Como o novo normal impactará a transformação digital das indústrias

Elton Conceicao
Liderança Digital
Published in
6 min readMay 18, 2020
Foto de fauxels

Recentemente comentei nesse canal sobre como as empresas, que vinham em uma jornada de transformação digital, estão de alguma forma lidando melhor com a situação atual. Outras “aceleraram” esse processo. Vimos o caso da Via Varejo que consegue manter 70% do faturamento pré COVID-19, com aumento das vendas on-line, especialmente pelo whatsapp. Vemos outras muitas empresas falando que realizaram seu movimento de transformação digital em 15 dias, mas será que isso é verdade? Não desmerecendo o que foi feito, pois é um grande avanço para muitas organizações. Conseguir mobilizar todo o time para trabalhar remotamente, ativar canais digitais, descentralizar estoques são iniciativas relevantes, mas representam somente uma pequena parte da transformação digital. A digitalização de processos.

Esse movimento é muito mais amplo e complexo, e tem como grandes pilares pessoas através da mudança de cultura, processos mais ágeis e enxutos, e tecnologias escaláveis e conectáveis. Por definição, representa a transição de plataformas, produtos e workflows inflexíveis, para uma jornada “permanentemente ágil”. Vem em função de como as relações no mundo atual acontecem de forma muito dinâmica e volátil. A transformação digital pode iniciar de várias formas. Empresas mais tradicionais começam pelo ganho de eficiência através da digitalização. Outras focam na experiência do cliente. Mas na prática esse movimento só é aplicado na íntegra, quando envolve toda a organização e feita pelos motivos certos. O que precisam em sua causa raiz é responder mais rápido as mudanças do mercado e do ambiente. Um termo que ouvi e achei muito interessante, dito pelo Silvio Meira é “Aprender em velocidade de crise”.

É ter uma mudança cultural focada em escassez e mais aberta a entender a competição e o consumidor.

Nada mais propício que o cenário atual para uma jornada de transformação acelerada. Ainda antes da pandemia do COVID-19 chegar ao Brasil, vi esse gráfico que mostra o grau de dependência de produtos semi-acabados dos demais países perante a China.

Foto de Bloomberg

Isso implicou que em determinado momento no lockdown com fronteiras fechadas, empresas não recebessem seus insumos, emperrando seu processo fabril e acarretando em consumidores não recebendo boa parte de seus produtos. Isso vem acontecendo em diversos países. Como a China chegou a esse domínio na produção mundial? Inicialmente a mão de obra, extremamente barata de um país que detém mais ou menos 20% da população mundial, chamou a atenção de muitas empresas para o baixo custo de produção. Esse movimento só se elevou, quando o investimento massivo em tecnologia e automatização deixou o jogo ainda menos competitivo com outras nações. Ano passado estive no LiveWorx tech conference em Boston, onde um dos palestrantes citou que os Estados Unidos estão muito atrás da China em sua capacidade de automação e produção. Agora imaginem o gap tecnológico do Brasil? Cabe aos empresários repensarem seu modelo de negócio. Manter sua cadeia de suprimentos a um custo baixo, porém longe fisicamente e a mercê desse novo normal, que gera um clima tenso entre países, e uma nova guerra econômica que pode impactar sua cadeia logística, além da variação cambial. Ou investir em tecnologia para aumentar significativamente a eficiência de produção aqui mesmo. Ainda não entrando no mérito das questões tributárias e trabalhistas que impactam o custo Brasil.

Com esse contexto volta-se ao tema da aceleração da automatização das empresas fabris vindo fortemente com a indústria 4.0 e IA, e o impacto disso na mão de obra, que no Brasil hoje não está capacitada para essa transição. Antes de tudo, precisamos entender que o cenário desenhado fortemente da revolução das máquinas, skynet e outras ficções, não é o que deve se concretizar na prática. A visão é que a relação “humano X robô” será muito mais de colaboração e potencialização dos seus resultados. Obviamente teremos atividades humanas que serão totalmente substituídas, mas também existirão muitas outras onde o homem irá complementar a máquina. E também onde a inteligência artificial e outras tecnologias irão potencializar o trabalho humano. Ainda temos o cenário de trabalho remoto cada vez maior, dirigido pelo conceito de touchless, onde a idéia é cada vez ter menos contato desnecessário.

Algumas tecnologias que irão liderar esse cenário são Digital Twins, Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR), fortemente embasados por internet 5G, inteligência artificial e complementados por impressão 3D.

Internet 5G

A internet 5G virá com uma expectativa de ser pelo menos 20 vezes mais rápida que a 4G, o que levará o conceito de “internet of things” para “internet of everything” e alavancará ainda mais o conceito de M2M (Machine to Machine). Os dispositivos se comunicarão cada vez mais entre eles sem necessidade de intermédio humano. É ela que irá permitir alguns grandes avanços na questão de touchless e no trabalho remoto de atividades, como telemedicina. Também permitirá a evolução dos carros autônomos, além de transportes remotamente controlados que revolucionará a logística, seja local por caminhões, como global por transporte marítimo.

Digital Twin

A internet 5G também vai permitir o uso sem precedentes da prática de Digital Twin que já existe desde 2002, mas teve seu valor reconhecido com a internet das coisas. Trata-se de criar um gêmeo virtual de um componente físico. Aliado ao volume computacional atual e a inteligência artificial, permite monitorar todo o funcionamento, antecipar manutenções, testar eficiência, durabilidade de máquinas complexas de uma forma segura, simples e barata. Mas não serve somente para depois do artefato já criado. Digital twin revoluciona a forma de conceber produtos físicos. Todo o processo de criação e prototipação passa a ser feito virtualmente, podendo-se testar inúmeras hipóteses, avaliando o comportamento frente a ambientes e situações diversas. Unindo a impressão 3D, o digital twin permite novos formatos jamais pensados, garantindo o menor uso de matéria-prima possível, sem perder a eficiência de um produto, e até mesmo melhorando sua performance.

Foto de acervo pessoal tirada no LiveWorx 2019

Realidade virtual e aumentada

Trazendo a prática de realidade virtual e aumentada para essa conta, temos uma revolução na forma como o homem e IA podem trabalhar em conjunto na cadeia de produção. Pode-se acelerar o trabalho de um novo colaborador de uma fábrica, permitir a troca de conhecimento remoto entre especialistas e executores, e minimizar o erro humano no fluxo de produção, além de evitar contatos desnecessários nessa era de low touch economy. Tudo isso aumenta a eficiência e reduz custo, tornando a indústria mais competitiva.

Foto de acervo pessoal tirada no LiveWorx 2019

Estamos em um momento de bastante insegurança e também de muitas oportunidades. Muitas coisas irão mudar, e vão sobreviver os que estiverem mais abertos as mudanças e mais preparados para realizá-las. As relações trabalhador X novas tecnologias terão papel definitivo nesse novo normal.

Referências:

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Elton Conceicao
Liderança Digital

IT and digital transformation executive and innovation enthusiast