O ano novo chegou com inúmeras incertezas para o Ibovespa.

Victor Hugo Valença
Liga de Mercado Financeiro Bauru
6 min readJan 10, 2023

Análise Bovespa 02/01–06/01

Introdução:

Na primeira semana no ano de 2023, o Ibovespa sofreu altas e baixas muito por conta do noticiário político envolvendo o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e foi pouco influenciado por outros mercados. Quanto as declarações, houve divergências nas falas de ministros que ora apontavam para pouca intervenção na economia e ora para o oposto disso, algo que fez as ações apresentarem alta volatilidade neste período. O Ibovespa fechou a semana com uma leve queda de -0,7% chegando na sexta-feira (06/01) com 108.964 pontos. O dólar comercial à vista caiu -2,13% neste fechamento, a R$ 5,2370 na venda. Na semana, a moeda americana recuou -0,7% em relação ao real.

Segunda-feira (02/01)

No primeiro pregão do ano, o índice fechou com queda de -3,06% e 106.376 pontos. O giro financeiro da sessão foi de R$ 15,4 bilhões. O dólar, por sua vez, registrou alta de +1,51% em relação ao real, chegando em R$ 5,359/US$.

O Ibovespa encerrou a sessão próximo das mínimas do dia. A bolsa brasileira atuou sem sua principal referência, S&P500, onde as operações seguiram estagnadas devido às celebrações de Ano Novo. Dessa maneira, o cenário político roubou os holofotes nas decisões desta sessão e deu norte ao investidor local.

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo (01/01), e a formalização de seus ministros deu início ao novo governo brasileiro, representando incertezas em relação ao mercado.

O presidente renovou a desoneração dos combustíveis acarretando no descontrole da inflação a longo prazo. Fernando Haddad, entretanto, assumiu o Ministério da Fazenda com um discurso amigável para o mercado, se comprometendo com as responsabilidades fiscais e a reforma tributária.

Terça-feira (03/01)

O Ibovespa fechou a sessão em queda de -2,08%, aos 104.165 pontos. O giro financeiro do dia foi de R$ 25,7 bilhões. O sentimento de aversão ao risco, novamente, foi combustível para a alta do dólar. A moeda americana também teve um dia positivo frente a outras divisas pelo mundo. O dólar comercial fechou em alta de 1,72%, a R$ 5,452 na compra e na venda.

As primeiras negociações do ano ocorreram em Wall Street sem muito impacto para o cenário brasileiro até então, portanto, a bolsa foi mais uma vez influenciada pelo noticiário político, que apresentou declarações negativas para o mercado, e por um repentino recuo do petróleo.

Ao assumir o Ministério da Previdência, Carlos Lupi afirmou considerar alto os juros do crédito consignado para aposentados do INSS, o que sensibilizou papéis de grandes bancos. Com a pretensão de interromper privatizações, a autonomia de Fernando Haddad seguiu sendo questionada pelos investidores.

O petróleo despencou no mercado internacional. O barril do Brent para março caiu -4,1%, para US$ 82,43, com uma nova contração da atividade industrial da China, segundo maior importador global da commodity. A Petrobras acumulou perdas de quase 10% e seu futuro seguiu incerto até então perante ao governo.

Quarta-feira (04/01)

O principal Índice da Bolsa brasileira, após cair mais de 5% nos dois primeiros dias de mandato do novo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, teve seu primeiro dia de ganhos em 2023, fechando em alta de 1,12%, aos 105.334 pontos. Mais uma vez o destaque ficou com o panorama político.

Declarações do novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, animaram o mercado, visto que houve descarte de uma intervenção direta na política de preço estatal, algo que influencia propriamente a ação de investidores, que preferem alterações de menor impacto neste cenário.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, negou que o governo está avaliando revisão de reformas, como antes declarado por Carlos Lupi, ministro da Previdência, dando indícios de certa estabilidade econômica, afetando positivamente a Bolsa.

Quinta-feira (05/01)

O Ibovespa fechou em alta de 2,19% aos 107.641 pontos, em sua segunda sessão de ganhos expressivos. No acumulado da semana, contudo, tem baixa de cerca de 1,91%. Na sessão, o principal índice da Bolsa brasileira foi na contramão do que foi visto nos Estados Unidos, beneficiado pelo noticiário interno.

Em discurso de posse do comando do Ministério do Planejamento, Simone Tebet reconheceu divergências com outros integrantes da equipe econômica do governo, mas prometeu sintonia, falando em colocar o brasileiro no Orçamento mas com responsabilidade fiscal. Já Luiz Inácio Lula da Silva, estaria buscando evitar sinais trocados de ministros.

Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram ações ligadas ao mercado interno. Os papéis ordinários da Americanas (AMER3) e da Locaweb (LWSA3) avançaram 11% e 9,18%. Os preferenciais da Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), 7,46% e 9,38%.

Sexta-feira (06/01)

O Ibovespa fechou em alta de 1,23% aos 108.964 pontos. Com a ajuda do pregão de hoje, as fortes quedas que o principal índice da Bolsa brasileira registrou nos dois primeiros pregões do ano foram praticamente apagadas, mas o benchmark ainda fechou a semana recuando 0,70%.

Em grande parte, a recuperação se deu após o novo presidente ter sinalizado que quer colocar “ordem na casa”. Em reunião com seus ministros realizada hoje, Lula falou que o Governo “não é de pensamento único” e que haverá esforços para chegar a pontos comuns.

Destaques internacionais

Ata mais recente do Fed

A decisão de política monetária do Fed em dezembro marcou uma desaceleração em relação aos quatro aumentos consecutivos de 0,75% observados nas reuniões anteriores. Apesar da disposição de avançar em um ritmo mais lento de aumentos, os membros do Fed na reunião apoiaram a necessidade de aumentar ainda mais as taxas de juros, atualizando suas previsões sobre o nível máximo das taxas, ou a taxa terminal.

Na reunião, os membros do Fed estimaram uma taxa média de 5,1% em 2023, acima da previsão anterior de 4,6%, sugerindo uma faixa-alvo de 5% a 5,25%, ou cerca de outros 75 pontos-base de aumentos de juros à frente.

A perspectiva mais agressiva de aumento de juros do banco central chegou enquanto os membros do Fed se preparavam para um ritmo ainda mais acelerado da inflação, elevando sua perspectiva de pressões de preços para 3,5% em 2023, acima da previsão anterior de 3,1%.

Os dados mais recentes que apontam para um mercado de trabalho ainda apertado, que ameaça alimentar ainda mais o crescimento dos salários e a inflação, delinearam a necessidade de o Fed continuar apertando a política monetária.

Setor de serviços americano / Payroll

O setor de serviços do país voltou a contrair, segundo medição do ISM. Segundo o PMI do setor, a queda foi de 56,5 para 49,6 em dezembro. Um recuo visto pela última vez em maio de 2020.

O principal destaque dessa semana foi o payroll. Os EUA criaram 223 mil empregos em dezembro, segundo o relatório payroll divulgado pelo Departamento do Trabalho há pouco. A abertura de postos de trabalho veio acima da expectativa, de 210 mil.

Destaques positivos:

As três ações que mais subiram na semana foram CSN (CSNA3), Americanas (AMER3) e Qualicorp (QUAL3).

CSN (CSNA3): 11,82%, R$ 16,27

A CSN liderou a ponta positiva do Ibovespa nesta primeira semana, com ganhos de 11,82% e cotada a R$ 16,27. Nos primeiros pregões, a companhia foi beneficiada pela alta do dólar. Depois, conseguiu surfar a extensão do estímulo anunciado pela China para aquisição do primeiro imóvel, o que beneficia a siderurgia em geral.

Americanas (AMER3): 7,88%, R$ 10,41

O desempenho positivo de Americanas na semana foi praticamente todo conquistado na sexta-feira, dia em que as curvas de juros futuros reduziram frente a sinalizações mais positivas do novo governo. O movimento beneficiou o setor de varejo e permitiu que as ações da companhia fechassem a semana com alta de 7,88% a R$ 10,41.

Qualicorp (QUAL3): 6,58%, R$ 6,32

Os papéis da Qualicorp também ganharam tração nesta sexta-feira, o que permitiu uma valorização semanal de 6,58%. As ações encerraram o período cotadas a R$ 6,32.

Destaques negativos:

As três ações que mais caíram na semana foram São Martinho (SMTO3), Raízen (RAIZ4) e Alpargatas (ALPA4).

São Martinho (SMTO3): -14,97%, R$ 22,55

Um dos primeiros atos da nova gestão da São Martinho foi assinar uma Medida Provisória que estende por mais dois meses a isenção de impostos nos combustíveis. A perspectiva de que o preço da gasolina deve continuar mais baixo pesou para que as ações da empresa do setor sucroenergético e ligada ao etanol, liderasse as quedas da semana no Ibovespa. A SMTO3 caiu 14,97% aos R$ 22,55.

Raízen (RAIZ4): -13,90%, R$ 3,22

As ações da Raízen caíram 13,90% na semana, encerrando o período cotadas a R$ 3,22. Os papéis da exportadora foram penalizados pela queda do dólar nos últimos pregões, além da desvalorização do preço do açúcar.

Alpargatas (ALPA4): -8,02%, R$ 13,87

As ações da Alpargatas cederam 8,02%, fechando a semana a R$ 13,87.

--

--