Legal Design Sprint — Na prática

Lex Design
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3 min readSep 9, 2019

O universo jurídico, assim como todas as demais áreas das ciências e da sociedade, passa por profundas transformações. Hoje dentro do Direito muito se fala sobre inteligência artificial, blockchain, jurimetria e outras ferramentas para otimizar e melhorar o trabalho dos seus operadores. O legal design é mais um desses termos que vem ganhando espaço no novo vocabulário jurídico.

Muitos artigos e publicações na internet já conceituaram ou tentaram explicar o que é legal design, razão pela qual deixaremos essa discussão para pesquisas individuais. Pretendemos, aqui, demonstrar a aplicação prática desta ferramenta que surge como forma de resolver problemas no mundo jurídico.

No primeiro semestre deste ano organizamos o primeiro Legal Design Sprint do Brasil para mapear dores e encontrar inovações na Justiça do Tralho.

A metodologia por nós desenvolvida teve como norte os conceitos do design thinking mesclados com ferramentas ágeis, ambos aplicados através das etapas do design sprint. Os participantes foram selecionados a partir de suas atribuições profissionais e refletiram os principais agentes atuantes dentro do ambiente judicial trabalhista.

Durante os 4 encontros iniciais ocorridos durante o mês de fevereiro, 30 participantes se dividiram em grupos para mapear suas principais dores. Juízes, dirigentes sindicais, representantes de grandes empresas, advogados de reclamantes, advogados de reclamadas, membros da OAB e do Ministério Público do Trabalho passaram por várias etapas de reflexão, exercícios e discussão sobre quais eram as principais dificuldades enfrentadas em suas áreas de atuação.

A primeira etapa foi a construção da jornada do usuário de cada grupo, suas ações, necessidades, sentimentos, objetivos e responsabilidades. Os participantes, então, criaram uma linha de sensações para toda a jornada. Frustração e desolação foram alguns dos sentimentos exprimidos. Aprofundando estes sentimentos nos grupos, pudemos entender melhor as percepções de cada usuário com a justiça e como ele se comporta em cada momento da jornada.

Jornada do usuário de um dos grupos de trabalho

Em seguida, mergulhamos nas histórias, casos e reflexões para posterior clusterização e priorização das dores. As discussões se estenderam por mais de 2 dias até chegarmos nos principais painpoints de cada grupo. O grupo de advogados, por exemplo, elencou como principal dor a falta de respeito do Judiciário com sua atuação profissional. Os constantes atrasos em audiências foram apontados como umas das principais razões da falta de respeito. Também foi muito pontuada a falta de uniformização de procedimentos nas varas, onde cada cartório judicial atua de maneira diferente sem que haja, no mínimo, publicidade destes procedimentos para os advogados terem conhecimento prévio do entendimento de cada cartório.

A etapa mais importante do processo de design é a empatia e, para conseguir que todos os participantes pudessem se sentir parte da jornada sem qualquer viés ou sentimento de corporativismo, alinhamos novamente os participantes e aplicamos ferramentas de empatia sobre as dores elencadas. Assim, os juízes ouviram as dores dos advogados, que ouviram as dores dos sindicatos, que ouviram as dores das empresas, que ouviram as dores dos procuradores, que ouviram as dores dos juízes. Cada grupo, então, passou a pensar em hipóteses de soluções para a dor do outro grupo, retirando, também, o direcionamento do usuário em cada hipótese.

Juiz, advogado, sindicado e empresa trabalhando juntos

Com esse ambiente, tivemos um grupo totalmente colaborativo formado por um juiz, um advogado, um procurador, uma empresa e um sindicato pensando juntos como resolver determinado problema.

Quando as pessoas estão despidas de suas armaduras profissionais e se enxergam simplesmente como seres humanos imbuídos de um objetivo comum, as divergências se transformam em convergências, os conflitos em soluções, os muros em pontes.

E, assim, com esta mentalidade incorporada a todos os 30 participantes, concluímos a primeira etapa do Legal Design Sprint aplicado à Justiça do Trabalho com 5 hipóteses de soluções para os principais problemas de cada grupo.

Na etapa seguinte durante outros 4 encontros no mês de maio, aprofundamos nas hipóteses de soluções e prototipamos modelos práticos que pudessem resolver as dores levantadas. Compartilharemos mais nos próximos dias.

Depoimentos dos participantes do Legal Design Sprint (1a etapa)

Quer saber mais como mapear suas dores? Não tem dores? Tem muitas e não sabe como priorizar? Mande-nos um email para batermos um papo no rafael@lexdesign.io

Vamos juntos #reinventarodireito

Guilherme Leonel & Rafael Cerávolo são advogados, legal designers e fundadores da Lex Design.

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