Brasil, Meca do anarco-capitalismo liberotário

Post original abaixo publicado por Fernando de Gonçalves. Republicamos o post para que seja possível compreender o dialogo feito pela página em posts seguintes.

Liberais Antilibertários
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6 min readMay 1, 2020

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Brasil, Meca do anarco-capitalismo liberotário.

Ao contrário do resto do mundo, temos nos especializado em trazer para o debate público um lixo intelectual chamado de “anarcocapitalismo”, ou libertarianismo, advindo do Deep South dos EUA (não das prestigiosas universidades, mas de Think Tanks ideologicamente duvidosas). Geralmente, os adeptos dessa teoria, que se espalham do MBL aos institutos liberais, acreditam que lêem a “verdadeira” economia, enquanto tudo que se lê lá fora, inclusive prêmios Nobel, é “lixo socialista”. Abaixo, faço uma comparação, a partir do interesse na internet brasileira e mundial, entre:

1) Von Mises, autor de uma teoria fringe considerada por 99% dos economistas como pseudociência, vs Friedman, o monetarista pai do moderno liberalismo econômico. Friedman, claramente situado na direita, já foi chamado de socialista pelo site do Instituto von Mises (que muitos libertários consideram uma fonte séria).

2) Rothbard, o segundo na hierarquia dos libertários brasileiros, aquele que dissertava sobre a moralidade de matar crianças de fome, com Samuelson, um economista neoclássico, fundamental para a moderna teoria econômica, e que foi o primeiro americano a ganhar um Nobel na área (aposto que você nunca ouviu falar nele).

3) Hoppe, considerado pelos mesmos abobados o maior pensador vivo (aquele dos gulags privados para “degenerados”) com Amartya Sen, Nobel de 98, cujas análises fundamentam toda a economia do desenvolvimento moderna.

Note que, em todos os casos, o Brasil está na contramão do mundo. Aqui, levamos à sério autores considerados “fora da casinha” alhures. E os “liberais” ainda falam em “escola sem partido” (claro, sonham em substituir uma visão deturpada por outra tão ruim quanto, a deles). Ao contrário do que diz um dirigente do PSL/Livres, que criou o bordão “Mais Mises”, tudo que a gente precisa, no momento, é de menos Mises. Precisamos é de leituras sérias.

Fonte: https://www.facebook.com/fdegoncalves/posts/1719599734738570?__tn__=K-R

Os “institutos austríacos” fizeram um trabalho impressionante na internet brasileira.

Uma coisa todo mundo tem que admitir: Os “institutos austríacos” fizeram um trabalho impressionante na internet brasileira.

Fomos dar uma olhada no Google Trends agora e ficamos em choque: Aqui, destoando do restante do mundo, se pesquisa mais sobre Mises do que sobre Adam Smith e Stuart Mill, considerados os pais do liberalismo clássico.

Como se não fosse esquisito o suficiente, aqui também se pesquisa mais sobre Murray Rothbard (austríaco que inventou o que conhecemos como “anarcocapitalismo”) que por David Ricardo, outro nome de peso do liberalismo clássico, pai da teoria das vantagens comparativas.

Isso não é bizarro?

Inspirado na postagem do comunista monarquista de livre mercado Fernando de Gonçalves.

~supremo

Publicado originalmente em:
https://www.facebook.com/liberaisantilibertarios/photos/a.1848965648758517.1073741828.1848712145450534/1941448882843526/?type=3&__tn__=-UK-R

20 de novembro de 2017.

Encerrando a série

Dando continuidade ao post do supremo, que por sua vez foi inspirado no do Fernando de Gonçalves, dei uma olhada um pouco mais aprofundada no Google Trends para tirar algumas conclusões acerca do movimento libertário no Brasil. A conclusão é que a coisa aqui é grave mesmo. O libertarianismo definitivamente fincou raízes por aqui.

O Google Trends fornece um ranking dos países em forma de índice, em que o país com mais procuras recebe o valor de 100 [1]. Para a tríade Mises-Rothbard-Hoppe (os três pensadores favoritos dos libertários [2]), é o Brasil que recebe o valor 100: isto é, este é o país onde esses nomes são os mais pesquisados no mundo. Coloquei essa informação no primeiro quadro da imagem abaixo, juntamente com as informações de quais são os países que vem logo atrás do Brasil e, entre parênteses, o valor de seus respectivos índices, juntamente com a mediana dos índices dos países do ranking [3].

Algum otimista poderia dizer que isso não representa um interesse pelo libertarianismo, mas sim pela economia em geral. O povo brasileiro teria, enfim, começado a se interessar por temas mais importantes do que futebol, e na esteira de toda a recente turbulência política teria emergido um povo alfabetizado economicamente, na vanguarda intelectual do mundo. O interesse pela tríade sagrada libertária seria então apenas um efeito colateral disso.

Pena que não. Pesquisei o interesse brasileiro por três economistas ortodoxos extremamente influentes, e o resultado, colocado no segundo quadro, foi decepcionante. Adicionei ao valor do índice brasileiro o percentil em que este país se encontra, começando do país com menos pesquisas do respectivo economista. Isso quer dizer que se transformássemos o ranking disponível em um ranking de 100 países, o interesse do Brasil pelo Samuelson ficaria acima de apenas 11 países, pelo Acemoglu, acima de 8, e pelo Mankiw, acima de 61.

Não seria esse interesse pela tríade sagrada o resultado do interesse pelo liberalismo de uma forma difusa? Bom, pode até ser que o interesse pelo liberalismo seja cada vez maior no Brasil, mas o interesse pelo libertarianismo em específico é desproporcionalmente alto — o que indica que é um interesse à parte do liberalismo e com vida própria. Isso pode ser observado no terceiro quadro da imagem. O Brasil está longe de ter um interesse relativo aos demais países tão desproporcional pelo liberalismo quanto pelo libertarianismo. Pode-se verificar isso ao se fazer uma pesquisa para três economistas liberais altamente respeitados. Friedman está meramente no 65º percentil, Hayek no 67º (o que é surpreendente, dado o interesse intenso na Escola Austríaca que há no país) e Becker no 30º.

O que tudo isso indica é que essa página é mais do que necessária. Precisa-se, com veemência, combater o obscurantismo e a pseudociência representada pelo libertarianismo e pela praxeologia, com o risco de que a aderência cada vez maior dos jovens incautos a essas ideologias empobreça intelectualmente o liberalismo como um todo e expulse mentes lúcidas e inteligentes do nosso lado.

~ Tomas Heckman.

[1] O índice é ponderado pelo volume total do uso da ferramenta de busca do Google no país. Isso inibe países mais populosos e/ou com maior acesso à internet de terem vantagem no ranking.

[2] Pode-se dizer que Mises não era um libertário, dependendo da definição de libertário, pois era minarquista. Bom, mesmo não sendo um, ele é louvado pelos libertários por ter criado a teoria econômica ultrapassada em que eles se apegam para justificar suas crenças malucas, a praxeologia.

[3] O índice do 2º colocado dá uma noção do quão o Brasil está distante de todos os outros países do mundo. Ele mostra que o Rothbard é um total outlier no Brasil, já que o segundo onde esse nome é mais pesquisado, a Polônia, tem um valor de apenas 54, quase metade do Brasil. Já a mediana nos dá uma noção do quão o Brasil está distante do mundo como um todo. A mediana do Mises é 11, enquanto que do Hoppe é 24. Isso quer dizer que a desproporção ao relação ao resto do mundo com que se pesquisa o nome do Mises no Brasil é maior do que do Hoppe, apesar dos dois estarem em primeiro.

Publicado originalmente em:
https://www.facebook.com/liberaisantilibertarios/posts/1945496669105414

27 de novembro de 2017.

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