Análise completa Embraer (EMBR3), terceira maior fabricante de aeronaves do mundo e referência para o Brasil.

Análise Fundamentalista Embraer (EMBR3) — 21/05/2020

Rafael Nivoloni
Liga de Mercado Financeiro Bauru
10 min readMay 21, 2020

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Histórico

Fundada em 1969 em São José dos Campos, a Embraer S.A, empresa global com sede no Brasil, é fabricante de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares, peças aeroespaciais, serviços e presta suporte na área, a empresa já entregou mais de 8 mil aeronaves.

A Embraer é hoje líder na fabricação de jatos comerciais de até 150 assentos, se tornou a principal exportadora de bens de alto valor agregado do Brasil. Atrás apenas da Boeing companhia é hoje uma das maiores empresas aeroespaciais e de defesa do mundo, mantendo unidades industriais, escritórios, centros de serviço e distribuição de peças nas Américas, África, Ásia e Europa.

A empresa possui mais de 17 mil funcionários e possui uma grandiosa estrutura para fabricação e teste das suas aeronaves. A sede da Embraer está localizada em São José dos Campos, e possui outras joint-ventures (OGMA em Portugal e Harbin Embraer na China). Todos os testes são realizados em uma pista construída exclusivamente para esta finalidade, com cerca de 4.960 metros de extensão, o que a torna a maior do mundo.

Governança

A Embraer não é uma empresa familiar, na qual grande parte da sua composição acionária está concentrada nas mãos de poucas pessoas e, assim, são os principais controladores da companhia, algo que é frequentemente visto no Brasil. Na realidade, a Embraer foi a primeira companhia brasileira com capital pulverizado, sem a figura do grupo de controle ou acionista controlador, ela possui 99,42% das suas ações em free float, isto é, a empresa é quase que inteiramente de capital aberto na bolsa de valores, com 99,42% das suas ações podendo ser negociadas livremente.

Com isso, a Embraer é vista como um empresa de vários donos. Suas ações são negociadas tanto na bolsa de valores brasileira (B3), quanto na bolsa de valores de Nova York (NYSE). Essa divisão é feita com 55% das ações negociadas no Brasil e 45% nos Estados Unidos, mas apesar dessa divisão quase que igualitária, 80% dos acionistas são de cunho internacional e apenas 20% são investidores brasileiros.

A empresa está no mais alto nível de governança corporativo, o qual é classificado pela B3 como Novo Mercado. Neste nível, apenas ações ordinárias (ON) são negociadas no mercado e apresentam 100% de tag along, um mecanismo o qual assegura que os acionistas minoritários não sejam prejudicados. Além disso, o Novo Mercado é o que exige mais transparência da empresa aos seus acionistas, sendo necessário a apresentação de diversos relatórios financeiros abertamente.

Fonte: Embraer Apresentação Institucional 2020

Linhas de Receita

A receita líquida da Embraer em 2019 foi de US$5,46 bi, cerca de 7,7% maior do que em relação ao ano de 2018. As linhas de receita da Embraer são divididas em 4 áreas principais, as quais são aviação comercial, aviação executiva, serviços e suporte, e por fim, defesa e segurança. A representação de cada uma na receita líquida total é de, respectivamente, 46%, 21%, 19% e 14%.

Como dito anteriormente, a aviação comercial é a principal linha de receita da empresa, com cerca de 46% da receita total. Esta área da empresa é responsável pela fabricação e venda de aeronaves comerciais para empresas de transporte aéreo em todo o mundo. Esta linha está relacionada aos modelos E175, E190, E195 e E190-E2. Só em 2019 foram entregues 89 aeronaves.

Em relação a aviação executiva, sua segunda maior fonte de receita, é englobado a fabricação de jatos aéreos sendo divididos entre leves e grandes. Entre os leves, têm-se atualmente a fabricação Phenom 100 e Phenom 300, com 62 unidades entregues. Já os jatos grandes são fabricados os Legacy 650, Legacy 450, Legacy 500, Praetor 500 e Praetor 600 com 47 unidades entregues no total. Portanto, em 2019 foram entregues no total 198 aeronaves, com a aviação comercial e executiva em conjunto.

A Embraer também é líder na indústria aeroespacial e de defesa da América Latina. Além da fabricação da aeronave de ataque leve A-29 Super Tucano e do KC-390, aeronave de transporte militar multimissão, a Embraer oferece uma linha completa de soluções integradas, o que inclui sistemas integrados de informação, comunicação, monitoramento e vigilância de fronteiras, bem como aeronaves para transporte de autoridades e missões especiais. Além disso, a Embraer proporciona suporte técnico de qualidade a todos os seus clientes.

Fonte: Embraer RI

Pontos Positivos

A companhia está relacionada à segurança nacional, ou seja, é relevante e cria uma certa espécie de mercado cativo, em função de aspectos políticos e de interesses nacionais relacionados à aquisição de equipamento bélico. Além disso, a Embraer possui destaque mundial no segmento de aviões de médio e pequeno porte.

Possui uma diversificação dentro da indústria aeroespacial, sendo presente nos segmentos de aviação comercial, executiva e na área de equipamentos militares.

Sua presença internacional é fundamental para a Companhia, uma vez que contribui para a sua diluição de riscos geográficos decorrentes de concentração.

Pontos Negativos

A Embraer possui uma base de clientes reduzida, situação que expõe a empresa às fragilidades vivenciadas por seus compradores, principalmente as companhias aéreas que vem sofrendo com a crise do coronavírus.

A companhia possui uma concorrência global, permitindo a concorrência entre empresas de todos os continentes o que figura uma ameaça.

A demanda por novas aeronaves, especialmente na unidade de aviação executiva, é volátil, tendo grande associação ao nível de atividade econômica internacional e sendo fortemente afetada pela pandemia e redução das economias mundiais.

A empresa vem nos últimos trimestres apresentando um prejuízo líquido crescente.

Riscos

Principais riscos que envolvem as operações e o setor em que a empresa atua:

  • Risco cambial: Como a Embraer possui uma grande representatividade de suas receitas oriundas de vendas no exterior, sabendo que a maior parte de seus clientes são empresas de linhas aéreas estrangeiras, as grandes oscilações do dólar acabam influenciando diretamente os resultados da empresa. Caso o dólar venha a se valorizar e as vendas aumentem, a empresa terá um resultado positivo. Contudo, durante a pandemia do coronavírus, mesmo com as grandes escaladas do dólar, a companhia não conseguiu manter boas vendas devido às dificuldades apresentadas pelo setor aéreo como um todo.
  • Mercado de aviação comercial é cíclico: Uma parcela substancial das vendas da Embraer é derivada de jatos comerciais e executivos. Historicamente, esses mercados e segmentos apresentam uma relativa ciclicidade, devido a fatores como atividade de viagens aéreas e também ligados a condições da economia como um todo. Desacelerações econômicas, como estamos observando durante a pandemia, podem e estão afetando de forma considerável a demanda por viagens e demanda por produtos da companhia.
  • Risco Regulatório: Os produtos de aviação civil da Embraer estão sujeitos a regulamentação no Brasil e nas jurisdições de seus respectivos clientes. As autoridades aéreas de países clientes da embraer devem certificar os produtos de aviação antes que a companhia possa entregá-los aos clientes. O risco se encontra na possibilidade de a Embraer não conseguir homologar suas aeronaves a tempo, ou até mesmo não conseguir a homologação. Sem as certificações necessárias, a empresa não poderá comercializar suas aeronaves, o que pode impactar seriamente as vendas e suas operações.

Resultados

Balanço Patrimonial

Fonte: Status Invest
Fonte: Status Invest

A companhia apresentou, no 4T19, um caixa líquido gerado pelas atividades operacionais ajustado de R$ 2.826 milhões e uma geração de caixa livre ajustado de R$ 3.042,1 milhões. Os principais fatores que explicam o maior fluxo de caixa livre no 4T19 foram o declínio dos Estoques, após o número de entregas de jatos no trimestre e a queda no saldo das Contas a Receber de clientes e ativos de contrato, em relação ao 4T18.

A conta Fornecedores teve queda de R$ 211,0 milhões e encerrou o ano em R$ 3.356,3 milhões. No 4T19, o Imobilizado caiu R$ 102,5 milhões e ficou em R$ 8.297,6 milhões, enquanto o Intangível teve queda de R$ 234,1 milhões e ficou em R$ 8.269,9 milhões.

Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)

Fonte: Status Invest
Fonte: Trademap

No ano, a Companhia apresentou um uso livre de caixa ajustado de R$ 436,6 milhões, comparado ao uso livre de R$ 248,5 milhões em 2018, devido a grande redução do lucro líquido em 2019, influenciado pelos custos de separação de R$ 485,5 milhões, bem como pelo aumento dos gastos com CAPEX (Capital Expenditure) e desenvolvimento. As adições líquidas ao imobilizado totalizaram R$ 408,2 milhões no 4T19, um aumento de 87,9% frente ao 4T18. Os investimentos em desenvolvimento de produtos estão relacionados principalmente ao desenvolvimento do programa dos E-Jets E2, no segmento de Aviação Comercial, que evoluiu conforme planejado, segundo relatório da Embraer. Em 2019, a Companhia investiu um total líquido de R$ 1.104,2 milhões em Desenvolvimento de produtos que se compara aos R$ 641,0 milhões investidos em 2018.

Demonstração de Resultado (DRE)

Fonte: Relatório 4T19 Embraer

Margens

Fonte: Status Invest

Receita Líquida e Margem Bruta:

No 4T19, a Companhia apresentou em seu relatório um crescimento da receita líquida de 33% em relação ao 4T18 e ficou com R$ 8.585,5 milhões, com crescimento em todos os quatro negócios da Companhia. No ano, a receita líquida consolidada da Embraer foi de R$ 21.802,1 milhões, um crescimento de 16% em comparação a 2018, principalmente em função da variação cambial ocorrida no período.

A Margem Bruta consolidada caiu de 15,3% no 4T18 para 13,4% no 4T19 impulsionada pela queda nos segmentos de Aviação Comercial, Executiva e Serviços e Suporte.

Resultado Operacional:

O resultado operacional (EBIT) no 4T19 foi de R$ (276,8) milhões (resultado negativo entre parênteses) e a Margem operacional teve queda de -3,2%, comparado ao 4T18.

Os custos relacionados à separação do negócio de Aviação Comercial da Embraer impactaram negativamente o EBIT do 4T19 em R$ 222,9 milhões, e não foram excluídos dos valores do EBIT ajustado e da margem EBIT ajustada da Companhia.

As despesas administrativas totalizaram R$ 249,7 milhões no 4T19, representando crescimento em relação aos R$ 200,0 milhões relatados no 4T18. No ano, essas mesmas despesas totalizaram R$ 752,7 milhões e em 2018 foram de R$ 669,9 milhões, tendo como principal contribuinte desse aumento, a variação cambial do período.

Resultado Líquido:

No 4T19, a Embraer apresentou Prejuízo líquido de R$ 867,8 milhões e um prejuízo por ação de R$ 1,18, totalizando, para o ano de 2019, um prejuízo de R$ 1.316,9 milhões e prejuízo por ação de R$ 1,79.

Múltiplos

Fonte: Histórico P/VPA Embraer — Trademap

O P/VPA da Embraer no 4T19 é de 0,3. Isso significa que ela está sendo precificada em 0,3 vezes o seu valor patrimonial.

Fonte: Histórico ROE Embraer — Trademap

A Embraer teve uma queda expressiva em seu ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) desde o último trimestre de 2018. Para o 4T19 o ROE da Companhia é de -8,9%.

Fonte: Histórico DL/EBITDA Embraer — Trademap

O indicador DL/EBITDA mede em quando tempo a empresa conseguiria quitar sua dívida levando em conta seu resultado operacional EBITDA. Pode-se observar uma grande alta para o final do ano de 2019 resultando em um DL/EBITDA de 24,5.

Fonte: Histórico Lucro Líquido Embraer — Trademap

A empresa vem reportando um prejuízo constante desde 2018, afetando, dessa forma, sua distribuição de dividendos nos últimos trimestres como representado no gráfico a seguir.

Fonte: Histórico de Proventos (Div) Embraer — Trademap
Fonte: Histórico Cotação EMBR3 — Status Invest

Conclusão

Em meio a um cenário turbulento causado pela pandemia do coronavírus muitas companhias aéreas estão adiando o recebimento de aeronaves da Embraer, uma vez que essas companhias fazem parte de um dos setores mais afetados pela crise. De acordo com a análise da corretora de investimentos Ágora, a baixa demanda por viagens aéreas e o preço do petróleo, combinados com as incertezas relacionadas ao distanciamento dos passageiros dentro das aeronaves , provavelmente vai alterar a economia de jatos regionais, como informado pelos analistas.

Além disso, nos últimos meses a Embraer estava em processo de negociação com a Boeing. A fusão propunha a união das duas empresas no setor de aviação comercial (as outras áreas não estavam inclusas) e, assim, iniciar uma joint venture para criar sinergia entre as mesmas a fim de reduzir gastos, otimizar processos e tornar-se a maior empresa do setor. Entretanto, no fim de abril esta negociação não foi concretizada, a nova empresa com nome já estabelecido como Boeing Brasil-Commercial não saiu do papel por conta da desistência da empresa america, a mesma alegou descumprimento de cláusulas do acordo pela parte brasileira para justificar a rescisão. “Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito das condições de contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas”, disse em nota Marc Allen, CEO da Boeing.

Escrito por: Rafael Nivoloni & Matheus Simão

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