Bolsa encerra o mês de Novembro em alta puxada pelo grande fluxo de capital extrangeiro para o Brasil; Donald Trump autoriza o início da transição de poder para o novo presidente eleito Joe Biden, Reino Unido e União Europeia voltam a negociar acordos para relações comerciais após Brexit.

Rafael Nivoloni
Liga de Mercado Financeiro Bauru
7 min readNov 30, 2020

O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa, encerrou a semana, faltando apenas um pregão para o fim do mês, com uma alta acumulada de 17% em novembro. O desempenho positivo da bolsa se iguala ao desempenho de 2002, quando a bolsa também subiu 17% e apenas superado pelos 24,05% de 1999.

Na segunda-feira (23/11) a bolsa encerrou o dia em alta de 1,26% aos 107.378 pontos com um volume financeiro negociado de R$ 22,51 bilhões. A alta se deu devido à notícia de eficiência da vacina produzida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, a qual demonstrou uma média de 70% de eficácia em prevenir contaminação dos participantes, podendo chegar até 90% em um dos métodos de aplicação.

Na sexta-feira (27) o índice encerrou o dia com alta de 0,32%, superando a marca de 111 mil pontos durante o pregão e fechando a semana com 110.575 pontos. Com isso, a bolsa teve a quarta semana consecutiva de alta.

O que tem contribuído fortemente com a performance da bolsa brasileira é a volta dos investidores estrangeiros ao mercado nacional, com os avanços das vacinas e o desfecho das eleições dos Estados Unidos. De acordo com dado do dia 25/11 (Valor), o montante do fluxo de capital externo no brasil totaliza R$ 30 bilhões no mercado secundário da B3. A animação dos investidores internacionais vêm se transformando em busca por rendimento, principalmente em ativos e mercados que ficaram em segunda opção nos últimos meses. Nesse movimento, os papéis que mais se beneficiaram são aqueles ligados ao ciclo econômico e de grande influência/peso no índice, como por exemplo bancos e empresas comoditizadas.

GOVERNO

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, em entrevista publicada pelo jornal Valor, que o Brasil está praticando a recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI) de manter o suporte para a economia durante a crise do coronavírus, porém reforça que o governo tem planos para deixar de gastar acima do teto a partir de 2021. O orçamento regular de 2021 é limitado pelo teto de gastos, e está quase todo comprometido com despesas permanentes como salário de servidores e Previdência. Segundo Guedes, o governo busca junto ao Congresso formas de viabilizar um programa que seja mais amplo que o Bolsa Família sem prejudicar o teto de gastos, mas até o momento não obtiveram sucesso na busca.

Ainda sobre o ministro da Economia, surgiram rumores na quarta (25) de que havia um atrito entre ele e Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central, após este afirmar que o Brasil precisa ganhar credibilidade por meio de reformas e um plano que indique a preocupação do país com a dívida pública. Contudo, Guedes negou que haja atrito entre eles. Segundo afirmação do jornal Valor, as declarações cruzadas entre Guedes e Campos Neto aumentam o desgaste do ministro da Economia, o qual já vem sendo desprestigiado devido à falta de avanços em reformas fiscais. Uma eventual saída sua do governo já não representaria uma ruptura para o mercado, desde que o substituto tenha uma agenda de reformas e responsabilidade fiscal.

O Brasil continua a enfrentar a aceleração da transmissão do coronavírus em meio aos questionamentos sobre os dados relativos à vacina de Oxford, que no momento é a principal aposta do governo federal para imunizar a população. Na segunda-feira, João Dória (PSDB), deve anunciar a reclassificação das regiões do estado de São Paulo de acordo com a gravidade, após o fim do segundo turno das eleições municipais.

Na quinta (26) o Senado aprovou a nova Lei de Falências para agilizar os longos processos de recuperação judicial no país. A proposta prevê novas regras para renegociação de dívidas a fim de evitar que empresas encerrem seus processos e decretem falência. O projeto objetiva que empresas em processo de recuperação judicial tenham condições melhores para negociar débitos com a União, com parcelamento em até 10 anos (120 meses), o que atualmente tem prazo máximo de apenas 7 anos.

INTERNACIONAL

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse aos jornalistas que deixará a Casa Branca se o Democrata Joe Biden for o mais votado pelos delegados no colégio eleitoral, no próximo dia 14 de dezembro. Além disso, Trump ainda continua a afirmar que houve fraudes nas eleições. Apesar de o Republicano não ter reconhecido a derrota oficialmente, em ato inédito na história dos EUA, Trump autorizou o início da transação de poder e Biden já anunciou diversos secretários e comitês para seu governo, que tem início em 20 de janeiro de 2021.

Nos Estados Unidos, um número crescente de governadores está se unindo às pressões para pedir que a Casa Branca e o Congresso se entendam para aprovar um novo pacote de estímulos à economia. Sem os recursos, estados não têm como ajudar pequenas empresas em meio à pandemia. As empresas, que geralmente recebem uma fatia menor da ajuda na comparação com os programas diretamente vinculados à emergência de saúde pública, estão em uma situação especialmente precária, sem contar que o Paycheck Protection Program (PPP), principal projeto de concessão de empréstimos a juros baixos, já se esgotou. Em todo o país os Estados enfrentam a maior crise de caixa desde a Grande Depressão, com déficits orçamentários que podem chegar a US$ 434 bilhões entre 2020 e 2022.

Reino Unido e União Europeia retomaram negociações neste último sábado, para tentar destravar um acordo para regular as relações comerciais após o fim do período de transição do Brexit, em 31 de dezembro de 2020. O negociador chefe da UE, Michel Barnier, confirmou nesta sexta (27) que iria até Londres para continuar dialogando com os britânicos, mas com um tom de cautela sobre a possibilidade de um acordo nos próximos dias. Em uma conversa com embaixadores da UE, Barnier afirmou que última rodada de negociações não rendeu frutos, uma vez que ambos os lados continuam discordando sobre os direitos da pesca em águas britânicas e sobre o pedido da UE que o Reino Unido garanta igualdade de condições na competição entre empresas.

ÍNDICES

O Relatório Focus, divulgado na segunda (23), exibe as expectativas dos economistas perante os principais indicadores econômicos do país. Segundo o relatório, os economistas do mercado financeiro projetam uma queda menor para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Na última semana, estava projetado com uma queda de 4,66% e nesta semana, a mediana das expectativas foi para uma retração de 4,55%. Para o próximo ano, 2021, a projeção foi elevada de 3,31% a 3,40%.

Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a mediana das projeções subiu de 3,25% para 3,45% em 2020 e de 3,22% para 3,40% em 2021.

Já para a taxa básica de juros, Selic, as estimativas continuaram em 2,00% a.a. para 2020, mas foram elevadas de 2,75% para 3,00% a.a para 2021.

Para o câmbio, os economistas reduziram suas expectativas para o dólar ao fim de 2020, caindo de R$ 5,41 para R$ 5,38. Em 2021, as projeções se mantiveram em R$ 5,20. No pregão de sexta-feira (27), o dólar comercial caiu 0,18% a R$ 5,3246 na compra e R$ 5,3256 na venda. Na semana, a moeda norte-americana se desvalorizou em 1,12% em relação ao real. O dólar futuro, com vencimento em dezembro, registrou leve alta de 0,14% a R$ 5,344 no after-market (pós fechamento de pregão).

DESTAQUES POSITIVOS

Companhia Siderúrgica Nacional — CSN (CSNA3) +20,11%

A CSN informou em comunicado no dia 19/11 que retomou as operações do alto-forno 2, localizado em Volta Redonda (RJ). O alto-forno havia sido paralizado temporariamente em 29 de maio deste ano. Segundo a CSN, o alto-forno 2 tem capacidade de 1,5 milhão de toneladas anuais, e sua retomada visa adequação à demanda de mercado.

Em relação ao aço, Arbetman da corretora Ativa acredita que a rápida recuperação da indústria local, que já opera em capacidade próximas a níveis pré-covid, é um indicativo de que a demanda deve continuar resistente.

A companhia encerrou o 3T20 com lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, revertendo prejuízo de R$ 871 milhões do ano passado.

Petrorio SA (PRIO3) +19,76%

A PetroRio assinou contrato com a BP Energy do Brasil para a aquisição das participações de 35,7% no bloco BM-C-30 no Campo de Wahoo e de 60% no bloco BM-C-32 no Campo de Itaipu por US$ 100 milhões, tornando-se assim, sujeito às aprovações, a operadora de ambos os campos de pré-sal. Segundo comunicado da empresa, Wahoo tem potencial de produzir mais de 140 milhões de barris.

Além disso, os contratos futuros de petróleo fecharam a sexta-feira (27) em alta, diante de uma importante reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) na próxima semana. Os contratos do petróleo tipo Brent, subiram 0,96% para fevereiro, aos US$ 48,25 o barril na bolsa de Londres. No acumulado da semana, a referência americana teve ganhos de 8,02% enquanto a global teve alta de 7,31%. No mês de novembro os ganhos são de aproximadamente 26% para o Brent e para o WTI (West Texas Intermediate).

DESTAQUES NEGATIVOS

Atacadão SA — Carrefour (CRFB3) -4,81%

As ações da rede de supermercados foram abaladas pelo ocorrido no último dia 19, onde seguranças assassinaram João Alberto de Freitas. Na segunda-feira (23) a rede anunciou a criação de um fundo de R$ 25 milhões para promover a inclusão racial e combater práticas racistas no Brasil. Após o anúncio do fundo, as ações da companhia tiveram queda de mais de 5%, enquanto o Ibovespa subia 1,2%.

Além do escândalo ocorrido, os papéis de CRFB3 já vinham caindo constantemente devido ao resultado apresentado no 3T20. Na sexta (27), o supermercado demonstrou ter aumentado as vendas em 31% no período. Ainda que os números tenham sido elogiados por analistas do Credit Suisse e Goldman Sachs, investidores realizaram lucro acreditando que a empresa já estava cara.

Cielo SA — (CIEL3) -3,59%

A Cielo informou que as vendas no varejo brasileiro tiveram queda de 14,5% na Black Friday desse ano, se comparado com o ano de 2019. O índice não considera apenas as maquininhas da Cielo, mas as vendas em geral. A queda foi puxada pelo varejo em geral, que obteve contração de 25,5%, enquanto o comércio eletrônico cresceu 21,2% em vendas.

Outro impacto claro da pandemia no coronavírus no resultado. As vendas em turismo e transportes caíram 50,7%, outros segmentos com queda foram cosmeticos (-41,4%) e vestuário (-36,7%).

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