Target fixation

Uma lição básica de pilotagem

Leonardo Ritta
Leonardo Ritta
2 min readDec 2, 2019

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Quando aprendemos a andar de moto de maneira menos tosca, alguns conceitos se tornam fundamentais. Um deles diz que a gente vai para onde a gente olha: é a fixação do alvo, ou target fixation.

O princípio é bem simples e extremamente eficiente. Ao fazer uma curva, por exemplo, mira-se o final dela, ao invés de olhar para frente. É estranho de início, porque o instinto é olhar reto, com medo de que a moto não vire. Mas o corpo pende e ela vira. Dá medo quando a curva é cega, mas a gente aprende a lidar.

O conceito fica bem claro (e útil!) também quando precisamos desviar de algo. Se há um buraco e olhamos fixamente para ele, inexoravelmente vamos cair com a roda da frente direto no desnível. A moto vai para onde estamos olhando.

O jardineiro é Jesus e as árveres são o alvo. Gif: reddit.

No caso de desviar do buraco, não se trata de ignorar a sua existência, mas praticar um hábito composto de 3 etapas muito rápidas:

  1. Constatar que existe um buraco/obstáculo;
  2. Identificar imediatamente a rota alternativa;
  3. Olhar fixamente para a rota alternativa e fazer a manobra.

Então, tanto para fazer uma curva bem feita quanto para desviar duma pedra ou dum buraco, é necessário saber para onde olhar. Não é agora que eu venho com o texto de autoajuda dizendo que temos que ter um horizonte para mirar ao longo da vida, fica tranquilo.

O que eu quero dizer é que o nosso problema, tanto pilotando a moto quanto em qualquer outra atividade, não é ter foco. A questão é tomar a decisão.

É como no exemplo do buraco, em que identificamos o obstáculo e temos duas opções: ou ficamos olhando para ele sem agir e entortamos uma roda ou agimos depois de ter assimilado a situação e desviamos.

No fim das contas, sabemos para onde temos que olhar. Precisamos de prática para tornar isso natural, mas não precisa de muita reflexão para sacar que cada um entende pra onde ir -fazer a curva, desviar do buraco, correr uma maratona, trocar de emprego, etc. A gente fura um pneu e/ou cai da moto quando vê o buraco, foca totalmente nele e não desvia. Não há diagnóstico bom que salve uma decisão negligenciada.

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Leonardo Ritta
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Para escrever bem, é preciso ter a coragem de escrever mal.