que faz um comentário inteligente enquanto vê um quadro qualquer.

Fui ao Blue Notes por duas obviedades. Um, era o blue notes. Dois, o filho do Coltrane tocaria. Tinha tudo para dar errado, duas obviedades tão pertinhas assim não ornam, e deu, obviamente, para completar a terceira coisa previsível da noite e formar o triângulo do equilíbrio das coisas que não funcionam pra fazer outra funcionar.

A garçonete para do meu lado, abaixa até meu ouvido e diz você está no lugar errado. Pega um guardanapo, anota um endereço no west village chamado smalls (west? Já não me lembro) e avisa os meninos de hoje em dia tocam lá, hoje é terça, vai pra lá. Vou pra lá e tem uma mesinha com uma moça na porta que me aponta escada abaixo.

Eu poderia descrever o lugar, mas sairia superficial, porque me falta capacidade imagética, porém os meninos estavam lá, muitos deles, e eles ficavam naquela jam, enquanto a bela moça sapateava, às vezes base, às vezes dissonância.

O guardanapo tenho até hoje, em alguns dos cadernos que deixo na gaveta para que ganhem corpo, mas a memória desse dia me persegue. Você está aberta, exposta, dizendo para que veio ao mundo até quando está sentada sozinha só observando. Meu segundo lugar preferido do mundo. Aquele bar, aqueles tapetes, aquele espaço pequeno e, naquele momento, um pouco meu.

As obviedades sempre perdem pra vida.

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