Entre a Ira e a Misericórdia: análise semiótica do videoclipe “Simmer”, de Hayley Williams (2020)

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12 min readDec 31, 2020

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(Reprodução do trabalho final da disciplina “FLL0437 — Teoria e Análise de Textos: Semiótica Narrativa e Discursiva”. Elaborado por Raquel Guets, graduanda do curso de Letras (Português e Inglês) na Universidade de São Paulo; todos os direitos reservados à autora).

São poucos os estudos feitos a respeito do videoclipe enquanto uma produção artística proveniente do audiovisual que envolve artes cênicas, música, poesia e outras, sendo quase impossível limitar as possibilidades de um artifício que ganhou destaque na década de 1980 com a fundação da emissora estadunidense MTV (Music Television). Com os avanços da internet e das tecnologias de edição de vídeo, edição de imagem e das redes sociais, hoje é possível encontrar uma grande variedade de videoclipes que vão desde produções mais básicas, mostrando apenas um artista performando uma música single para divulgação comercial, ou uma super produção, como é o caso dos álbuns visuais. O videoclipe que destacamos para analisar neste trabalho está dentro deste segundo espectro. Dirigido pelo americano Warren Fu, famoso por trabalhar com artistas como Daft Punk e Depeche Mode, o videoclipe do single “Simmer”, estreia solo de Hayley Williams (vocalista na banda Paramore), faz parte da narrativa do álbum Petals For Armor e está inserido na trilogia de videoclipes pertencentes à Parte I do álbum. Como se trata de seu álbum de estreia solo, Hayley Williams faz do Petals For Armor um álbum de pop/rock experimental, recheado de referências como Björk, Sade, Fiona Apple, Radiohead, MPB e músicas que remetem aos anos 80, além de expôr a sua trajetória profissional (enquanto única mulher de destaque da cena emocore e pop punk dos anos 2000) e pessoal, ambas repletas de misoginia internalizada e externalizada (1). No Petals For Armor, que é dividido em três partes, Hayley pede perdão a si mesma. Cada faixa do álbum é relacionável a algum sentimento/paixão que perpassa o processo de auto-aceitação — e o single Simmer, que abre o álbum, é marcado pelo sentimento rage (“raiva”, em inglês).

O videoclipe se inicia com uma respiração ofegante, com a tela preta, e tem duas personagens: Wrath e Mercy. A primeira imagem do vídeo é de Hayley Williams nua (encarnada no personagem Mercy, “Misericórdia” em inglês), correndo por uma floresta escura, com seu cabelo metade loiro, metade castanho, com um som similar ao de um alarme. O foco da câmera fica dividido entre mostrar Mercy fugindo, e uma luz vermelha que persegue seus passos. Após exibir o nome da música e do videoclipe, temos outra Hayley (que estabelece um papel de “narradora”) que se mantém encostada a uma árvore, entre a luz branca e a luz vermelha, responsável por proferir as palavras contidas na canção e por nos contar a história que parece acontecer em seu interior (2). A luz vermelha segue procurando por Mercy, que tenta se esconder, segurando uma luz branca sobre seu peito, até encontrar uma casa aparentemente segura (que ela entra pela janela, pois a porta estava trancada). Lá, Mercy encontra um quarto onde, no chão, há um círculo de velas que iluminam uma cumbuca com lama. Mercy mergulha sua mão na lama e a passa por seu corpo nu, enquanto a luz vermelha consegue entrar na casa pela porta da frente. Dentro da casa, a luz vermelha se materializa em uma criatura grotesca, vestindo uma roupa preta e uma máscara em que os olhos são preenchidos por um cabelo liso, loiro e longo, simulando lágrimas compridas: trata-se da nossa segunda personagem, Wrath (“Ira”, em inglês) em sua forma “humana”. A criatura segue procurando por Mercy, que está à espreita esperando por ela; quando Wrath abre a porta do quarto onde Mercy estava, é surpreendida e golpeada por Mercy. Ao cair no chão, sua máscara voa para longe, e Mercy vê que ela e Wrath são a mesma pessoa.

Para iniciar a análise semiótica do videoclipe de Simmer, trataremos do nível fundamental, que “expõe a instância inicial do percurso gerativo, e procura explicar os aspectos mais abstratos do texto” (Bellomo-Souza, Gonçalves, dos Santos, Cinelli, 2018, p. 3). Os níveis mais abstratos da produção de sentido para o discurso (Fiorin, 2018) aqui podem ser direcionados pelos eixos semânticos de morte ↔ vida e ira ↔ misericórdia. Isso porque, nas cenas em que Mercy foge de Wrath, ela foge da morte, para impedir a sua extinção; há, inclusive, uma cena em que Mercy vê os ossos de um animal na floresta (cf. Anexos). A nudez de Mercy não simboliza conforto ou bem-estar com o próprio corpo, mas sim a sua fragilidade. Ela corre nua em uma floresta, fugindo de algo poderoso que está sempre à espreita (a raiva, impregnada em Wrath) e portanto está sempre perto de alcançá-la. O cenário escuro, em cores frias, também caracteriza a /morte/. As cores do cenário se tornam mais quentes quando Mercy está no interior da casa, no quarto; e a lama representa a capacidade de se moldar, de renascer, de se firmar. Tanto as cores quentes quanto a lama são elementos que fazem menção à /vida/. Desta maneira, podemos estabelecer que a Ira está dentro do espectro da /morte/, enquanto que a Misericórdia está dentro do espectro da /vida/. Da mesma maneira, a /ira/ é parte da luz vermelha, das cores escuras, das menções à /morte/ e da caracterização grotesca de Wrath. A /misericórdia/, por sua vez, é caracterizada pela luz branca, as velas e o “golpe de misericórdia” que acaba com a vida e o sofrimento de Wrath (seu próprio sofrimento).

Mercy, fugindo de Wrath, se inicia no percurso da /morte/, estando frágil e vulnerável enquanto é presa de Wrath; ao entrar dentro da casa e encontrar a lama, entra na implicação da /não-vida/ para se preencher de lama e renascer, retomando o percurso quando, coberta de lama, espreita Wrath procurando por ela e bola um plano para golpeá-la, culminando na /vida/. Da mesma maneira, no percurso ira ↔ misericórdia, no começo do videoclipe, Mercy se encontra no percurso da /não-ira/ (fugindo, sem enfrentar de frente Wrath), entra no percurso da /não-misericórdia/ (quando se molda pela lama e decide se armar para golpear Wrath), /ira/ quando a golpeia de fato e, por fim, /misericórdia/ quando a salva de si mesma e percebe que Wrath e ela são a mesma pessoa. O golpe de Mercy é uma contrariedade por si só pois o golpe, o ato violento, costumeiramente está dentro do espectro da violência, e portanto da ira; porém, é este ato violento que liberta tanto Wrath quanto Mercy para seguirem em direção à vida e à misericórdia. O “golpe de misericórdia” (mercy shot), que é dado em pessoas ou animais que sofrem com um ferimento profundo que agoniza, aqui, faz todo o sentido.

Wrath, por sua vez, segue pelo contrário de Mercy: inicia seu percurso na /morte/, caçando Mercy à mercê de sua paixão, entra na /não-morte/ quando se materializa na casa, tomando forma e estando em plena capacidade de cumprir com seu objetivo, e por fim de volta à /morte/ quando é golpeada por Mercy. Já no percurso ira ↔ misericórdia, Wrath permanece na sua paixão inicial /ira/ durante a maior parte da narrativa, com a sua visão vermelha que ilumina a tudo que seus olhos tocam, e passa pela /não-ira/ quando é surpreendida ao não encontrar Wrath no quarto, deparando-se apenas com as velas acesas e quando, ao final, é golpeada por trás, não completando perfeitamente o seu percurso.

Imagem: quadrado semiótico desenhado pela autora.

A história não tem personagem central se considerarmos que Wrath e Mercy são personas que vivem no interior de Hayley ou, melhor dizendo, são facetas de seu próprio ser. Por isso, a narrativa se constrói como uma guerra entre a Ira e a Misericórdia, onde ambas estão sem seu objeto de valor (a consumação da Ira ou a benevolência da Misericórdia ou, em outras palavras, a sobrevivência/vida de cada uma delas). Para transformar esse estado, Mercy encontra na lama uma forma de se armar (3) e se renovar, moldando sua mentalidade de benevolência e cedendo portanto um pouco ao sentimento de ira, para atacar Wrath e se salvar, retomando o seu estado de /vida/. Wrath, por outro lado, não cede em nenhum momento à benevolência e à retomada da /vida/. Quando se materializa e abre a porta do quarto, vê as velas sem a lama; a possibilidade de se modelar e alterar sua mentalidade foi negada — Mercy havia conseguido primeiro. Essas transformações de estado caracterizam o nível narrativo. Tanto Wrath quanto Mercy, no início do videoclipe, são sujeitos narrativos que estão em disjunção com o objeto de valor /vida/, que só será alcançado quando um derrotar o outro; essa impossibilidade de repartir o objeto de valor configura uma relação polêmica no programa narrativo de base.

Sendo assim, temos três planos narrativos: o primeiro, em que Mercy e Wrath estão no mesmo estado de disjunção com o objeto de valor /vida/; o segundo, em que Mercy adentra a casa e encontra a lama e a cumbuca, adquirindo a competência do saber, ao passo que Wrath, por chegar depois, não adquire essa competência; e o terceiro, quando Mercy adquire a competência do fazer, completando portanto sua performance ao assumir o querer-fazer, bolando um plano para atacar Wrath por trás, e entrando em conjunção com seu objeto-valor, a vida. Wrath, por outro lado, é tomada pela ira/raiva, que a cega (na sua máscara grotesca, por exemplo, os cabelos que se parecem com lágrimas compridas cegam-lhe os olhos) e portanto a impede de ver para além da sua paixão; não houve a competência de fazer, apenas a do querer, e ela prossegue em disjunção com seu objeto-valor.

Vale ressaltar, também, que Wrath é um sujeito-actante tomado por uma paixão, que faz com que ela não atinja o seu objeto-valor e realize a sua performance; essa constatação é importante pois está dentro da semiótica das paixões, em que a paixão da ira toma Wrath. Segundo Mello (2005), “as paixões podem ser definidas como modalizações do ser dos sujeitos de estados narrativos” (p. 49), sendo a ira uma paixão complexa que pressupõe a presença de um estado de espera e confiança que foi destruído a partir de um contato quebrado, levando a um estado de decepção, de insegurança e de malevolência que termina no estado de ira/rancor. Wrath é, portanto, resultado de uma sucessão de acontecimentos anteriores ao exposto na narrativa, e Mercy é o seu oposto, indo na contramão desses estados; trata-se da oposição entre o sujeito e o anti-sujeito. Por isso a canção repete tantas vezes a pergunta fundamental do refrão (4), crucial para a narrativa e que é simbolizada em vários momentos do videoclipe (cf. Anexos).

Mello (2005, p. 62), citando Barros (1990), continua, dizendo que “(…) o não poder fazer aponta para a perda total de confiança. (…) Este último ‘estado de alma’ pode levar o sujeito a outros estados passionais” que, neste caso, pode ser a vingança. Wrath não adquiriu a competência de poder-fazer. A sua vingança, isto é, a sua consumação em detrimento da Misericórdia, foi paralisada no querer-fazer. Com Wrath sendo o sujeito, neste caso, Mercy é colocada como anti-sujeito por não tê-la protegido de ser ferida antes (5); ao proferir estes versos, logo em seguida assume-se a paixão do sujeito Wrath, a ira (6). O sujeito irado dificilmente consegue agir para além de sua paixão, dificilmente consegue se acalmar (7) para agir com clemência e prudência; eis aqui o motivo de Wrath não concluir a sua transformação de estado. Depois de Mercy realizar sua performance, por meio dos objetos modais essenciais a esta, há a sanção por um destinador julgador. Nesse caso, a sanção é positiva, pois Mercy conclui o seu objetivo (manter-se viva e estabelecer o limite entre a ira e a misericórdia), e há também a sanção da mentira, uma vez que Wrath e Mercy parecem sujeitos diferentes, mas não o são: elas compartilham do mesmo corpo e interior. São faces de uma mesma pessoa, afinal.

Por fim, a última etapa do percurso gerativo é o do nível discursivo. Segundo Barros (2005, p. 15), “as estruturas discursivas devem ser examinadas do ponto de vista das relações que se instauram entre a instância da enunciação (…) e o texto-enunciado”. A nível da letra da música, está a figurativização da presença de verbos conjugados em primeira pessoa e pronomes possessivos (8); há também a expressão de um sentimento, a raiva; relata-se atos que geralmente fazemos quando buscamos manter a calma (Make it to ten, “contar até dez”) pressupondo uma racionalidade do sujeito e uma subjetividade da narrativa. A nível do videoclipe, os recursos discursivos são a vulnerabilidade exposta de uma mulher correndo nua pela floresta (Mercy), seu desespero durante a fuga representado pelas expressões de medo e os suspiros no início do videoclipe, o objeto “casa” como um local seguro, velas e um recipiente com lama, sendo recursos “sobrenaturais” (consideremos assim) os elementos característicos da personagem Wrath, que tem uma aparência grotesca e enxerga o mundo com um filtro vermelho-vivo.

Vemos em Simmer, também, um percurso temático da vitória de Mercy sobre Wrath, que responde a pergunta do refrão da canção, como exposto anteriormente. “O misericordioso faz o bem para a sua própria alma, mas o que é cruel, aflige a própria carne”, como dita Provérbios 11:17, tematiza também a guerra entre ira e misericórdia que polemiza o ato do golpe mortal que, figurativamente efetuado por Mercy, acaba com o sofrimento de Wrath e garante-lhe a sua própria vida; mas, se fosse efetuado figurativamente por Wrath, traria morte e destruição. De modo contrário, há a tematização da morte de Wrath em seu percurso, caracterizado figurativamente pela luz vermelha, suas roupas escuras e aparência grotesca, além do próprio ato de caça e expressões sombrias, ao passo que Mercy é caracterizada pelo seu corpo nu, branco, com a expressões genuínas de medo, afabilidade e bravura (9). Na sanção de Mercy, que é positiva, ao invés de aparecer uma expressão de alívio e alegria, aparece a figura da surpresa e do choque ao perceber que ela acaba de golpear ela própria, tematizando o seu renascimento, sendo portanto dual e contraditória. A figura do choque na expressão de Mercy, portanto, pode também se dar por essa descoberta. A isotopia semântica entre os temas e as figuras que recobrem a narrativa e perpassam as personagens são o que conferem a coerência discursiva.

No plano de expressão, o jogo de luzes do videoclipe, que passa por um primeiro plano da escuridão quando na floresta e no andar térreo da casa e, depois, para um plano da luz quando no quarto com as velas, também demonstra um movimento compreensivo entre escuridão ➡ luz, no plano de expressão. Além disso, da mesma maneira que o videoclipe presenteia o público com uma surpresa e várias interrogações em sua conclusão, o mesmo ocorre na música, que por sua característica de single tem de ser mais repetitiva para cativar os ouvintes, sem dar uma resposta para como definir um limite entre a ira e a misericórdia além de “contar até dez”, “se acalmar” e “envolver-se em pétalas para se proteger”, fazendo menção ao álbum Petals For Armor. O simbolismo das pétalas, da lama/terra e do corpo feminino nu também fazem menção à feminilidade, ainda mais se considerarmos que estes são símbolos tipicamente atribuídos ao sexo feminino, diferente da raiva, da ira e da misericórdia, atribuídos geralmente aos heróis, seres-masculinos. Desta maneira, o plano de expressão se concretiza nos eixos escuridão ➡ luz e na redescoberta da feminilidade como fonte de bravura e força no eixo fragilidade ➡ solidez, no processo de auto-aceitação como propõe o projeto Petals For Armor.

Notas de rodapé

1. Um dos maiores hits da banda Paramore é a canção Misery Business, que tematiza a rivalidade feminina na disputa por um homem.
2. Ela abre a música com as palavras Rage is a quiet thing/You think that you’ve tamed it/But it’s just lying in wait — “A raiva é algo silencioso/Você pensa que a domou/Mas ela está à espreita”.
3. Wrap yourself in Petals for Armor — “Envolva-se em pétalas para se proteger”.
4. How to draw the line between Wrath and Mercy? (“Como separar a Ira da Misericórdia?”).
5. É o que Hayley canta nos versos If I had seen my reflection/As something more precious/He would’ve never — “Se eu visse meu reflexo/Como algo mais precioso/Ele nunca teria…”).
6. Mmm, and if my child/Needed protection/From a fucker like that man/I’d sooner gut him — “Mmm, e se minha criança/Precisasse de proteção/De um filho da puta como aquele homem/Eu o teria dilacerado imediatamente”.
7. Simmer down, como propõe a letra da música que acompanha o videoclipe. Simmer significa “cozinhar em fogo brando”; quando aplicado o phrasal verb, como em simmer down, ganha esse sentido de “se acalmar”.
8. Como nos versos Feel it in my face when, when I least expect it (“Sinto-a em meu rosto quando eu menos espero”), If I had seen my reflection (“Se eu visse meu reflexo”), And if my child needed protection (“E se minha criança precisasse de proteção”), I’d sooner gut him (“Eu o teria dilacerado imediatamente”).
9. O cabelo de Mercy, é importante frisar, é loiro na parte da frente e escuro na parte de trás, demonstrando essa dualidade da misericórdia que pode ser boa e ruim ao mesmo tempo (que dá e tira a vida).

Referências bibliográficas

BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. Ed. Ática, 1999.

BELLOMO-SOUZA, Ana Paula; GONÇALVES, Luana Bortoletto; SANTOS, Flávio Anthero Nunes Vianna dos.; CINELLI, Milton José. Percurso gerativo do sentido: uma análise do selo comemorativo do centenário do nascimento de Luiz Gonzaga e da composição “Asa Branca” (1947). Anais do XI Seminário “Leituras de Imagens para a educação: Múltiplas mídias”. 2018.

DE MELLO, Luiz Carlos Migliozzi Ferreira. Sobre a semiótica das paixões. Signum: Estudos da Linguagem, v. 8, n. 2, p. 47–64, 2005.

FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. Contexto, 2001.

FU, Warren. SIMMER. Tennessee: Partizan Entertainment, 2020. Disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=8lSj5k2K7w0. Acessado em 22/12/2020.

PIETROFORTE, Antonio Vicente. Pequena Introdução à semiótica. In: Semiótica Visual: os percursos do olhar. São Paulo: Contexto, 2004.

WILLIAMS, Hayley; YORK, Taylor; HOWARD, Joey. SIMMER. Nashville: Atlantic Records, 2020. 04 minutos e 24 segundos.

Anexos

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“perdida no inferno abrasador de um canyon uma mulher luta desesperadamente pela vida”.