Sobre vampiros, referências e narrativas transmidiáticas

Clara Dantas
LENS
Published in
4 min readJun 24, 2021

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Castlevania é uma animação de horror e aventura (baseada na franquia de jogos de mesmo nome) produzida e distribuída pela Netflix. Desde já, avisamos que este texto contém spoilers sobre todas as temporadas. Nosso intuito é comentar brevemente sobre a narrativa da série, focando na última temporada, lançada recentemente. Para uma leitura mais envolvente, recomendamos a execução desta trilha sonora. Vamos começar relembrando, através de tópicos, os arcos e acontecimentos anteriores:

1ª temporada (2017, 4 episódios)

  • Apresentação do relacionamento entre Lisa e Dracula;
  • Assassinato de Lisa por parte do clero (queimada em uma fogueira);
  • Vingança de Dracula contra Valáquia;
  • Personagens centrais: Trevor Belmont, o último sobrevivente de seu clã; Sypha Belnades, uma oradora que faz uso de magia; e Alucard, um guerreiro híbrido (meio humano, meio vampiro), filho do casal inicialmente mencionado.

2ª temporada (2018, 8 episódios)

  • Formação do exército de Dracula: vampiros reunidos para exterminar a raça humana;
  • Hector e Isaac: humanos que forjam criaturas da noite e atuam contra sua própria espécie;
  • Carmilla e sua conspiração para tomar o controle do castelo e das forças militares;
  • Os protagonistas matam Dracula e, em contrapartida, surge uma nova ameaça.

3ª temporada (2020, 10 episódios)

  • O trio principal se separa e a história explora mais estes e outros personagens;
  • Núcleos trabalhados de formas isoladas e diferentes: o Conselho das Irmãs e Hector; Trevor e Sypha; Alucard; e Isaac.
  • Todos os arcos e seus respectivos ápices dão abertura para um desenvolvimento maior.

4ª temporada (2021, 10 episódios)

A impressão que fica, infelizmente, é que os eventos foram finalizados de forma apressada, quase precoce. A adaptação realmente se manteve fiel quanto a uma ideia presente nos games (a da morte de Dracula seguida de tentativas de revivê-lo), mas esta não é a questão. O problema é que, comparada à própria série, o nível decaiu.

Pontos positivos

  • Desenvolvimento da relação entre Trevor e Sypha;
  • Coreografia e animação das lutas, com ênfase no trabalho em equipe;
  • Reflexões de Isaac (altamente filosóficas) a respeito da natureza das criaturas da noite e o determinismo do mal;
  • Final coerente da jornada de Carmilla.

Pontos negativos

  • Mudança no ritmo da narrativa, em comparação às temporadas anteriores;
  • Referência vazia a Morte, que chega de forma repentina, sem uma grande motivação, quase que para “cumprir tabela” e fazer uma menção direta ao boss do jogo;
  • Retorno de Trevor: a morte do protagonista traria mais dramaticidade e emoção ao desfecho;
  • Retorno de Dracula e sua esposa: este ato fez com que tudo o que ocorreu ao longo das 4 temporadas perdesse sentido, já que o arco inicial foi motivado justamente pelo assassinato de Lisa Tepes;
  • “Final de novela”, com tudo magicamente dando certo.

Considerações finais

Podemos concluir que a animação faz uso de muitas referências aos jogos que a antecederam (em uma tentativa consciente de evocar a nostalgia dos fãs de longa data), mas que também funciona como produto a ser consumido por quem não possui nenhuma experiência prévia com a franquia.

Aliás, foi graças a essa liberdade criativa que pudemos conhecer o Conselho das Vampiras, com duas delas sendo explicitamente um casal lésbico; um Isaac completamente diferente do original, tanto fisicamente quanto em termos de personalidade, melhor construído e aprofundado; bem como tivemos acesso a cenas de conteúdo adulto importantes para o desenvolvimento das dinâmicas existentes — como o polêmico ménage à trois envolvendo Alucard e dois coadjuvantes que, logo em seguida, tentaram matá-lo, deixando-o ainda mais apreensivo em meio à solidão.

Mesmo com escolhas duvidosas de roteiro, especificamente na última temporada, é fato que o enredo é “redondo”, com começo, meio e fim. De fato, a série acabou, mas dando margem para que o mesmo universo fosse revisitado posteriormente. Talvez, em um futuro não tão distante, acompanharemos as aventuras de um(a) poderoso(a) guerreiro(a), com sangue Belnades e Belmont. Provavelmente, a quantidade de streamings é que vai definir essa tomada de decisão.

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