Ações para o longo prazo!

Chrystian Oliveira
Liga de Mercado Financeiro Bauru
5 min readJun 5, 2020

Você já imaginou como seria se você pudesse ser dono de grandes empresas brasileiras, de diferentes setores da economia?

Imagine que você está indo ao mercado fazer compras. No caminho, você passa em frente a uma agência do Itaú, e pensa “aí está a agencia de uma de minhas empresas!”. Continuando o percurso, você cruza um posto da rede da Petrobrás, empresa que você também é dono, e por fim, chega a um supermercado. O estabelecimento, por sua vez, pertence a rede de supermercados Extra, que também é parte de suas propriedades.

Apesar do parágrafo acima parecer utópico, tornar-se sócio do Itaú, da Petrobrás e do Grupo Pão de Açúcar, que administra a Rede Extra, custava menos de R$120,00 no dia anterior à publicação desse artigo (04/06/2020). Mas como isso é possível?

Através da compra de ações. Uma ação é um título que representa um pequeno pedaço de uma empresa. Isso significa que, ao adquirir uma ação, você compra parte do patrimônio de uma empresa, tornando-se seu sócio. Assim, você participa das conquistas e dos desafios do negócio, e também de seus lucros.

A ideia de que uma ação é uma fração de um negócio pode parecer estranha para muitas pessoas. Afinal, muita gente associa o mercado acionário à especulação financeira e a apostas de sorte, a pessoas tentando comprar barato hoje para vender mais caro amanhã (ou no mesmo dia).

A especulação é possível porque o mercado acionário, assim como qualquer outro mercado, está sujeito à lei da oferta e da demanda. Ou seja, quando as pessoas estão dispostas a comprar mais de uma ação, mas existe um número menor de pessoas dispostas a vendê-la, o preço sobe para equilibrar o número de compradores e de vendedores, e vice-versa.

Logo, o preço das ações está ligado às expectativas que as pessoas têm da performance das empresas por trás das ações. Assim, os investidores reagem à notícias de acontecimentos que podem afetar as empresas tanto positiva quanto negativamente. Uma notícia de desaceleração da economia pode deixar as pessoas receosas quanto ao futuro da economia e das empresas, originando um movimento de venda. Cabe ressaltar que as pessoas nem sempre reagem de maneira racional aos acontecimentos. Notícias boas podem gerar um otimismo exacerbado no mercado, levando a uma distorção do preço das ações no curto prazo. Um processo análogo ocorre com as notícias ruins.

Os especuladores tentam se aproveitar das tendências de compra e venda que podem surgir para lucrar no curto prazo. Porém, a estratégia utilizada pelos maiores investidores de todos os tempos tem enfoque no longo prazo. Eles perceberam que no curto prazo o mercado é guiado por boatos e por notícias, mas no longo prazo os fundamentos das empresas guiam os preços.

No longo prazo, o preço de uma ação caminha para o seu valor justo. Se uma empresa se mostrar lucrativa e obter sucesso nos seus negócios, ela tende a se valorizar, já que as pessoas percebem o aumento da lucratividade do negócio e passam a pagar mais por ele. Isso também é lógico se pensarmos no patrimônio das empresas. Se uma empresa cresce de forma saudável ao longo do tempo, o seu patrimônio aumenta. Assim, é natural que as ações, frações desse patrimônio, também aumentem de valor. Podemos pensar nas ações como se fossem fatias de bolo. À medida que o bolo cresce de tamanho, as fatias também aumentam.

Investir em boas empresas no longo prazo foi historicamente um excelente investimento e uma das melhores formas de construção de patrimônio. Nos Estados Unidos, por exemplo, o investimento em ações gerou um retorno de cerca de 6,3% ao ano em termos reais (livres de inflação) no período de 1900 a 2000, enquanto o investimento em títulos públicos (bonds) entregou um retorno de menos de 2% ao ano em termos reais, segundo O estudo “Triumph of the Optimists” de Elroy Dimson, professor da London Business School, publicado em 2003 e divulgado por um artigo da Suno Research.

Além da rentabilidade obtida com a valorização dos ativos, os investidores também podem lucrar com os dividendos. Como dito anteriormente, ao adquirir uma ação, você se torna sócio da empresa por trás dela e participa dos lucros do negócio. Essa participação ocorre através de dividendos, que são uma parcela do lucro da empresa que é distribuída entre os seus acionistas. Há ações que pagam em torno de 8% a.a. do preço pago por elas em dividendos. Em um cenário em que a taxa de juros básica da economia, a Selic, está no seu menor nível histórico (3% a.a.), uma rentabilidade de 8% a.a. torna-se bem atraente.

Mesmo que o investimento em ações seja muito rentável ao longo do tempo, o número de brasileiros que investe na bolsa de valores ainda é muito baixo. Segundo notícia do Valor Investe, O número de investidores pessoa física em ações saltou 168% de 2018 até março deste ano e já supera 1,7 milhão de CPFs cadastrados. Em termos percentuais, esse número representa menos de 1% da população. Esse panorama é contrastante com os números dos Estados Unidos: cerca de 60% dos norte-americanos investem em bolsa de valores.

Mas se ações são um excelente investimento para o longo prazo, porque poucas pessoas investem nelas?

Há vários motivos para isso. O Brasil passou por longos períodos de instabilidade monetária e inflação alta, até conseguir se estabilizar com o plano real. Isso fez com que muitos brasileiros tivessem de aprender a gastar o seu dinheiro o mais rápido possível, para que ele não perdesse poder de compra frente à inflação. Isso tudo arrefeceu o hábito de poupança e a confiança no sistema financeiro nacional, que também foi abalada por episódios como o confisco da poupança no governo Collor.

Além disso, a baixa educação financeira brasileira é um problema estrutural, e o assunto não é sequer abordado nas escolas. Aqui cabe destacar que educação financeira não é só controlar suas finanças pessoais e economizar, mas também ser capaz de identificar quais são os investimentos a seu alcance quais são os riscos e as características de cada um.

O problema torna-se evidente quando observamos que 88% dos investidores brasileiros aplicam na poupança, mesmo que essa modalidade ofereça uma rentabilidade significativamente inferior ao que se poderia obter em outras aplicações de renda fixa, por exemplo.

Mesmo com a baixa educação financeira vigente no país, o número de investidores na bolsa vem crescendo nos últimos tempos, acompanhado da queda da rentabilidade de aplicações mais seguras da renda fixa devido à queda da taxa de juros. Isso faz com que as pessoas que desejam uma rentabilidade maior tenham que recorrer à renda variável, o que inclui o mercado acionário.

Esperamos que a leitura desse texto tenha lhe ajudado a entender um pouco melhor o investimento em ações e o seu panorama no país. Se você ficou interessado no assunto, fique ligado nas páginas da Liga!

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