#13 — A importância do Círculo de Competência nos investimentos

Você já deve ter assistido o documentário “The Last Dance”, que acompanha as temporadas do Chicago Bulls de Michael Jordan. Caso não tenha assistido, provavelmente ouviu alguém comentar a respeito. O melhor jogador da história da NBA contava com a ajuda de companheiros extremamente talentosos, como Scottie Pippen e Dennis Rodman. É sobre a carreira deste último, por sinal, que quero abordar, pois me identifico muito mais com ele do
que com Jordan. É uma estratégia que ajuda a pensar em como começar a investir.

Obviamente, eu preferiria ser Michael Jordan. Quem não o faria? O astro abusava de suas habilidades e marcava dezenas de pontos consecutivamente, com uma facilidade e brilho impressionantes. Todos queriam ser como “Mike”, como dizia o comercial do Gatorade na época.

No entanto, o que mais me chamou a atenção em Dennis Rodman foi a obsessão e comprometimento com um dos conceitos muito utilizado por Warren Buffett e Charlie Munger no mundo dos investimentos: o Círculo de Competência.

Basicamente, operar dentro de seu círculo de competência significa limitar seus investimentos em empresas e indústrias que você conheça mais do que a média. Ao focar seus esforços e seu tempo nas ideias que você sabe mais, você diminui a probabilidade de cometer erros, e, portanto, aumenta a sua performance. Parece óbvio, mas não é. Bato sempre na tecla, investir não é complexo, mas está muito longe de ser fácil. Para se dar bem no mercado de capitais, você não precisa ser um expert em todos os setores, como muitos pensam. O tamanho do seu círculo de competência é, sem dúvidas, muito importante. Mais importante ainda é você reconhecê-lo, por menor que seja.

Uma das maneiras de mapear seu círculo de competência é começar com as incompetências. Pegue uma lista de empresas, digamos do do Ibovespa (IBOV), do Índice Small Cap (SMLL). Ou de índices setoriais, como o Índice Financeiro (IFNC) ou o Índice de Consumo (ICON). E então exclua aquelas companhias que você não possui ideia de como funciona seu modelo de negócios e não consegue entendê-las.

Depois disso, leia os relatórios anuais, as apresentações institucionais, e tudo o que for de informação primária, para se certificar de que entende a forma que as empresas que permaneceram na lista geram receitas e lucros, quais são suas oportunidades e desafios, quem são seus concorrentes atuais e potenciais e etc.

Este exercício pode ser muito dolorido no começo, especialmente se você excluir muitas empresas. No entanto, não se fruste ou culpe. Lembre-se, o importante não é o tamanho do círculo, e sim a sua disciplina e comprometimento quanto a ele.

Busque também sempre estar lendo e aprendendo, pois isso permite com que você adicione empresas e setores ao seu círculo. Não pare nunca, tenha sede pelo conhecimento. A leitura massiva é um hábito presente em todos os investidores de sucesso, e seu poder no longo prazo é subestimado. Conhecimento é importante para a análise fundamentalista, base do investimento de valor (value investing).

Voltando à Dennis Rodman, o ala-pivô do Chicago Bulls mostrou como operar dentro do seu círculo de competência é recompensador, visto que possui cinco títulos da NBA. Ele era especializado em rebotes e sabia disso. Para se ter uma ideia, de 1990 até 1997, Rodman foi seis vezes o jogador da liga com maior número de lances do tipo, e uma vez o segundo colocado neste quesito. Em muitas vezes, terminava as partidas com mais de vinte rebotes, e
nenhum ponto. Tudo isso com uma altura de “apenas” 2,01 metros, o que não é considerado muito se compararmos com as de seus adversários.

Em uma publicação em sua rede social, Dennis Rodman compartilhou uma foto da época em que jogava, quando obteve mais uma dessas estatísticas, com muito mais rebotes do que pontos, com a legenda: “Saiba o seu papel”.

Obviamente o círculo de competência de Michael Jordan é muito maior. O camisa 23 sabia, com maestria, atacar, defender, passar, driblar e tudo o que se pode imaginar. No entanto, isto não impediu Dennis Rodman de também ser um gênio e obter sucesso. Pois sabia, como ninguém, reconhecer as suas funções e trabalhar incessantemente e disciplinadamente em cima delas.

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