#11 — Como identificar boas oportunidades de investimento?
Muitos investidores se questionam sobre como encontrar boas ações para investimento. A resposta óbvia — ler os relatórios de todas as empresas da bolsa, ponderar seus pontos fracos e fortes e estabelecer um preço para cada uma delas — é inviável para a grande maioria deles. Principalmente, para aqueles que não trabalham na área de investimentos. No entanto, existem outras formas de identificar oportunidades, mais acessíveis.
Um dos métodos mais famosos é através da fórmula mágica de Joel Greenblatt. A estratégia do investidor americano, detalhada em seu livro “The Little Book that Beats the Market”, é extremamente vencedora. Para se ter uma noção, de 1988 até 2004, um portfólio que replicasse tais conceitos teria obtido um retorno incrível de 30,8% ao ano, contra 12,4% do S&P 500.
Segundo Greenblatt, a fórmula mágica somente funciona para aqueles que entendam seu conceito e o que está se passando por trás dela. É impossível somente replicá-la sem entender a origem daqueles números. Primeiro, porque ela leva em conta dados passados, e o valor de uma empresa vem de quanto dinheiro ela irá gerar para os acionistas no futuro. Segundo, pois possui armadilhas, as famosas “value trap”.
Conceito
De uma maneira simples, é uma fórmula que busca encontrar boas empresas negociadas a preços de barganha. Para isso, busca-se empresas com um alto Return on Capital (boas empresas) e com um alto “earnings yield” (empresas baratas).
A fórmula utiliza a premissa de que empresas com alto Return on Capital (ROC) são de alta qualidade, pois a oportunidade de reinvestir lucros com uma taxa de retorno alta é extremamente valiosa e rara. Dessa forma, se você abre uma loja de brinquedos por US$ 400.000 (incluindo estoques, propriedade, etc) e ela lucra US$ 200.000 por ano, você tem um ótimo negócio em suas mãos, com um ROC de 50%.
Portanto, um alto Return on Capital significa que a empresa lucra consideravelmente bem comparado ao quanto tem de pagar para comprar os ativos que geraram esses lucros.
Um alto earnings yield, por sua vez, significa que a empresa lucra bastante em comparação ao preço que estão pagando por ela. E, portanto, tende a estar barata, se o lucro ficar constante, pois o investimento será pago em um menor tempo.
Como usar
Para utilizar a fórmula mágica de Greenblatt, começamos com as empresas listadas na bolsa. Depois, criamos um ranking, de 1 até 100, por exemplo, baseado no Return on Capital. A empresa que possui o negócio com maior ROC será a #1, e aquela com o menor ROC será a número #100.
Após isso, utilizamos o mesmo procedimento para o Earnings Yield: a empresa com o maior EY será a #1, e a com menor será a #100.
Por fim, basta apenas combinas os dois rankings. A fórmula busca pelas empresas que possuem a melhor combinação dos fatores. Portanto, se uma companhia ficou em #23 em ROC e #15 em EY, seu ranking combinado é de 38 (23+15).
Normalmente, em livros sobre investimentos, utiliza-se ROC = EBIT/(Dívida Bruta + Patrimônio Líquido). Mas Greenblatt prefere fazer o cálculo do seu jeito. Ele utiliza ROC = EBIT/(Capital de Giro líquido + Ativos Fixos Líquidos).
O EBIT, lucro antes de impostos e juros, mede o lucro operacional da empresa. É uma métrica melhor do que o Lucro Líquido, pois companhias operam com diferentes níveis de dívida e taxas de impostos. Dessa forma, utilizar o EBIT nos permite comparar os lucros operacionais de diferentes empresas de diferentes setores sem distorções.
A parte “(Capital de Giro Líquido + Ativos Fixos Líquidos)”, por sua vez, mede o capital tangível empregado. Ou seja, o custo dos ativos utilizados para gerar o lucro. Essa métrica é boa pois permite nos dar uma ideia de quanto capital é necessário para conduzir o negócio da empresa.
Capital de Giro Líquido é utilizado pois empresas precisam financiar seus recebíveis e estoques, e arcar com suas contas a pagar. Além disso, a empresa também deve financiar a compra de ativos fixos necessários para conduzir seus negócios, como imóveis, instalações e equipamentos.
O earnings yield, por sua vez, é mais fácil de calcular. Muitos conhecem — e utilizam — a métrica Preço/Lucro para avaliar o preço de uma ação. Já Greenblatt opta por utilizar EBIT/ Valor da Firma.
O Valor de uma firma é calculado como a soma de seu “market cap” (preço da ação x número de ações em circulação) com a dívida líquida da empresa. É uma métrica melhor de se usar pois os investidores, quando estão comprando uma empresa, levam os seus ativos, isto é, seu passivo e seu patrimônio líquido. Ou seja, é o preço total de compra de uma empresa.
Sendo assim, a fórmula mágica de Greenblatt é um excelente “screener” para filtrar empresas boas e baratas. No entanto, é importante ressaltar que a fórmula possui seus erros e armadilhas, além de ser conhecida no mundo todo, o que não lhe proporciona uma vantagem competitiva.
Caso você queira encontrar boas oportunidades de investimento e ainda se diferenciar da concorrência, não há segredo: comece pelas empresas cujo nome comece com “A”. E continue até chegar no “Z”.