#10 — A importância do gerenciamento de risco

Se todos nós soubéssemos o que irá acontecer no futuro, investir no mercado de capitais seria uma tarefa muito mais fácil. Todos saberiam qual é a próxima Microsoft. No entanto, por consequência, se tornaria uma atividade muito menos lucrativa. Isso porque, nesse caso, todos iriam em busca desse investimento e, com a demanda maior por esses papeis, o retorno tenderia a ser menor.

É a forma de se lidar com a incerteza a respeito do futuro que permite ao investidor qualificado se destacar em relação aos demais. Ter conhecimento a respeito do tema risco é uma vantagem competitiva que poucos investidores possuem, e que pode aumentar os seus retornos consistentemente.

Para dissertar melhor a respeito do tema, utilizarei o livro “The Most Important Thing”, de Howard Marks, como base argumentativa. O autor acredita que o gerenciamento do risco é o que permite ao investidor atingir retornos extraordinários no longo prazo.

Primeiramente, o investidor inteligente deve desconsiderar a imagem em sua cabeça — ensinada pela teoria financeira — de que risco é igual volatilidade. Segundo Howard Marks, esta afirmação é consequência de uma necessidade dos teóricos financeiros de quantificar o risco para aplicá-lo em fórmulas matemáticas. No entanto, o risco é algo subjetivo, pessoal e qualitativo, e, portanto, não pode ser modelado matematicamente.

Gerenciando o risco

Risco é algo ruim, e todo investidor busca minimizá-lo. Antes de investir em qualquer ativo financeiro que seja, o investidor deve avaliar o risco presente em tal escolha e concluir se é compatível com seu perfil. Não se deve investir em nada que o impeça de dormir tranquilamente.

Em seguida, após filtrar todos os ativos com que consiga conviver tranquilamente, deve-se tomar uma decisão de investimento baseado em uma função entre risco e taxa de retorno. O investidor deve exigir um prêmio de risco (retorno adicional) por estar tomando um risco maior, caso contrário, não há por que correr tal risco.

No entanto, este último parágrafo é a causa de uma série de desentendimentos no mundo financeiro. Na cabeça das pessoas, os investimentos com maior risco são os que geram os maiores retornos, e que, portanto, se alguém deseja se tornar rico, deve necessariamente correr mais risco.

Na visão dessas pessoas, a relação entre risco e retorno é direta e positiva, como a do gráfico abaixo.

Essa percepção de que os ativos mais arriscados são os que geram os maiores retornos é equivocada, uma vez que não se pode contar com que tais investimentos — de maior risco — entregarão o retorno prometido, justamente por serem arriscados. Se o ativo financeiro com mais risco fosse o que proporcionasse, necessariamente, o maior retornos, ele não seria arriscado.

A realidade é que, para conseguir atrair mais capital, os investimentos arriscados devem prometer retornos mais altos. Prometer não necessariamente significa que eles irão se materializar, justamente por serem arriscados.

Risco e retorno

Os investimentos mais arriscados são os que possuem o futuro mais incerto e um intervalo de possibilidades muito maior. Dessa forma, ao investir em uma ação com essas características, um investidor pode: a) atingir um retorno alto, como o prometido; b) obter um retorno medíocre e, portanto, não justificado pelo risco enfrentado (existiam outras possibilidades igualmente rentáveis e menos arriscadas) ou c) perder todo o capital investido (ou uma parte dele).

Portanto, a volatilidade não pode ser vista como risco uma vez que o risco verdadeiro — e a maior preocupação do investidor — é a perda de capital ou um retorno medíocre. Howard Marks afirma que em toda sua vida profissional nunca viu um cliente deixar de comprar uma ação por seu preço flutuar demais. Se um cliente nunca deixou de comprar uma ação pela volatilidade de seu preço, significa que isso não é uma preocupação para esse e, portanto, não é um risco.

Pode aparecer abstrato tudo o que está sendo abordado. Se o risco é algo subjetivo, como então pode ser medido? Segundo o autor, os melhores investidores conseguem ter uma noção melhor do risco do que a média ao analisar a qualidade do valor da empresa e a diferença entre o seu preço e este valor.

Sendo a ação uma fração de um negócio, então o risco de uma ação é o risco desse negócio. O investidor deve analisar e mapear tudo o que possa dar errado em relação ao setor em que a empresa atua e com ela mesma. A estrutura de capital da empresa (se é muito endividada ou não), a alavancagem operacional e a própria natureza do negócio (se é muito cíclico ou não) são exemplos de risco de negócios.

Sendo assim, risco não é sinônimo de volatilidade e retorno não é consequência de um maior risco. A real relação entre risco e retorno é resumida por Howard Marks no gráfico abaixo.

À medida em que se aumenta o risco, aumenta-se a possibilidade de resultados diferentes (representados pela distribuição maior), que variam desde o retorno maior prometido (que não necessariamente será realizado) até a perda de capital, o verdadeiro risco.

Tempos incertos como os que vivemos exigem mais do que nunca um gerenciamento disciplinado dos riscos. Uma popular frase do mundo do futebol se encaixa muito bem neste tópico: “Bons ataques ganham jogos, boas defesas ganham campeonatos”.

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