Crash do Petróleo americano (WTI), demissão do Ministro Sergio Moro, falha do remédio contra coronavírus, tensões internacionais e crise política brasileira.
Análise BM&FBovespa (20/abril a 24/abril)
O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa, fechou o pregão da última sexta-feira (24) em queda, encerrando a semana com perda de 4,63%. Na segunda-feira (20) o ibovespa atravessou um pregão instável e terminou o dia com ligeira desvalorização de 0,02% a 78.972 pontos. Na quarta-feira (22), após feriado, a bolsa atingiu os 80 mil pontos novamente, entretanto o índice encerrou a semana, na sexta-feira (24), com queda de 5,45% aos 75.330 pontos. As oscilações do índice acionário brasileiro, ao longo da semana, se deram de acordo com o humor do mercado com relação à queda histórica dos contratos futuros do barril de Petróleo do tipo WTI para valores negativos, devido a forte queda na demanda por conta do coronavírus, à notícia externa de que o antiviral Remdesivir, da Gilead Science, falhou nos testes de combate ao Covid-19 e também com a grande surpresa de pedido de demissão do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, após o presidente da república informar que iria exonerar o diretor-geral da PF.
Governo
O presidente Jair Bolsonaro voltou a confrontar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal no domingo (19), após discursar em frente ao Quartel-General do Exército para um grupo de manifestantes que pediam intervenção militar no país, fechamento do parlamento e retorno do Ato Institucional 5 (AI-5). Os atos e falas do presidente geraram preocupações entre governadores, prefeitos, ministros do STF e líderes do Congresso Nacional, que veem riscos de uma escalada de autoritarismo no país em tempos de pandemia que enfraquece o governo junto à opinião pública.
O governador do Estado de São Paulo, João Doria, disse na quarta-feira (22) que as propostas dos setores produtivos para a reabertura gradual de comércios e serviços serão submetidas à análise do Centro de Contingência do coronavírus de São Paulo. O governador reforçou a manutenção permanente do diálogo com os setores produtivos e empresariais, mas frisou que as atuais regras da quarentena só serão alteradas a partir de 11 de maio. Destacou também que, apesar das medidas de restrição adotadas desde março, 74% de toda a estrutura econômica de São Paulo permanece ativa. O isolamento não atinge indústria, agronegócio, construção civil, telecomunicações e energia, entre outros.
O ministro Sérgio Moro pediu demissão, nesta sexta (24), do comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. A decisão ocorreu após o presidente exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. A saída de Valeixo foi informada como “a pedido”, e seguida das assinaturas de Bolsonaro e de Moro. Mas o ex-ministro informou que foi pego de surpresa e não havia endossado a decisão. Na coletiva de imprensa, Moro revelou uma “insistência” do presidente da república em interferir diretamente na atuação da Polícia Federal. Segundo Sérgio Moro, o presidente pediu para substituir o diretor-geral da PF em busca de melhor interlocução e acesso a informações do órgão.
A área econômica do governo apelidou o Plano Pró-Brasil de “Dilma 3” por prever a ampliação do gasto público para a retomada econômica por meio de obras em infraestrutura. O apelido mostra a insatisfação da equipe econômica perante o programa de investimentos lançado pela ala militar do governo em conjunto com os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e Infraestrutura, Tarcísio Freitas. O apelido dado ao plano é uma alusão ao que seria uma continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que teve duas etapas durante os governos PT. As obras do PAC foram alvo de críticas porque, entre outros motivos, começavam com um orçamento e, quando terminavam tinham um custo duas ou até três vezes maior. O temor dos técnicos é que isso se repita caso a ala política ou militar do governo force o plano a fim de dar sinalização de retomada.
Índices
O Relatório Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira (20), exibe as expectativas dos economistas perante os principais indicadores econômicos do país. Segundo o relatório, os economistas do mercado financeiro projetam que o Brasil tenha uma recessão da ordem de 2,96% em 2020, dado bem mais negativo que o da semana anterior que tinha como mediana uma retração de 1,96%. Para 2021 a projeção foi elevada de 2,7% para 3,1%.
A expectativa para taxa básica de juros ao fim de 2020 teve uma redução de 3,25% para 3% ao ano. Para o próximo ano a projeção é mantida em 4,5%.
Em meio a medidas de isolamento social a fim de conter a disseminação do coronavírus, as expectativas para a inflação e crescimento da economia do país também foram novamente reduzidas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve projeção de alta cortada pela sexta vez consecutiva, indo de 2,52% para 2,23% em 2020 e de 3,5% para 3,4 % em 2021.
A previsão do mercado financeiro para o dólar teve alta de R$ 4,60 para R$ 4,80 ao fim de 2020. A divisa fechou a semana em alta de 8,25% sendo cotada na sexta (24) a R$ 5,6653 na compra, atingindo máxima histórica.
Internacional
O contrato do barril de petróleo americano WTI para maio, que venceu na terça (21), recuou mais de 300% ao longo da segunda (20) e fechou o dia cotado a um preço negativo pela primeira vez na história. O movimento reflete, segundo analistas, a percepção do mercado de que o corte de 9,7 milhões de barris diários, anunciado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+), não será suficiente para fazer frente à queda da demanda global por conta dos impactos causados pela pandemia. Segundo Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos especializado em petróleo, os produtores estão dispostos a pagar para conseguir estocar seu petróleo, em um cenário de baixa demanda. Na quarta-feira (22), os contratos de WTI voltaram a subir devido a uma reunião feita entre os membros da OPEP+ criando expectativas por novas medidas de corte e suspensão de produção. Além disso, o cenário de tensão internacional ajudou a puxar os preços da commodity. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou pelo Twitter que ordenou a Marinha a bombardear e destruir embarcações iranianas que ameacem navios americanos.
Enquanto isso, o número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos na semana passada foi de 4,427 milhões, levemente abaixo das expectativas compiladas pelo consenso Bloomberg. O número elevado evidencia que a pandemia de coronavírus continua com forte impacto na economia norte-americana. O Senado dos EUA aprovou na terça (21) um pacote de US$ 484 bilhões para fortalecer pequenas empresas e hospitais afetados pelo coronavírus, além de expandir testes para o Covid-19.
O antiviral remdesivir, da Gilead Sciences, não produziu melhora em pacientes com Covid-19, de acordo com um dos primeiros testes clínicos divulgados prematuramente e publicado na quinta (23) pelo Financial Times. A notícia fez com que os ganhos dos índices americanos fossem zerados, que momentos antes estavam ligeiramente positivos. Em resposta, a Gilead afirmou ao jornal que o documento vazado não estava adequado e os resultados são inconclusivos.
Destaques positivos e negativos
B2W (BTOW3) +11,13%
O banco HSBC elevou a recomendação da B2W para compra, com preço alvo de R$83. Segundo o banco, é provável que a B2W se beneficie de uma adoção mais ampla do comércio eletrônico da América Latina, pois a pandemia de Covid-19 deve moldar o comportamento do consumidor. Destaca, também que a B2W possui uma vasta rede logística reforçada por grande presença das Lojas Americanas e variedade de produtos. Ainda no radar do setor, a crise do coronavírus levou a Senacon, ligada ao ministério da Justiça, a acelerar a tomada de medidas sobre a atuação dos sites na venda de itens falsificados e recomendar novos controles aos marketplaces, trazendo maior segurança aos sistemas.
Suzano (SUZB3) +9,18%
A Suzano é uma das principais empresas brasileiras no quesito exportação de papel e celulose. Os preços da celulose de fibra curta na China teve alta durante a semana de +US$ 1,80 a tonelada para US$ 466,20 a tonelada. A expectativa de balanços mais fortes com a esteira de escalada do dólar e custos mais baixos favorecem a empresa em seus balanços e exportações.
IRB Brasil (IRBR3) -23,91%
O ressegurador IRB Brasil Re anunciou mudanças no Conselho de Administração. Após a renúncia de executivos indicados por acionistas da companhia como Bradesco e Itaú Unibanco, a empresa selecionou com auxílio de consultoria seus novos membros. De acordo com comunicado da companhia à imprensa, as denúncias foram motivadas pela necessidade de dedicação exclusiva dos profissionais às suas empresas por conta da crise do coronavírus.
CVC Brasil (CVCB3) -18,34%
O maior grupo de viagens brasileiro anunciou na quinta-feira (23) que contratou o Itaú BBA para realizar um possível processo de capitalização da companhia. A empresa afirmou que suas finanças permanecem sólidas e que a capitalização servirá para fortalecer o balanço a partir da retomada da demanda esperada para os próximos meses. A CVC afirmou em fato relevante que a capitalização servirá para “aproveitar outras potenciais iniciativas derivadas da revisão do plano estratégico em curso”. A empresa não informou sua posição atual de caixa, mas afirmou que permanece avaliando opções de proteção de sua situação financeira.