Bolsa inicia o mês em queda puxada pelo déficit Orçamentário e retração da economia; Reforma administrativa enviada e tributária a caminho animam as expectativas

Rafael Nivoloni
Liga de Mercado Financeiro Bauru
6 min readSep 7, 2020

Análise Bovespa (31/ago a 04/set)

O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa, iniciou a semana na segunda-feira (31/08) em queda de 2,72% aos 99.369 pontos, encerrando o mês de agosto com uma perda acumulada de 3,44%. Com isso, agosto foi o primeiro mês com desvalorização mensal do índice desde março, interrompendo a sequência de altas após o crash do coronavírus. Ainda na segunda (31), a bolsa refletiu uma maior preocupação com o ambiente fiscal após a entrega do Orçamento de 2021, no qual o governo elevou a projeção de déficit fiscal para R$ 233,6 bilhões. Apesar do fechamento negativo do Ibovespa, as bolsas americanas fecharam o mês em alta. Os índices Dow Jones e S&P 500 tiveram o melhor desempenho desde meados de 1980.

Na terça (01/09) o ibovespa reverteu a queda da véspera e encerrou o dia com alta de 2,82% aos 102.167 pontos, devido a série de notícias positivas no âmbito político de que o presidente enviaria a proposta da reforma administrativa na quinta-feira (03) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, enviaria a reforma tributária e a PEC do Pacto Federativo em breve. As notícias positivas acabaram por ofuscar o dado abaixo do esperado do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados no início do dia, que relatou uma retração de 9,7% no período.

Na quinta-feira (03/09), o inicio do pregão foi acompanhado pelo detalhamento da reforma administrativa que chegou a melhorar o humor do mercado brasileiro, fazendo com que o Ibovespa subisse mais de 1%. Porém o movimento foi posteriormente revertido pelo cenário externo, no qual houve uma elevada venda de companhias de alta tecnologia nos EUA. Dessa forma, acompanhando Wall Street, o Ibovespa fechou o dia com queda de 1,17%.

O Ibovespa virou novamente para alta na sexta-feira (04/09), dia marcado por elevada volatilidade dentro da bolsa, porém não conseguiu apagar a queda total de 0,88% na semana, fechando com 101.241 pontos. Vale ressaltar que segunda-feira (07) é feriado no Brasil e, geralmente antes de feriados, os investidores tendem a ser mais cautelosos devido a impossibilidade de operar por muitos dias.

Governo

A aprovação do projeto do novo marco legal do gás na Câmara foi destaque na quarta-feira (02). O projeto trata de uma aposta do governo para destravar investimentos de até R$ 43 bilhões, com objetivo de abrir a concorrência no setor e baratear o preço do gás e industrializar o país. O mercado de gás era, até recentemente, dominado pela Petrobras, que decidiu deixar o ramo de distribuição e vender sua malha de gasodutos e estruturas essenciais.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem a expectativa de que o preço do gás possa cair 40%. Com o projeto, novos investimentos podem garantir uma melhor e maior infraestrutura para transportar, escoar e armazenar o gás.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, divulgado na terça-feira (01) pelo IBGE, teve queda de 9,7% no 2°trimestre de 2020 se comparado com o 1°trimestre, trazendo impactos mais profundos da pandemia do coronavírus. Comparando com o mesmo período de 2019, o PIB caiu 11,4%. Ambas foram as quedas mais intensas da série histórica de quedas desde 1996.

Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre de 2020 totalizou R$ 1,653 trilhão, sendo R$ 1,478 trilhão em Valor Adicionado (VA) e R$ 175,4 bilhões em Impostos sobre produtos líquidos de Subsídios.

A proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Reforma Administrativa, enviada pelo governo na quinta (03), tem espaço para ser aprovada ainda durante o mandato de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como presidente da casa legislativa. O texto da Reforma não mexe com os atuais servidores públicos, mas acaba com a estabilidade para os novos servidores. Dados do Ministério da Economia indicam que a despesa com pessoal civil ativo do Poder Executivo somava R$ 44,8 bilhões em 2008 e chegou a R$ 109,8 bilhões em 2019, resultando em um aumento de 145%.

Internacional

O Departamento de Trabalho norte americano registrou, na última sexta-feira (4), a criação de 1,37 milhão de novos empregos em agosto. O número veio pouco acima do esperado por economistas do consenso da Bloomberg, que apontava para a criação de 1,35 milhão de vagas no período. A taxa de desemprego atingiu 8,4%, ante estimativas de que caísse de 10,2% para 9,8%. O número de desempregados nos EUA caiu em 2,8 milhões, quarta queda mensal seguida da taxa, que atingiu seu pico de 14,7% em abril.

Ademais, os EUA tiveram 881 mil novos pedidos de seguro desemprego na semana anterior, como divulgado pelo Departamento de Trabalho do país na quinta-feira (3). O número veio abaixo das expectativas dos economistas que apontavam para 950 mil requisições do benefício.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Austrália registrou queda de 7% no segundo trimestre de 2020, segundo dados publicados pelo escritório de estatísticas australiano. No primeiro trimestre deste ano, o PIB do país já havia caído 0,3%. O desempenho fraco marca a primeira recessão da economia australiana em 29 anos, sendo a primeira vez que o indicador fica abaixo por dois períodos consecutivos.

Os impactos da pandemia de covid-19 em todo o mundo fez com que apenas dois países, China e Índia, registraram crescimento econômico no levantamento sobre o desempenho do PIB em 48 países. Segundo Alex Agostini, analista da agência de classificação e risco, nem mesmo durante a crise de 2008 tantas economias ficaram no vermelho ao mesmo tempo. Para 2020, as estimativas é de que 92,9% de todas as economias do mundo registraram queda, recorde antes visto apenas em 1931 durante a Grande Depressão.

Índices

O Relatório Focus, divulgado na segunda-feira (31), exibe as expectativas dos economistas perante os principais indicadores econômicos do país. Segundo o relatório, os economistas do mercado financeiro alteram as suas projeções para a queda do Produto Interno Bruto do país em 2020 e esperam uma retração menor que a estimada.

Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as projeções subiram de 1,71% para 1,77% este ano. As expectativas para 2021 se mantiveram em avanço de 3% na inflação.

Já para a taxa básica de juros, a Selic, a projeção dos economistas continuou em 2% ao ano para o fim de 2020, porém foi reduzida de 3% para 2,88% ao ano em 2021.

Levando em consideração a situação atual da pandemia, o dólar iniciou a semana em alta de 1,2%, a R$ 5,4799 na compra e R$ 5,4807 na venda. Ao final da semana, o dólar encerrou em alta também, de 0,33% a R$ 5,3069 na compra e a R$ 5,3081 na venda. Na semana, a moeda norte americana se desvalorizou em 1,99% frente ao real, levando em conta que no mês de agosto, a moeda se valorizou 5,02% frente ao real.

A projeção para a moeda americana é de que termine 2020 cotada a R$ 5,25, contra os R$ 5,20 previstos na semana anterior. Para o ano que vem, a expectativa se mantém nos R$ 5,00.

Destaques Positivos

Fleury SA (FLRY3) +10,30%

A Fleury, uma das maiores e mais tradicionais empresas de medicina diagnóstica do país, fechou a semana com a maior alta da bolsa. O principal motivo da valorização das ações da companhia foi a divulgação, na terça-feira (01), do lançamento da marca Saúde iD, uma empresa baseada na ciência de dados e inteligência artificial.

A Saúde iD é uma plataforma que viabiliza interações entre clientes e prestadores de serviço, buscando garantir mais qualidade e eficiência durante a jornada do paciente.

EDP Energias do Brasil SA (ENBR3) +7,82%

A segunda maior valorização da bolsa na semana fica com a EDP, uma holding brasileira do setor elétrico que detém investimentos nos segmentos de Geração, Distribuição e Transmissão. A alta pode ser explicada pelo resultado da companhia e principalmente pela nova política de dividendos, prevendo distribuição de 25% do lucro líquido reportado, 50% do lucro ajustado, ou R$ 1 por ação.

Ademais, o governo publicou, na quarta (02), uma medida provisória que poderá impulsionar os negócios das “varejistas” de energia ao focar em contenção das tarifas das distribuidoras e trazer mecanismos de redução de incertezas nas operações elétricas.

Destaques Negativos

B2W Cia Digital (BTOW3) -11,47%

A B2W digital, uma das maiores empresa de e-commerce do Brasil, encerrou a semana com a maior queda do Ibovespa. A companhia fechou em baixa devido a forte correção nos papéis após ganhos expressivos desde o começo do ano, na esteira do forte crescimento do comércio online.

Cosan SA Industria e Comercio (CSAN3) -10,56%

O grupo Cosan, que atua nos setores de agronegócio e é a maior fabricante de etanol e exportadora de cana-de-açúcar do mundo, apresentou declínio na última nessa semana, ocupando a segunda posição de maior baixa. A queda vem devida a sequência de perdas de agosto, diante da redução dos preços do açúcar no mercado exterior. Além disso, os investidores aguardam eventuais IPOs (Ofertas Públicas Iniciais) de unidades da companhia como Compass Gás e Energia e, também, da Raízen Combustíveis, uma joint venture entre Shell e Cosan.

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