É proibido opinar!
Como a intolerância insiste em intimidar a liberdade de expressão
Dia desses estava conversando com um amigo e nós comentávamos como está chato emitir qualquer tipo de opinião no Brasil ultimamente. Especialmente nas redes sociais, onde todo mundo se acha no direito de criticar por criticar, jogar na cara do outro que está certo, deturpar informações, enfim… Infelizmente, pra muita gente, a liberdade que a internet propicia faz com que se sintam no direito de fugir ao respeito pela opinião alheia.
O assunto veio à tona quando a gente falava sobre a rotulação que existe quando você lança algum argumento que possa favorecer um lado ou outro, mesmo que essa não seja sua vontade. Neste caso, o papo era sobre política. Por exemplo, se em algum momento você reconhecer algum feito dos governos Lula/Dilma, automaticamente já é considerado petista. Se criticar, é tucano. Não existe meio termo. Para muita gente, é inconcebível o fato de ter uma opinião ampla, analisando os dois lados da moeda. Se você não escolhe um lado, é rotulado.
E eu não consigo entender isso.
Outro fator que torna a situação ainda mais chata é a onda do politicamente correto, que tanto ganhou destaque no Brasil últimos anos. Este ponto foge dos debates na internet e se estende ao humor, ao futebol, à dramaturgia, por aí. O que era comum e, digamos, normal e aceitável por volta dos anos 80, 90, hoje em dia foi contaminado pelo mimimi. Lógico, existem assuntos que são bem particulares e não deveriam nem ser colocados na roda, como discursos de ódio. Mas muitos são os casos de que interpretações puristas e até opressoras (é, quem diria, opressão!) prejudicam conteúdos.
Recentemente, por exemplo, Vanderlei Luxemburgo, treinador do Flamengo, deu a seguinte declaração em uma entrevista quando foi questionado sobre a limitação de jogadores inscritos no campeonato carioca:
Tem que dar porrada na federação. Vou impedir o Bressan de ser convocado para a seleção olímpica? A federação só quer que tenha cinco amadores (juniores) inscritos. Tenho o Leonardo. O trabalho do Flamengo na base está excelente. Não temos quatro, temos cinco zagueiros. Um convocado (Bressan), o Samir está lesionado e o Wallace, suspenso. Temos 23 jogadores, mais quatro a sete do departamento amador. Aí acontece tudo para que a gente possa buscar no departamento amador. Hoje tenho o Sávio, Baggio, Jorge e Jajá. Não poderia pegar um zagueiro também? Não, porque só podem cinco inscritos dos juniores, e já tinha o Daniel como terceiro goleiro. O culpado sou eu ou o futebol está feito de maneira equivocada? O que posso falar?”
Coloquei aqui a declaração completa justamente para que o conteúdo não seja deturpado mais uma vez e haja uma compreensão ampla. A opinião do técnico foi em referência a críticas que deveriam ser feitas a Federação Carioca de Futebol. Porém, ele foi SUSPENSO por dois jogos pelo Tribunal de Justiça Desportiva, como se estivesse incitando a violência ao usar o termo “porrada”. Piada, né? O mesmo aconteceu com o jogador Fred, pelo mesmo motivo. Logo o futebol, conhecido por sua irreverência, passando por isso. Faz com que as declarações percam a espontaneidade e se tornem cada vez mais mecânicas.
E vários casos são exemplos desse momento incômodo que vivemos quando se trata de liberdade de expressão. Humoristas que são “censurados”, extremistas que polemizam e atacam desnecessariamente…
O assunto é complexo, tanto que nesse texto saiu do online para o offline em um pulo, mas a raiz do problema é a mesma: intolerância. Não se admite uma ideia contrária, assim como parece não ser possível, na maioria das vezes, estabelecer um debate produtivo e respeitoso. Resta a esperança para que, um dia, seja viável trocar argumentos sem ferir o outro.
É necessário valorizar a pluralidade de conceitos. É importante saber conviver com as disparidades e controvérsias. É saudável ver um post no Facebook, não concordar, mas guardar sua resposta rancorosa pra si.
Assim, todo mundo evolui e o ciclo da informação se renova.
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