Foto: Roberto Parizotti

O salário mínimo prejudica o pobre

Sérgio Schüler
Libertarianismo Brasil
4 min readJun 18, 2015

--

O salário mínimo foi criado com a maior das boas intenções, mas prejudica aqueles que deveria ajudar: os com pouca educação e jovens com pouca experiência.

Por que organizações pagam mais do que o salário mínimo para alguém? Certamente a empresa teria mais lucro se pagasse apenas o mínimo a todos os funcionários. Se o que ouvimos for verdade, que empresários são gananciosos exploradores, por que estes decidem pagar mais do que o mínimo por lei para qualquer pessoa? A resposta é simples: o trabalho das pessoas que recebem mais é considerado mais valioso para a organização do que o salário mínimo.

E daí? Mesmo que o trabalho gere mais valor, o empresário poderia decidir pagar menos, não? Não, porque das duas uma: ou você paga mais para o funcionário cujo trabalho gera mais valor ou ele vai para outra empresa, que o atrairá com um, rúfem os tambores, salário mais alto.

A escolha é simples, ou a organização paga ou fica sem aquele trabalho ser feito.

Portanto aqueles com conhecimento técnico especializado, aqueles trabalhadores cuja mão de obra é escassa, não são impactados pelo salário mínimo. Para um cirurgião ou engenheiro o salário mínimo não importa. Agora para aquela pessoa com baixa educação e sem habilidades escassas, o aumento do salário mínimo pode significar a diferença entre ter ou não um emprego.

Como o salário mínimo prejudica o pobre

O salário mínimo é como uma escada. Cada vez que se aumenta o salário mínimo, mais alto fica o primeiro degrau desta escada. Aqueles com as pernas longas (os com habilidades escassas valorizadas) não têm problema algum em subir este primeiro degrau, porém aqueles com pernas mais curtas (sem habilidades escassas valorizadas), podem não conseguir subir nunca se o degrau for alto demais.

Se o salário mínimo for aumentado para R$ 2.000, todas aquelas pessoas cujo trabalho, para a empresa, tenha um retorno menor do que R$ 2.000 serão demitidas ou não serão contratadas (valor < custo = prejuízo). Se um morador de rua passar na sua casa e disser “eu cuidarei do seu jardim o mês inteiro se você me der R$ 100 por mês”, você não pode aceitar, pois estará cometendo um crime ao pagar menos do que o salário mínimo (e será facilmente processado na justiça do trabalho depois). Para você, é provável que o seu jardim e a boa ação ao morador de rua valha menos do que R$ 788 (valor do salário mínimo nacional atual), logo este morador de rua vai ficar sem receber nada ao invés dos R$ 100 que você poderia pagar. O morador de rua está melhor sem receber nada? Com as habilidades dele, será que ele tem alguma chance de algum dia ser empregado pelo salário mínimo?

Ainda que o exemplo do morador de rua seja extremo, é exatamente o que ocorre em qualquer relação empregador-empregado. Se o trabalho gera menos valor para a empresa do que o seu custo, o trabalho deixará de ser feito (ou será feito por menos pessoas). O resultado desta política é que aqueles com emprego podem até ganhar um pouco mais graças ao salário mínimo, porém quanto mais alto ele for, mais pessoas com baixa habilidade ficarão desempregadas.

Outro efeito do aumento do salário mínimo: preços mais altos

Se o custo da mão-de-obra sobe acima do valor que gera, o empresário tem duas alternativas: demitir para reduzir os custos ou subir os preços, para receber mais valor em troca dos custos que tem. Logo, quando não gera demissões e redução em contratações, obrigatoriamente o aumento do salário mínimo aumenta os preços.

Adivinha quem são os mais prejudicados pelo aumento dos preços? Bingo, novamente os mais pobres.

Mas na Noruega faxineiros recebem tão bem que podem tirar férias dando a volta ao mundo

Essa frase não está apenas correta, ela é verídica: quando eu morei na Noruega, o cara que limpava o chão do escritório em que eu trabalhava ganhava tão bem que nas últimas férias ele tinha dado a volta ao mundo. Ele ganhava mais que eu (que trabalhava como diretor em uma organização não-governamental).

A-HÁ! Essa é uma prova de que trabalhadores com baixas habilidades podem sim receber salários dignos!

Sim, mas infelizmente não do jeito que você está pensando.

O que ocorre na Noruega é simples: escassez de mão-de-obra. Existem menos pessoas dispostas a limpar o chão na Noruega do que existem empresas norueguesas que precisam ter o chão limpo. Logo o preço desta mão-de-obra sobe. Essas pessoas recebem mais não por que os empresários noruegueses são bonzinhos ou por que o salário mínimo obriga a pagar mais (a Noruega não tem salário mínimo), mas pelo simples princípio da oferta e demanda: quando há mais demanda que oferta, os preços sobem. O caso da mão-de-obra sem qualificação no Brasil é exatamente o oposto: há muita gente disposta a assumir estes trabalhos braçais que não exigem muita habilidade, logo o preço deste trabalho cai.

Agora adivinha quem paga o preço deste alto custo de mão-de-obra na Noruega? O consumidor. Qualquer coisa que envolva atendimento humano na Noruega é muito mais caro do que algo que sai de uma máquina.

Mais uma vez, adivinha quem são os mais prejudicados pelos altos preços das mercadorias?

Achou o texto relevante? Então clique no botão Recommend, logo abaixo. Fazendo isso, você ajuda esta história a ser encontrada por mais pessoas.

Leia também:

--

--

Sérgio Schüler
Libertarianismo Brasil

11 years experience in product led B2B and B2C SaaS and marketplaces.