Recordes de fechamentos das Bolsas estadunidenses, Conflito entre Índia e China, e pacotes de estímulos na União Europeia.

Leonardo Rosa
Liga de Mercado Financeiro Bauru
12 min readSep 19, 2020

Os impactos gerados pela pandemia de Covid19 foram sentidos profundamente pelos mais diversos países, porém certamente os efeitos econômicos atuaram com níveis diferentes, de acordo com a situação presente de cada país. Dessa forma, após dois trimestres desde o início da pandemia, conseguimos ver as diferentes performances financeiras e setoriais ao redor do mundo, bem como suas situações atuais. Assim, no período em questão, foi possível analisar como variados países ao redor do mundo têm relacionado suas questões geopolíticas, sociais, econômicas e culturais, com os efeitos promovidos da pandemia.

Estados Unidos

No decorrer do período de análise, o Índice Dow Jones demonstrou considerável volatilidade, uma vez que diversos fatores políticos, econômicos e sociais fizeram Wall Street performar com grandes altas, porém verificando também intensivas quedas. O período foi marcado pela sequência de recordes de fechamentos dos índices da bolsa americanas NASDAQ e S&P500 e a melhor marca, em 36 anos, do Índice Dow Jones para o mês de agosto.

O início da última semana de agosto foi marcado por alta expectativa por parte dos investidores norte-americanos, denotado pelo grande otimismo em relação às pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. Iniciando a semana de maneira positiva, na segunda feira (24/08), os índices da bolsa americanas, NASDAQ e S&P50, registraram recorde de fechamento; já o índice Dow Jones, mesmo não atingindo recorde de fechamento, terminou em alta de 1,35%, que pode ser explicada pelas notícias divulgadas pelo jornal inglês Financial Times, as quais elucidam que o governo americano estudava pular etapas regulatórias em relação ao desenvolvimento (pela farmacêutica AstraZeneca) da vacina, podendo esta ser liberada a população antes das eleições de novembro.

Nas semanas seguintes, Wall Street presenciou uma grande movimentação denotada pelo setor de Tecnologia. Com a notícia do desdobramento das ações da Apple, o que resultou numa remodelação do Índice Dow Jones, com a redução do peso da Apple. Além disso, houve alterações importantes no Índice, marcando a saída da “gigante do petróleo” Exxon Mobil, e entrada da Salesforce.com, empresa do ramo de tecnologia. Além do desdobramento das ações da Apple, outra empresa notória no ramo de tecnologia, Tesla, anunciou o desdobramento de suas ações; dessa forma, investidores aprovaram os anúncios da Apple e da Tesla, ajudando a estender o rali das ações das empresas, que junto com muitas outras de tecnologia, tiveram grande alta à medida que o mercado emergia das mínimas de março induzidas pela pandemia.

Em contrapartida, o setor de energia (petróleo, gás natural, etc.) teve sua produção afetada devido a atuação do Furacão Laura presente no Golfo do México. A produção de petróleo de mais de 1 milhão de barris por dia foi interrompida devido às tempestades, a Bureau de Segurança e Fiscalização Ambiental estimou na terça-feira que cerca de 84% da produção de petróleo no Golfo do México, equivalente a 1,6 milhão de barris por dia, foi fechada. Porém, no final de agosto e início de setembro, após a passagem do Furacão os preços do petróleo, se recuperaram à medida que o furacão Laura avançava pelos EUA de forma muito reduzida, sem causar qualquer tipo de dano duradouro à infraestrutura de energia da região do Golfo.

Nas últimas semanas do período de análise, por volta da segunda semana de setembro, o Índice Dow Jones se viu decair de forma contundente. Influenciado pelo início do declínio das ações do setor de tecnologia, em contrapartida ao aquecimento de tal setor verificado no meio de agosto. Além da perda de força das ações do setor de tecnologia, outro fator que influenciou retração em Wall Street, foram os elevados dados sobre auxílio desemprego, onde o número de cidadãos que solicitaram tal auxílio continuou extremamente alta, enquanto o nível de empregos permanece em queda, segundo “Institute of Supply Management”(ISM).

Canadá

Marcado por intensas quedas devido a lenta recuperação do mercado Canadense pós pandemia, o Índice S&P/TSX, performou de forma retraída no período em análise, com grande influência da Bolsa estado-unidense.

Mesmo com a retração verificada, um dos fatores que chamaram a atenção em tal período foram os sinais positivos demonstrados pelo Índice, uma vez que no final de agosto uma onda de otimismo foi verificada com a subida do índice, verificando um alívio da crise induzida pelo Covid-19; tal otimismo foi incentivado pelos ganhos nos setores financeiro e de energia.

As ações das empresas dos setores financeiros demonstraram grandes volumes de negociações, antes da entrega de seus relatórios trimestrais; assim, empresas como Toronto-Dominion Bank e Bank of Montreal tiveram altas em suas ações, devido à grande expectativa por parte dos acionistas, incentivados por dados econômicos do positivos do Canadá. Além disso, o setor de energia demonstrou uma interessante subida, influenciado pela retomada do setor de petróleo estadunidense, que retomou sua produtividade após o furacão Laura não ter impactado como esperado. Empresas canadenses como Suncor Energy Inc., a maior empresa de energia do Canadá em capitalização de mercado, teve suas ações negociadas em grande volume, devido à elevação no preço do petróleo.

Porém, influenciado pelas movimentações financeiras em Wall street, quando os investidores se desfizeram do setor de tecnologia em alta após dados econômicos destacaram uma recuperação longa e difícil. O S & P / TSX Composite Index, principal índice de referência canadense, verificou em tal período, uma queda acentuada denotada grandemente pelo setor de tecnologia.

México

O período em análise demonstrou intensa queda no mercado acionário mexicano, uma vez que a onda de desemprego nos EUA gerou preocupações quanto a sua recuperação econômica; além disso, o impacto econômico causado pela pandemia de Covid-19 intensificou os impactos no mercado de ações.

A taxa de inflação anual no México aumentou para 4,05% em agosto de 2020 de 3,62% no mês anterior e em comparação com as expectativas do mercado de 4,02%. Foi a maior taxa de inflação desde maio do ano passado, configurando resumidamente um aumento de preços de 0,39% para o consumidor, fator esse que influenciou a retração da bolsa mexicana.

Além disso os investidores estão migrando para os títulos do governo mexicano, à medida que a piora das perspectivas econômicas empurrou os rendimentos da dívida de longo prazo do país para o nível mais baixo desde 2015; dessa forma o mercado acionário torna-se menos atrativo ao investidor mexicano.

Colombia

O mercado acionário colombiano verificou no período de análise uma considerável guinada. Influenciado por fatores como o capital disponibilizado por indenizações de seguro-desemprego. De acordo com dados da Associação Colombiana de Administradores de Fundos de Pensão e Demissões (Asofondos), os colombianos retiraram US $ 4,2 bilhões em indenizações até agora em 2020.

Desde o início da pandemia no final de março e até julho, os quatro administradores de fundos de pensão e indenizações (Colfondos, Porvenir, Protección e Skandia) relataram que o uso total de indenizações por demissão atingiu US $ 2,18 bilhões. Segundo dados do comissionista Casa de Bolsa, o valor do repasse das verbas rescisórias seria de US $ 4,07 bilhões, dinheiro que iria dinamizar o mercado acionário colombiano. Esta mudança pode impulsionar o mercado acionário colombiano, gerando oportunidades de compra de ações durante o mês de agosto, dada a sua longa defasagem em relação a outras bolsas latino-americanas e globais.

Porém, mesmo com a performance positiva no período em questão das 25 ações que integram o da Colcap para o terceiro trimestre do ano, apenas as da Mineros, Grupo Energía Bogotá (GEB), ISA e Celsia encerraram o mês de agosto com uma cotação superior à registada na abertura do mercado de 2 de janeiro. Raúl Moreno, diretor de estratégias de mercado da Global Securities, indicou que essas quatro empresas fazem parte de “setores que foram defensivos durante a pandemia”.

Argentina

Em meio ao difícil contexto econômico e aguardando a apresentação do orçamento para o próximo ano, a bolsa de Buenos Aires denota terreno negativo. Há grande expectativa marcada por negociações externas para reestruturação de uma dívida de 65 bilhões de dólares. O governo também revelou um orçamento ambicioso, visando um déficit fiscal de 4,5% do PIB em 2021 e agora está em negociações com o FMI para chegar a acordo sobre um novo programa para substituir um acordo de $ 57 bilhões, fechado em 2018.

O peso argentino continuou a se desvalorizar, ultrapassando 75,3 em relação ao dólar, seu menor nível já registrado depois que o banco central do país apertou os controles sobre a compra de dólares no mercado de câmbio estrangeiro.

O Índice de Preços ao Consumidor da Argentina aumentou 2,7% em uma base mensal em agosto de 2020, sendo que, em resumo, os preços ao consumidor saltaram 40,7% em agosto, desacelerando de 42,4% em julho.

“Não há dúvida de que os sinais que o Governo tem dado não são bem recebidos pelo mercado. Para conseguir uma mudança sustentada de tendência, algumas modificações no plano econômico serão necessárias para ajudar a melhorar as expectativas”, indicaram do Portfolio Personal Inversiones ( PPI).

Chile

A bolsa chilena, S&P CLX IPSA, obteve um declínio entre os meses de agosto e setembro de 2020. Essa diminuição pode ser explicada por alguns fatores, como exemplificado a seguir.

No mês de agosto de 2020, o superávit comercial do Chile teve um aumento de US $ 904 milhões, e em comparação com o mês de julho, teve um resultado de US $ 252 milhões. Mas, ao contrário deste cenário, as importações e exportações tiveram um declínio. As importações caíram 22,4% em relação ao ano anterior, para US $ 4.517 milhões. Já as exportações caíram em menos 10,8 por cento para US $ 5.421 milhões. Fator que influenciou diretamente nas empresas listadas na bolsa Chilena.

Além disso, o impacto pelos efeitos da pandemia foram sentidos especialmente nas atividades de serviço e construção civil e, em menor medida, no comércio e na indústria manufatureira. Durante o segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Chile caiu 14,1% na comparação anual, afetado pelas restrições impostas pela pandemia, que geraram quedas em todos os setores, exceto a mineração. Para todo 2020, o Banco Central estimou uma queda do PIB de até 7,5%, a pior em 35 anos, devido ao impacto do coronavírus.

Japão

Diante de um cenário com muitas economias asiáticas apresentando perspectivas incertas, o Nikkei 225 demonstrou resultados surpreendentes no último mês. A recuperação do índice japonês têm sido extremamente rápida, mesmo após a queda de 1,41% da bolsa asiática no dia 28 de agosto.

A renúncia do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, premiê que mais tempo ficou no cargo na história do país, foi recebida negativamente pelos investidores, já que Abe consolidou uma posição de reavivamento do crescimento do país.

Nesta semana, o presidente do Banco Central japonês, Haruhiko Kuroda, disse que manterá uma comunicação próxima com o novo primeiro-ministro do país, Yoshihide Suga. Kuroda também anunciou a manutenção das configurações da política monetária do país e uma melhora de sua avaliação quanto à economia japonesa para os meses seguintes.

China

O anúncio do governo chinês de manter a taxa básica de juros para empréstimos corporativos e residenciais no dia 20 de agosto resultou na maior depreciação do mercado de ações de Xangai em quatro semanas, o que ocasionou um retrocesso de 1,30% do índice chinês CSI300, atingindo o patamar de 4.679 pontos.

Além disso há uma enorme preocupação em relação à possível reeleição do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e aos impactos diretos que ela teria na economia chinesa. Em um de seus discursos, Trump ameaçou impor “tarifas altíssimas” sobre as importações da China e bloquear os contratos federais das empresas americanas que terceirizam empregos para o país asiático. Rumores de que o presidente norte americano estaria cogitando incluir a SMIC, maior fabricante de chips da China, em sua lista de restrições a exportações tiveram um impacto imediato nas bolsas asiáticas no dia 7 de setembro.

Por outro lado, a bolsa chinesa também refletiu resultados positivos durante o período analisado. Notícias como a aceleração mais forte em oito meses da produção industrial da China atreladas ao crescimento das vendas varejistas pela primeira vez neste ano no país, sugerem que a recuperação econômica está ganhando ritmo conforme a demanda começa a melhorar da crise do coronavírus. Ademais, informações sobre uma possível disponibilidade da vacina chinesa para a população em novembro exaltou os investidores da bolsa chinesa.

Índia

A economia indiana apresentou a sua pior queda em décadas durante o trimestre de junho, o que representa um encolhimento de quase um quarto em relação ao período anterior. De acordo com alguns economistas, esse número pode ser ainda maior se os danos sofridos pelo setor informal fossem conhecidos e mensurados.

Na quinta-feira (3), a Sensex apresentou a sua maior queda em termos absolutos e percentuais desde 18 de maio de 2020. Esse resultado reflete uma série de acontecimentos, dentre eles encontram-se principalmente as novas tensões na fronteira entre o Índia-China. O governo indiano emitiu uma nota no ínicio do mês de setembro alegando que “o Exército de Libertação Popular tem violado abertamente acordos e realizado manobras agressivas, enquanto a aproximação nos níveis militar, diplomático e político está em andamento”.

Somados a esse episódio estão os bloqueios econômicos causados pela pandemia do coronavírus, que refletem uma situação econômica marcada por uma inflação de quase 7% em meio à desaceleração do crescimento e enfraquecimento da demanda interna. Por fim, notou-se uma nítida desconexão entre as ações da bolsa indiana, que encontravam-se supervalorizadas e o atual momento econômico do país, o que serviu para uma correção de preços de ações da BSE Sensex de forma natural.

Alemanha

De acordo com o balanço referente ao segundo trimestre divulgado pelo governo alemão, entre abril e julho a economia do país contraiu 9,7% no 2º trimestre ante uma previsão de 10,1%. Os dados mostram que a taxa de crescimento da produção industrial da Alemanha em julho foi muito menor do que o esperado, indicando que a maior economia da Europa segue um lento retorno após os impactos decorrentes da pandemia do coronavírus.

A exposição de dados econômicos pessimistas atingiram os mercados de ações regionais na semana do dia 21 de agosto, ocasionando quedas sucessivas. O índice DAX registrou perdas semanais alcançando 12.764 pontos e uma redução de 0,51% à medida que os casos de coronavírus aumentam não só em território alemão, mas como em todo o continente europeu.

O período também foi marcado pela notícia de distribuição de 750 bilhões de euros (US$ 885 bilhões) em subsídios e empréstimos pela União Europeia para a recuperação da pandemia. De acordo com a Bloomberg, a Alemanha receberá 15,2 bilhões de euros em subsídios da UE e planeja usar essa quantia para não contrair dívidas adicionais e poder financiar novas iniciativas de crescimento.

Reino Unido

O impasse na resolução de acordos comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia após o Brexit causou fortes reações no FTSE 100 em Londres. O governo britânico chegou a intensificar seus preparativos para deixar o bloco caso não houvesse progresso em nenhum acordo econômico entre as duas partes, em uma tentativa de pressionar o parlamento europeu.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson chegou a sinalizar que não estava disposto a acatar no futuro o Acordo de Retirada que seu governo assinou no ano passado, que propõe a suspensão temporária do Reino Unido em deixar o mercado único da UE.

Tais ações combinadas à queda recorde de 20,4% no PIB do Reino Unido durante o segundo trimestre, a maior contração relatada por qualquer grande economia e uma desvalorização da libra esterlina para uma mínima de um mês e de três semanas em relação ao euro resultaram em baixas durante o mês de setembro.

França

Em Paris o índice CAC-40 caiu 0,38%, batendo 5.023,93 pontos após o Banco Central Europeu (BCE) anunciar a manutenção das taxas de juros. Outro fator motivador para a queda na bolsa francesa no período analisado foi a divulgação da queda do PMI (Índice Gerente de Compras) de agosto que ficou em 51,7 em relação aos 51,8 alcançados em julho, o que sugere um esfriamento na atividade manufatureira do país.

Há ainda uma enorme preocupação quanto ao corte de empregos na França visto que observou-se um aumento expressivo em agosto. No próprio setor automobilístico, a declaração da presidente Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen de uma espera por reduções de emissões de carbono na União Europeia de 40% para 55% em 2030, proposto pelo acordo de Paris refletiu em um aumento de incertezas para o setor, resultando em perdas nas ações de montadoras como Renault, que teve uma queda de suas ações de 1,75%, e Peugeot (-0,94%) durante o dia 16/09.

Conclusão

Os balanços dos resultados econômicos dentro do segundo trimestre de 2020 mostraram a notoriedade e a força dos impactos decorrentes da pandemia do coronavírus, totalizando muitas perdas ao longo de diversas potências mundiais. Se por um lado verificamos países asiáticos e europeus com uma recuperação acima do esperado com forte atuação governamental, por outro constatamos economias latino-americanas ainda mais enfraquecidas e deficitárias somando problemas ocasionados pela pandemia aos pré-existentes como dificuldade de controle inflacionário e dívidas nacionais elevadas.

Escrito por: Leonardo Rosa e Daniela Yumi

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