TODO DIA, DE DAVID LEVITHAN

Letícia Santos
Leticia Inside
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2 min readApr 13, 2018

Em Todo Dia acompanhamos a história de A, um ser que acorda todos os dias em um corpo diferente. Já acostumado com sua condição incomum, A tenta viver cada dia normalmente, seguindo sua regra de não interferir na vida daqueles que habita. Até que um dia acorda no corpo de Justin e se apaixona pela sua namorada, Rhiannon.

Antes de tudo, como a língua portuguesa não tem um pronome neutro, em alguns momentos devo tratar A por ele. Me desculpe por isso.

No começo eu estava um tanto cética. E fiquei um pouco decepcionada pelo simples motivo do romance começar já no primeiro capítulo. Queria ver um dia na vida de A antes de Rhiannon entrar nela. Talvez seja bobagem ou implicância com romances instantâneos, mas fazia sentido pra mim até então.

Porém, em determinado momento isso simplesmente parou de me incomodar, já que me vi envolvida na história de uma forma que há muito tempo não ficava. É incrível como é delicada, profunda e real. Um livro de fantasia pode ser surpreendentemente real.

“Queria que o amor conquistasse tudo. Mas o amor não conquista tudo. Ele não pode fazer nada sozinho. Ele depende de nós para conquistar em seu nome.”

A é um personagem bem construído e tem uma personalidade muito madura, afinal, já viu quase de tudo em seus 5.994 dias sendo outras pessoas. Inclusive, um dos momentos mais pesados e tristes da narrativa é quando A ocupa o corpo de uma pessoa em depressão. Um capítulo que me fez chorar bastante.

Há muitas questões sutilmente abordadas no livro e uma das principais é a questão de gênero. A não tem gênero. Hoje ele pode ser um menino negro, amanhã uma menina asiática. Cada corpo é só uma casca para A e, sendo assim, ele se vê livre das convenções da sociedade. Aqui, Levithan fala sobre como o amor deveria ser, independente de gênero, raça ou qualquer característica física.

Todo Dia é um romance, porém é mais do que isso. Trata de humanidade, de aceitação, do que faz as pessoas serem iguais e também tão diferentes.

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Letícia Santos
Leticia Inside

“Nothing ever ends poetically. It ends and we turn it into poetry. All that blood was never once beautiful. It was just red.”