Ciro Gomes, pai do Real?

Liberais Antilibertários
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3 min readAug 12, 2020

Apesar de sua cronologia controversa, o lançamento do Plano Real tem aniversário, como eu e você: o dia 27 de fevereiro de 1994, com a MP 434. Antes disso, o governo Itamar, que demitira três Ministros da Fazenda entre outubro de 1992 e maio de 1993, havia fracassado monumentalmente no controle da inflação, que se aproximava perigosamente da máxima histórica de 1990, e não havia motivos para achar que o sexto plano econômico em menos de dez anos seria mais bem-sucedido que os anteriores.

Ainda em 1993 FHC, novo titular da Fazenda e fez o mais difícil, que é a função fundamental de todo ministro competente: montou e liderou a equipe que criou e implementou o Plano Real. Como a ciência política nos ensina, um bom ministro não precisa ser necessariamente versado no assunto que irá dirigir, embora isto ajude, mas caso sua equipe não seja competente, sua gestão dificilmente dará certo. Este não foi, contudo, o único feito de FHC. Itamar era uma figura conhecidamente confusa e esbregue e bancar o projeto mostrou-se extremamente difícil. A oposição não vinha apenas do Congresso como um todo, mas também do próprio partido do Ministro. A população olhava o projeto com legítima desconfiança. Apenas a liderança do futuro presidente foi capaz de fazer o projeto ir para frente.

Todas as medidas relevantes, como desindexação, a criação da URV, a âncora cambial e o Fundo Social de Emergência foram criadas formalmente na primeira metade de 1994. Antes, algumas medidas relevantes não diretamente vinculadas ao Plano, como o Plano de Ação Imediata (PAI) já estavam funcionando. Mesmo ao deixar o cargo do Ministro da Fazenda, FHC permaneceu importante, bancando os próximos passos do projeto para o mundo político e para a população, como a reforma monetária que criou o Real em julho. Nos anos seguintes, o Real necessitaria de ajustes na parte fiscal, que foram feitos pelo novo presidente. A inflação da nova moeda ficou abaixo dos dois dígitos em julho dr 1994, enquanto a do Cruzeiro real, sua “moeda concorrente”, passou dos 40%.

E o Ciro? Ele foi o terceiro ministro a comandar a Pasta da Fazenda durante o Plano (depois do FHC teve o Ricupero), quando não apenas as principais medidas já estavam sendo praticadas, como também os efeitos já eram sentidos. Entrou numa época em que o Brasil e os políticos estavam preocupados com a eleição. Sua medida mais relevante nos míseros quatro meses que ficou no cargo foi diminuir as tarifas incidentes sobre carros importados, de 35% para 20% (irônico ao vermos o discurso cirista atual). Seu mérito na elaboração e condução do plano e nada é a mesma coisa.

Ah, mas o Itamar disse X, Y e Z.

Em 1994, com o Plano já pronto e prestes a ser lançado, Itamar exigiu algumas mudanças pouco fundamentadas. FHC ameaçou renunciar caso isto ocorresse. Esse tipo de evento demonstra que o Itamar, mesmo tendo seus méritos, simplesmente não sabia o que estava acontecendo na época, e isso nunca foi exigido dele. A melhor forma de verificar quem fez mais pelo plano, isto é, ver quando as medidas foram aprovadas e quando elas começaram a fazer efeito, deixa claro que a melhora antecede o mandato de tampão do Ciro. Nenhuma medida relevante foi implantada no período em que ele foi ministro. A história lembrará dele como a figura menor que realmente é.

A conclusão é bastante óbvia. Falar que o Ciro foi relevante para o Plano Real (ou mesmo o pai do Plano) só pode ser coisa de cirete.

~Funça

Publicado originalmente em 21 de junho de 2020:
https://www.facebook.com/liberaisantilibertarios/posts/2645991222389285

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