Obrigado Eduardo Gomes

Léo Jianoti
Leo Jianoti
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2 min readOct 10, 2018

O ano era 1945 e estávamos passando por um período eleitoral, algo como o que estamos vivendo agora, mas nada perto da tensão das últimas semanas. Naquela época, o Brasil ainda vivia a República Velha, onde os presidentes eram eleitos no famoso arranjo do café com leite — uma vez um mineiro e outra vez um paulista, tudo arranjado entre os oligarcas da vez.

A disputa foi acirrada entre dois candidatos: o Eurico Gaspar Dutra e o Eduardo Gomes. O primeiro apoiado pelo ex-presidente-ditador-deposto, Getúlio Vargas, e o outro um militar condecorado e querido pela crescente classe média da época. A peleja não estava fácil. O uso da máquina pública influenciava demais os resultados das eleições, que eram ainda muito manipuladas com fraudes — os historiadores não poupam adjetivos [negativos] para esse movimento.

O Eduardo Gomes não foi eleito, porém deixou o maior legado que um candidato a presidente poderia deixar para sua pátria. Tamanha herança cultural justificaria, na minha humilde opinião, que mudássemos o nome da rodovia entre Rio e São Paulo de Dutra para Gomes — por favor, pega a Gomes e segue toda vida.

Aliás, nunca causou estranheza para vocês o fato das ruas não condizerem com a história dos nomeados? Me refiro ao fato de que, por exemplo, a Avenida Getúlio Vargas cruzar com a Marechal Deodoro da Fonseca, sendo que as duas figuras políticas nunca se encontraram no poder — Getúlio tinha 07 anos quando Deodoro proclamou a República. No caso das marechais [em Curitiba] faz algum sentido porque Floriano foi sucessor de Deodoro, mas pela lógica elas seriam sequenciais, não cruzadas. Imagino que deva acontecer também na cidade de vocês com outras figuras. Bom, deixem meu TOC histórico de lado e voltemos ao Eduardo Gomes.

Durante a eleição de 45, logo após o fim da ditadura popular de Getúlio, a população tentava ajudar a campanha de Gomes de várias formas, uma delas era vender doces de porta em porta para arrecadar fundos para a corrida eleitoral. Esses doces ficaram conhecidos pelo título militar do candidato: brigadeiro.

Não sei como agradecer as pessoas que se inspiraram nessa candidatura para criar o melhor e mais conhecido docinho dos brasileiros. Não é à toa que eles sempre nos acompanham nos momentos mais felizes de nossas vidas.

Agora vocês me dão licença que vou ali no café da frente buscar um daqueles rechonchudos e saborosos. Léo, mas e a sua dieta? — minha nutricionista deve estar pensando. Rapidamente, subo em meu cavalo, nas margens do rio Barigui, rodeado pelas capivaras patriotas e questiono vossa senhoria: como ousas colocar o interesse individual em patamar superior ao símbolo democrático de uma república?

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Léo Jianoti
Leo Jianoti

Pai do João e do Bento, economista, educador e escritor amador.