Reforma tributária, desenvolvimento de vacina do COVID-19 e novas expectativas do PIB.
Análise Bovespa (20/Jul — 24/Jul)
O início da semana foi marcado por notícias animadoras sobre o desenvolvimento de vacinas para o coronavírus. Além disso, o clima de otimismo também foi favorecido pelo Relatório Focus do Banco Central, que trouxe uma perspectiva mais otimista do PIB para 2020: as projeções passaram de uma retração de 6,54% para uma queda de 5,95%. Neste dia, o Índice Ibovespa subiu 1,49%, atingindo 104.426,37 pontos.
No dia seguinte (21), os líderes da União Europeia chegaram a um acordo sobre um pacote de estímulos econômicos depois de 4 dias de discussão. Foram liberados 750 bilhões de Euros para combater os impactos da crise do coronavírus, animando os investidores. O pregão também foi marcado pela tão esperada entrega da primeira parte da proposta da Reforma Tributária do Governo Federal. A respeito do otimismo internacional, o dia foi de correção das altas recentes: o Índice Ibovespa encerrou o dia com uma pequena variação de -0,11% a 104.309,74 pontos.
Na quarta-feira (22) o mercado assistiu a um aumento das tensões internacionais decorrente dos conflitos entre EUA e China. O país norte-americano determinou o fechamento do Consulado Geral da China em Houston sob justificativa de proteção de propriedade intelectual e informações privadas. O Ibovespa encerrou o pregão próximo à estabilidade, com variação diária de -0,02% e 104.289,57 pontos.
O pregão de quinta-feira (23) foi impactado pela previsão da elevação do déficit primário do governo central divulgada pelo Ministério da Economia no dia anterior. A previsão é de R$ 787,45 bilhões, contra a estimativa anterior de R$ 540,5 bilhões. O desempenho do mercado também foi afetado por um viés negativo do exterior: os pedidos de seguro-desemprego nos EUA foram de 1,416 milhões na semana retrasada, acima da expectativa mediana dos economistas de 1,3 milhões divulgada pela Bloomberg. O dia também foi marcado por um recorde no número de infecções diárias de coronavírus no Brasil, foram reportados 65.339 novos casos. Assim, o Ibovespa sofreu queda de 1,91%, terminando o pregão em 102.293,31 pontos.
No último pregão da semana (24), o mercado assistiu a uma retaliação do governo chinês aos EUA, ordenando o fechamento do consulado norte-americano na cidade de Chengdu, no sudoeste do país. Entretanto, o cenário internacional foi contrabalanceado pela notícia de que o PMI Composto preliminar do Markit, medida da atividade econômica da zona do euro, atingiu 54,8 pontos, acima das expectativas. No panorama nacional, o mercado repercutiu o clima de diálogo entre o presidente da Câmara Rodrigo Maia e o Ministro da Economia para a aprovação de reformas. Na véspera, Maia disse que o momento é de diálogo e união com o governo. Ao lado de Guedes, o presidente da câmara sinalizou apoio às pautas consideradas prioritárias para o governo. Com isso, o Ibovespa encerrou a semana em 102.381,58 pontos, com alta diária de 0,09%.
Governo
Na quinta-feira da semana retrasada (16), o ministro da economia Paulo Guedes afirmou que entregaria na terça-feira (21) a primeira parte da proposta da Reforma Tributária do governo para o presidente do senado, Davi Alcolumbre. Na ocasião, Guedes afirmou que a primeira fatia da reforma seria sobre pontos comuns entre propostas que já estavam na Câmara dos Deputados s no Senado.
Uma Reforma Tributária significa a reestruturação do sistema tributário do país, ou seja, uma mudança estrutural na arrecadação de impostos. Cabe destacar que o Brasil possui uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo e um sistema de arrecadação complexo e burocrático. De acordo com notícia da Folha, o Brasil é o país em que as empresas mais dependem tempo para pagar impostos: são 1501 horas destinadas para calcular e efetuar os pagamentos, o maior número dentre os 190 países analisados. Os dados são do relatório Doing Business 2020 do Banco Mundial.
O texto foi de fato entregue na terça-feira, e prevê a unificação do PIS e Cofins em um tributo sobre valor agregado, com o nome de CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e alíquota de 12%.
O objetivo inicial é a simplificação através de um tributo muito mais simples para as empresas, reduzindo custos e entraves jurídicos. A equipe econômica também espera reduzir a cumulatividade das cobranças e distorções e aumentar a transparência para empresas e consumidores.
Cabe destacar que já existiam propostas de mudanças no sistema tributário em análise no Senado e na Câmara dos Deputados. Uma delas é a PEC 45/2019, de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que tramitava na câmara dos deputados. A outra é PEC 110/2019, que tem como primeiro signatário Davi Alcolumbre, que era discutida pelos senadores.
Para unificar as propostas, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, criaram em fevereiro uma comissão mista das duas casas, a câmara dos deputados e o senado, para elaborar um texto de consenso para a reforma tributária. Porém, com a pandemia do coronavírus, as discussões foram suspensas.
No dia 14/07, Maia anunciou que a Câmara dos Deputados iria retomar unilateralmente as discussões sobre a Reforma, mesmo sem a participação dos senadores. Segundo notícia do G1, Maia revelou que o ideal era que o assunto fosse discutido em conjunto com os senadores, mas que o presidente do senado, Davi Alcolumbre, sinalizou que não havia condições de discutir o assunto no momento. Alcolumbre reagiu ao posicionamento de Maia, avisando que o Senado não votaria a proposta de reforma tributária se não fosse inserido na discussão. O senador também mencionou que, para que o tema prospere, a equipe econômica do governo deveria participar. Em seguida, o governo agiu entregando a sua proposta oficial, que vai ser discutida em conjunto com as outras propostas existentes.
Outra notícia relevante foi a aprovação por parte da Câmara dos Deputados da PEC que renova o Fundeb na terça-feira (21). O Fundeb — Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica — é o principal mecanismo de financiamento da educação básica no país, formado por um conjunto de 27 fundos (26 estaduais e 1 do Distrito Federal), composto por impostos de todas as esferas administrativas. No ano passado os recursos do Fundeb chegaram a R$ 166,6 bilhões, sendo R$ 151,4 bilhões de impostos de Estados e Municípios, e R$ 15,14 bilhões da União.
A PEC aprovada na câmara garante a manutenção do fundo, que seria extinto este ano de acordo com a lei que o criou, e amplia gradualmente a participação da União no fundo, até atingir 23% em 2026. Segundo notícia do G1, analistas de educação previam que a extinção do Fundeb geraria um caos no financiamento das escolas públicas, já que não haveria garantia de dinheiro para pagar desde professores e funcionários até o transporte escolar.
Índices
Nesta semana o dólar teve uma leve queda de -1,38% em relação à semana anterior, fechando na sexta-feira com o valor de R$5,1613. Essa leve desvalorização foi decorrente do aumento da tensão entre Estados Unidos e China e também da entrega da reforma tributária do governo ao Congresso na terça-feira, que fez o real se valorizar frente a outras moedas.
Ainda em relação aos Estados Unidos, na quinta-feira foi divulgado o número de pedidos semanais de auxílio desemprego. O previsto era de 1,3 milhões, mas o número veio acima do esperado, com um total de 1,416 milhões de pedidos.
Nesta semana também foi divulgado o PMI composto da zona do euro, também conhecido no Brasil como Índices dos Gerentes de Compras. O PMI composto aborda tanto a atividade industrial quanto a atividade do setor de serviços e, este índice da zona do euro veio acima do previsto por analistas, saltando de 48,5 pontos em junho para 54,8 pontos em julho.
Internacional
Depois de 4 dias de negociações, os líderes da União Europeia anunciaram na terça-feira (21) um pacote de estímulos para combater a crise de 750 bilhões de dólares, animando os investidores. Desse montante, 390 bilhões serão destinados aos países mais afetados pela crise, enquanto o restante ficará disponível sob a forma de empréstimo.
Outro destaque positivo para a zona do Euro foi a divulgação de uma prévia do PMI (Purchasing Managers Index), indicador baseado nas expectativas de empresários a respeito do nível de produção, novas encomendas, velocidade de reposição de estoque e nível de emprego da economia para o mês seguinte. Na sexta-feira (24) foi divulgada uma prévia do indicador para os setores de serviço e indústria, atingindo 54,8 pontos, bem acima das expectativas. Valores acima de 50 indicam aceleração da atividade econômica.
No decorrer na semana, o mundo assistiu a novos episódios de conflito entre os países. Na terça-feira (21), de acordo com notícia do UOL, o Departamento de Justiça norte-americano informou que dois hackers chineses foram acusados de roubar informações sobre projetos de vacina contra a Covid-19 e de violar a propriedade intelectual de empresas nos Estados Unidos e em outros países. O assistente do procurador-geral para a Segurança Nacional, John Demers, afirmou que eles trabalhavam para o ministério da Segurança de Estado da China. Ele ainda disse que os hackers agiram algumas vezes “para ganho pessoal”, mas também para o ministério chinês.
No dia seguinte (22) o governo norte-americano determinou o fechamento do consulado chinês em Houston. Apesar de não citar o incidente anterior, uma porta-voz do Departamento do Estado disse que a decisão foi para “para proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos”. Autoridades chinesas criticaram a decisão. Em retaliação ao governo americano, a China ordenou na sexta-feira (24) o fechamento do consulado estadunidense em Chengdu, no sudoeste da China.
Os conflitos da semana se inserem em uma série de acontecimentos que, a despeito do acordo comercial celebrado em janeiro, vem deteriorando cada vez mais a relação entre os Estados Unidos e a China, prejudicando o desempenho das bolsas mundiais. Nos últimos meses, o presidente dos EUA, Donald Trump, realizou diversas acusações culpando a China pela pandemia do coronavírus. Além disso, os EUA encerraram o tratamento preferencial dado à Hong Kong em retaliação à aprovação da nova Lei de Segurança Nacional por parte da China.
Outro fator que repercutiu nos mercados foram os dados positivos a respeito do desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. Nesta segunda-feira (20), a BioNTech, empresa alemã de biotecnologia e a Pfizer, empresa farmacêutica estadunidense, anunciaram resultados positivos sobre sua potencial vacina contra a Covid-19. A Vacina está na fase final de testes. Também na segunda, um estudo publicado na revista científica The Lancet mostrou que a vacina desenvolvida pela parceria entre a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a empresa AstraZeneca, apresentou resultados positivos.
Por fim, outra potencial vacina, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, já está sendo testada ao redor do mundo. A partir de segunda-feira (20), o medicamento começou a ser testado em voluntários brasileiros.
Na quarta-feira (22) os EUA anunciaram que iriam pagar cerca de US$ 1,95 bilhões à Pfizer para que a farmacêutica produza e entregue 100 milhões de doses de sua potencial vacina contra a Covid-19 se os testes provem que o medicamento é seguro e eficaz. O governo também pretende disponibilizar a vacina gratuitamente para os seus cidadãos. Segundo as empresas produtoras, 100 milhões é a produção máxima possível até dezembro deste ano, ou seja, caso a vacina seja eficaz, os EUA terão o seu monopólio este ano.
Destaques
WEG SA (WEGS3) +14,84%
As ações da WEG, empresa multinacional brasileira especializada na fabricação e comercialização de motores elétricos, transformadores, geradores e tintas, tiveram um desempenho excepcional na última semana. Isso se deve aos resultados positivos referentes ao 2T20 divulgados pela companhia: mesmo com os efeitos adversos da pandemia, o lucro líquido da empresa cresceu 32,2% ante mesmo período do ano passado.
GERDAU SA (GGBR4) +5,09%
A Gerdau, uma das principais fornecedoras de aços longos na América e de aços Especiais no mundo, também apresentou um crescimento significativo de seus papéis. Segundo analistas do Itaú BBA, o ritmo de recuperação das indústrias siderúrgicas e suas relacionadas está sendo mais vigoroso do que o esperado, favorecendo os papéis da empresa.
TIM SA (TIMP3) -8,97%
A Tim é uma empresa de telefonia móvel brasileira, e queda de suas ações está relacionada às novas notícias sobre a venda da unidade móvel da operadora Oi, que revelou na quarta-feira (22) que a Highline do Brasil apresentou a melhor oferta acima do preço mínimo de R$ 15 bilhões para a aquisição da sua unidade móvel. A Highline superou a oferta conjunta feita, no penúltimo sábado, pela Tim (TIMP3), Claro e Vivo (VIVT4), pressionando as ações dessas empresas.
COGNA EDUCAÇÃO (COGN3) -11,44%
A Cogna é a segunda maior empresa de educação do mundo. Na mesma semana em que realizou o IPO de sua subsidiária Vasta na Nasdaq, a companhia sofreu grande desvalorização, em um movimento de correção e realização de lucros após um período de forte valorização.
Escrito por: Chrystian Oliveira e Matheus Simão