Análise Setorial — Comércio — Eletrodomésticos. Magazine Luiza e Via Varejo — Entenda mais a fundo o segmento de eletrodomésticos

Lucas Guarnieri
Liga de Mercado Financeiro Bauru
10 min readNov 3, 2020

Introdução

O setor dos eletrodomésticos é um dos mais presentes na vida dos brasileiros e que, ao decorrer dos anos, vem intensificando sua presença no mercado nacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), obtidos através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 98,1% dos lares brasileiros possuem geladeira, um dos principais itens da lista de produtos “linha branca”, juntamente com o fogão, micro-ondas e máquina de lavar, por exemplo, compreendidos como itens de média duração. Além disso, existem os itens classificados na “linha marrom”, como aparelhos de som e televisões.

Conheça mais sobre a PNAD Contínua.

Apesar da recente recessão que o país enfrentou, com altas taxas de juros e falta de confiança do consumidor perante sua situação no futuro quanto ao seu emprego, estamos passando por constantes cortes nas taxas de juros, facilitando o crédito às famílias e, consequentemente, incentivando um maior consumo por parte dos brasileiros. Tais fatores influenciaram o grande crescimento de empresas varejistas no país, que tiveram o acesso facilitado a diversos de seus produtos aumentando, assim, as receitas do setor. Vale ressaltar que, além da grande presença física de varejistas em diversas cidades do país, a internet possibilitou que qualquer loja pudesse ser capaz de atender em qualquer localidade do Brasil.

Atualmente, durante a realidade da pandemia que estamos enfrentando, aliada as medidas de isolamento social, grande parte da população passou a ficar mais tempo em casa. Tal fato levou as pessoas a modificarem suas residências e descobrirem novos meios de lazer, além das televisões e computadores, evidenciando a busca por produtos destinados à prática da culinária que compõem áreas gourmet, por exemplo. Assim, o mercado dos eletrodomésticos encontram-se 19,6% acima do cenário pré-pandemia em fevereiro, conforme publicado pelo IBGE.

Veja mais atividades que cresceram durante a crise

Como ilustrado anteriormente, os eletrodomésticos são, em sua grande maioria, comercializados por empresas do varejo. Dentre as principais do setor, podemos citar a Magazine Luiza, Via Varejo e, não como varejista, mas produtora de tais equipamentos, a Whirlpool.

A Magalu, como também é conhecida a Magazine Luiza, passou recentemente por uma grande mudança de estratégia em seus negócios, como será abordado posteriormente. Após investir em sua presença no e-commerce, além das estratégias de logística de suas entregas, a companhia pôde enfrentar a crise do novo coronavírus muito bem, conquistando uma alta de 49% em vendas quando comparado o segundo trimestre de 2020 e 2019. Em suma, a companhia oferece produtos de diversos departamentos como decoração, móveis, petshop, mercado, celulares e os eletrodomésticos em suas lojas físicas, site e app, aliando as vantagens do marketplace.

Outra grande empresa varejista é a Via Varejo, em que seu grupo é composto pelas lojas Casas Bahia, Ponto Frio, Extra e a produtora de móveis, Bartira. A companhia vem passando por mudanças em seu negócio, buscando expandir sua presença no e-commerce, como notamos após a recente compra da companhia i9XP, responsável por desenvolver softwares especializados para o varejo. Assim, a Via Varejo busca expandir suas atividades através do marketplace em suas redes, sendo uma das empresas que muitos investidores acreditam ter grande potencial de crescimento.

Se tratando da produtora Whilrlpool Latin America, dona das marcas brasileiras Brastemp, Consul e KitchenAid, é uma subsidiária da Whirlpool Corporation. As marcas Brastemp e Consul lideram a linhas de produtos classificados como linha branca no Brasil, sendo referências para muitos consumidores do país.

Em um cenário internacional, os Estados Unidos preveem um crescimento de US$ 59,76 bilhões no setor até o ano de 2025, de acordo com um relatório publicado pela Grand View Research Inc. A pesquisa leva em consideração a projeção de que será realizado uma grande expansão e desenvolvimento dos produtos, principalmente pela modalidade IoT (Internet das coisas), em que tudo passará a ser conectado a internet, criando vários itens inteligentes e integrados as automações residenciais. De maneira geral, é esperado que a maior parte da receita gerado seja na China, com US$ 57,648 milhões para o ano de 2020, segundo o site Statista.

Se tratando especificamente desse mercado segmentado no Brasil, o site estima um CAGR, ou seja, uma taxa de crescimento anual no valor de 9,4%, com um volume de mercado de US$2,365 milhões até 2024. Prevê, também, um aumento no número de clientes do setor, com uma penetração de 13,2% em 2020 e, até o ano de 2024, de 19,7%.

Empresas do setor

Magazine Luiza — MGLU3

O Magazine Luiza iniciou sua história em Franca, no interior de São Paulo, na década de 50. Neste momento inicial de sua história, a empresa se expandiu pelo interior do Brasil e, posteriormente, para cidade de São Paulo. Com isso, ela conseguiu se estabelecer como uma das principais varejistas do Brasil.

O ano de 2019 foi marcado pelo início de um novo momento na história da empresa. O Magazine Luiza mudou o seu foco e se posicionou como uma plataforma digital de varejo. Ela teve grande sucesso com essa mudança e hoje é uma das principais empresas de e-commerce do Brasil. Para contextualizar o impacto desta transformação, em setembro de 2019, as vendas online já correspondiam a metade das vendas totais da empresa.

Mesmo com o grande sucesso de sua plataforma digital, o Maganize Luiza ainda dá grande importância para suas lojas físicas. No 2T2020, a empresa possuía 910 lojas convencionais, 100 lojas a mais do que no mesmo período ano anterior. Nestas lojas, a satisfação do cliente é um assunto de grande importância, por isso, a empresa foca em espaços modernos e na digitalização de suas lojas físicas. Isso é refletido em seu NPS, que chegou a 78 no 4T2019, sendo esta a maior nota observada no varejo.

A Magazine Luiza também criou um novo conceito de loja física em parceria com a Marisa. Estas lojas são chamadas de quiosques e tem como foco de operação celulares, acessórios, casa conectada, retira site e serviços financeiros e digitais. Cinco lojas foram inauguradas no último trimestre de 2019 e mais 46 foram inauguradas nos primeiro trimestre deste ano.

No total, o Magazine Luiza possui 8 outras empresas além de suas próprias operações. Estas empresas são a Luizacred, Luizaseg, Consórcio Magalu, Época, Logbee, Softbox, Netshoes e Magalu Pagamentos. É interessante destacar que, no final de 2019, a Malha Luiza e a Logbee foram capazes de atender 90% das entregas e 66% delas foram realizadas em até 2 dias. Isso demonstra que a empresa não depende de terceiros para realização de entregas.

Na B3, o Magazine Luiza está listado como MGLU3. Ela é uma das empresas que compõem o Novo Mercado da B3, segmento de mais alta governança. Como consequência, o tag along de suas ações são de 100%. Também é possível destacar que a empresa possui uma parcela significativa de seu valor no mercado, com um free float de 41,0%.

Via Varejo (VVAR3)

Um dos principais passos para a formação da Via Varejo ocorreu em 2009. Neste ano, o Grupo Pão de Açúcar adquiriu duas empresas, a Casas Bahia e a Globex Utilidades SA, dona do Ponto Frio. Após esta sequência de aquisições, o GPA transferiu a Casas Bahia para a Globex Utilidades SA. No ano seguinte, a Nova Pontocom foi criada, juntando as operações online da Casas Bahia, Pontofrio e Extra.

Foi apenas em 2012 que a empresa chamada Via Varejo foi criada com a troca da razão social da Globex Utilidades SA. No próximo ano, a empresa realizou seu IPO. Com isso, a família Klein diminuiu sua participação na empresa e o Grupo Pão de Açúcar passou a ser o maior acionista, com 43,3% das ações. Em 2013, a Via Varejo realizou a aquisição da Bartira, outra empresa fundada por Samuel Klein e fornecedora de móveis para as outras empresas do grupo.

Sete anos depois de sua fundação, em 2019, o Grupo Pão de Açúcar decidiu vender toda a sua participação na Via Varejo. A família Klein aproveitou esta oportunidade de voltar ao controle da empresa e comprou todas as ações vendidas pelo GPA.

Após estas inúmeras movimentações, a Via Varejo permaneceu com 4 marcas. A Casas Bahia, o Ponto Frio, a Bartira e as operações online do Extra. No total, a empresa possui 1073 lojas no Brasil, sendo 857 da Casas Bahia e 216 do Ponto Frio. A Bartira, no que lhe concerne, é a maior fábrica de móveis da América Latina. O extra.com.br já tem mais de 16 anos de história no mercado nacional e, em 2013, foi o primeiro e-commerce a começar uma plataforma marketplace.

As ações da Via Varejo podem ser encontradas na B3 pelo ticker VVAR3. Assim como o Magazine Luiza, ela também faz parte do Novo Mercado da B3 e possui 100% de tag along. Entretanto, seu free float é muito maior, 77,19%.

Whirlpool SA (WHRL3/WHRL4)

A Whirlpool Corporation é uma das maiores fabricantes de eletrodomésticos do mundo. Ela foi fundada em 1911 em Michigan, Estados Unidos. As ações em questão se referem às operações da empresa no Brasil, onde ela possui 5 unidades, 3 fábricas e 2 unidades administrativas. No país, ela se especializou em produtos de cozinha e lavanderia, com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid.

Infelizmente, não é muito convidativo investir na empresa. No ano de 2016, a empresa demonstrou interesse em fechar seu capital no Brasil, porém não realizou isso até hoje. Mesmo assim, a empresa não fornece um cenário agradável para investidores minoritários. Ela está no segmento de listagem tradicional e possui tag along de 0% para suas ações ordinárias e preferenciais. Além disso, seu free float é muito baixo, com 0,8% em ON e 4,32% em PN. Como consequência, a empresa possui uma quantidade muito pequena de acionistas, apenas 990. Para contextualização, o Magazine Luiza possui cerca de 391 mil acionistas como resultado de seu 41% de free float. Com a soma destes fatores, as ações WHRL4 possuem uma liquidez muito baixa, cerca de 250 mil reais, e as ações WHRL3 são ainda piores neste quesito, com liquidez diária média de cerca de 50 mil reais. Novamente, para contextualização, as ações do tipo MGLU3 possuem uma liquidez diária média superior a 1 bilhão de reais.

Pontos positivos

O comércio de eletrodomésticos vem crescendo em um ritmo acelerado no Brasil. O desenvolvimento e expansão dos grandes varejistas, assim como boas taxas de juros, são fatores que incentivam e estimulam o consumo do brasileiro, o que permite um grande fluxo monetário para o setor. Além disso, existir empresas que realizam a produção dos itens nacionalmente é ponto interessante para a nação, com geração de emprego e barateamento dos produtos.

Tendo esse cenário, os eletrodomésticos são itens visados pela população. Podemos citar, também, a nova tendência que a pandemia trouxe consigo. Com as pessoas passando mais tempo em suas casas, sem muitas opções para saírem comer fora de suas casas, assim como a busca por novos modos de lazer, foram pontos que fomentaram, principalmente, o comércio eletrônico dos produtos, introduzindo uma nova tendência para o mercado.

Além disso, o Brasil possui a privilegiada posição de ser o maior produtor de ferro gusa do mundo e o segundo maior de minério de ferro. O material, como um dos principais insumos para a confecção de eletrodomésticos, apresenta uma grande oferta em território nacional, apresentando capacidade para produção e desenvolvimento dos itens do setor. Vale ressaltar, também, que o país está entre os dez maiores produtores de aço do mundo, o colocando em uma posição estratégica global.

Pontos negativos

Como citado anteriormente, o setor dos eletrodomésticos está presente fortemente na vida dos brasileiros. Porém, possui certas fragilidades. Foi exemplificado anteriormente como as taxas de juros são importantes para o setor, assim como o andar da economia em geral. Infelizmente, o Brasil enfrenta constantes instabilidades quanto à sua economia, o que pode ser um fator a ser considerado para a instabilidade do ramo dos negócios.

Se tratando do cenário de pandemia, a produção dos eletrodomésticos, assim como de qualquer outro item, sofreram com as medidas de isolamento social. O país, de maneira geral, possuía uma ocupação de cerca de 70% das indústrias nacionais, mas com essa nova realidade, a utilização dessas siderúrgicas caíram para menos de 50%, como publicado pela revista Veja. Assim, uma grande retomada do setor fica dependente, mais uma vez, do caminhar da economia em geral.

Veja: A nova era do aço: exportações devem impulsionar siderurgia em 2021

Conclusão

É difícil imaginar o setor dos eletrodomésticos e não se pegar pensando automaticamente no varejo. Quando o consumidor deseja realizar a compra de algum produto desse setor, sua mente é voltada para as grandes lojas do setor como as citadas Magazine Luiza e as que compõem o grupo Via Varejo, grandes responsáveis por comercializarem produtos da Whirlpool, por exemplo.

Além disso, fica evidente como a confiança do consumidor perante sua situação presente e futura, além de uma cenário econômico favorável, são fatores determinantes para o bom andamento do setor em questão. O acesso ao crédito facilitado, com a redução da taxa de juros como estamos vivenciando, são pontos muito favoráveis para uma boa alavancagem das margens das empresas do ramo. Apesar dos efeitos da pandemia, que atingiram todas as economias mundiais, a atividade desse setor vem-se mostrando resiliente, embasado em novas tendências de mercado com grande apelo nacional. Com base nos dados citados ao longo da análise, vemos como suas bases de negócios vem se expandindo e conquistando novos clientes.

Em suma, o setor apresenta-se como um grande negócio que vem se expandindo juntamente com o setor varejista em geral. Logo, sua base representa um bom cenário no futuro, em que muito investidores podem enxergar uma oportunidade de se tornarem sócios das companhias do ramo, com expectativas de sólido crescimento.

Escrito por: Gabriel Brunello e Lucas Guarnieri

--

--