Léo Jianoti
Leo Jianoti
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3 min readDec 7, 2018

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Hey doutor, altera meu DNA!

Sabe qual o e-mail mais desejado do mundo hoje? Ou melhor, o número de celular? Anitta-Neymar-Trump? Negativo! Dr. He Jiankui, senhoras e senhores.

Foi ele quem conseguiu – ou diz ter conseguido – alterar a estrutura do DNA de um ser humano. Você deve ter ouvido falar do assunto de alguma forma, estava em todos os jornais, na conversa na fila da padaria e no papo-papa-estrela do Uber.

O cara conseguiu isolar uma parte da carga genética que supostamente tornaria aquelas bebês imunes ao vírus HIV portado pelo seu pai. Se ele teve realmente sucesso nesse experimento, imagina o que seria possível na sequência? Os dilemas éticos são profundos e a comunidade científica está em polvorosa.

Resolvi escrever para o sujeito, ainda que muito desconfiado de seu feito. Pensei em começar minha mensagem como uma criança que escreve para o Papai Noel: Querido Senhor He Jiankui … querido não, nem conheço o cara. Melhor só Senhor Jiankui, oh mago da genética. Não não, seria deveras puxação de saco. Quero agradar, mas preciso ser objetivo – imagina a inundação no caixa de entrada desse cara! Preciso ser preciso – falar bonito aqui seria muito clichê.

Minha principal dúvida é se ele conseguiria alterar um DNA já meio desgastado. Produzir mudanças depois do nascimento? Tá bem, estou sendo auto-interessado, quem não é pelo menos uma vez por dia, não é mesmo? Minha dúvida tinha cunho pessoal, mas seria útil para toda humanidade. Altruísmo, meus amigos.

Cabelos brancos voltando ao normal? Nascendo loiros? Não não, ficaria estranho, eu viraria piada no escritório – se você acha que o bullying acabou na escola, você não conhece o mercado financeiro. Talvez eu poderia pedir a voz do Freddie Mercury – sim estou influenciado pelo filme e saí do cinema cantando Love of my life com a garrafa de água na mão. Uma coisa bacana seria menos gordura abdominal. Não não, ele vai me mandar parar de comer pastel. Impossível.

Ah, já sei! Quero virar um X-Men. Mas qual poder? Voar, ser invisível, correr rápido, ler mentes, soltar raios, jogar fogo, produzir gelo, fazer chover … teria tudo, mas pra ficar divertido eu nunca saberia qual poder seria usado na hora, tipo roleta-russa. Ia ser engraçado. Ao invés de Stan Lee, seria uma história dos Trapalhões.

Tá aí! Eu queria ser o Didi Mocó! Ou seria o Renato Aragão? Eu teria o poder de fazer todos rirem e viveria uns 200 anos. Seria o Didi, o Wolverine, imortal? Hum, mistério.

Esse doutor mexeu mesmo com minha imaginação, acho que com a sua também. A história da biotecnologia parece ter ganhado um capítulo fundamental essa semana. E você viveu para testemunhar isso, com toda sua carga genética te permitindo essa milagre diário de estar vivo. Não importa carta nenhuma, já desisti dela. Vou fechar meu computador e cuidar da minha rinite, isso sim parte do meu DNA. A mensagem que o Dr. Jiankui nos mandou foi mais poderosa do que qualquer coisa: somos tão únicos e tão iguais, uns mais iguais que os outros. Todos iguais, mas ninguém igual a ninguém, já cantaria Humberto Gessinger.

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Léo Jianoti
Leo Jianoti

Pai do João e do Bento, economista, educador e escritor amador.