Léo Jianoti
Leo Jianoti
Published in
3 min readOct 24, 2018

--

Meninos mimados não podem reger a nação

Eu sou Leonardo Jianoti e estou limpo há 7 dias. Limpo, zerado, pseudo-sereno. Esse é o tempo que consegui ficar sem brigar com alguém sobre política. Nem mesmo um curtir sarcástico, muito menos um apoio mais efusivo ao post amigo. Os ares estão pesados, vivemos uma eleição angustiante e raivosa. Se você vacilar, pessoalmente ou nas redes sociais, leva uma zarabatana acusatória ou salvadora da pátria com a força ideológica de diferentes colorações – cheguei a chamar esse movimento de cromoterapia política às avessas. Sem contar os inúmeros mensageiros do apocalipse por aí, brotando dos bueiros como vendedores de guarda-chuva quando os primeiros pingos encontram seu ombro.

Estava cá eu, solto em meus próprios pensamentos, dirigindo em direção à Florianópolis – esses momentos de estrada são ótimas oportunidades de meditação. Resolvi parar para um rápido café num posto quase no meio do caminho, ali próximo a Balneário Camboriú – praia sombreada -, quando distraidamente fiz um comentário infeliz ao pedir o café: sem açúcar porque de doce já chega nossa política. Para quê eu fiz isso, me expliquem.

Começou um tiroteio verborrágico envolvendo os dois atendentes, segundo eles um coxinha e o outro mortadela – sempre achei péssimas essas duas analogias mas ninguém manda nas etiquetas populares -, onde os argumentos eram mais vazios que o pastel de vento e tão superficiais como a cobertura do bolo de cenoura.

Seria cômico senão fosse trágico ver os argumentos e acusações de diferentes lados. Por vezes penso que se substituíssemos o tema, mas mantivéssemos as estruturas das frases, poderíamos reviver as clássicas discussões da 5a série B – se me corrigir dizendo que agora é sexto ano você é um proto-neoliberalzinho metido à besta.

Estamos em pleno 2018, no amadurecimento de nossa jovem democracia, e dois (péssimos) candidatos disputam nosso voto. Resumindo, para você, colega que pode estar milagrosamente ileso desse cenário, basicamente temos que decidir entre tomar fanta uva quente sem gás ou um ovo caipira cru logo ao acordar.

Tenho dito aos meus amigos, pelo menos para aqueles que ainda dialogam, que vivemos uma eleição no meio da balada. Você até tenta conversar mas parece que ninguém te ouve. E quando parecem te ouvir, respondem coisas sem conexão com o que você falou. Basicamente um jogo de frescobol onde a bolinha nunca volta.

Como se ninguém conseguisse aceitar a visão e opinião do outro, por vezes diferentes da sua própria. Coisa de gente mimada, no melhor estilo “não posso ser contrariado”. E isso não é privilégio de nenhum dos dois lados. Inclusive somente pela existência de polos sem diálogo já mostra a carência de maturidade.

Quando Criolo – sempre ele – diz que meninos mimados não podem reger a nação, ele mirava privilégios e desigualdades sociais, mas conseguiu acertar também o mimo ideológico de muita gente. Como ele mesmo disse em seu show na semana passada, quando os “lados” gritavam hashtags #elenão #PTnunca: mais amor, por favor.

Gosto de lembrar que o que nos une é mais forte do que aquilo que nos separa.

--

--

Léo Jianoti
Leo Jianoti

Pai do João e do Bento, economista, educador e escritor amador.