Retração da prata pressionado pelo dólar; avanço das exportações de carne suína; retração no Café robusta devido incertezas referentes ao clima; possível crise de demanda no mercado asiático de açúcar.
Análise de Commodities (12/set a 09/out)
Commodity mineral
Prata Futuros — Dez 20 (ZIZ0)
Máxima: U$27,87 em 15/09
Mínima: U$21,81 em 24/09
Maior variação diária: -9,29% em 21/09
Variação 12/set — 09/out: -6,51%
Influenciado por diversos fatores, os contratos futuros da prata tiveram seu desempenho marcado por uma recorrente variação negativa. Tal fator pode ser descrito como uma reação do mercado em decorrência de certos sinais, os quais levaram os investidores manterem posição recuada quanto a perspectiva futura.
Na semana do dia 21/09, o mercado demonstrou grande retração a respeito da commodity em questão; os fatores que decorreram a tal situação foi o fato de uma redução em 3% das participações de prata no ETF iShares Silver Trust (NYSE:SLV), totalizando 555 milhões de onças. A contextualização de tal ocorrência com a queda nos preços da commodity pode pelo fato de que investidores que investem em metais e commodities, como petróleo, prata e ouro, tendem a colocar seu capital em ETFs lastreados em metais em vez de comprar futuros ou o metal físico, principalmente devido aos baixos custos de transação. No entanto, os investidores começaram a tirar dinheiro desses ETFs, especialmente fundos negociados em bolsa lastreados em prata, assim levantando preocupações de que a recuperação da prata possa ter acabado.
Além disso, outro fator que influenciou a performance da commodity em questão foi a influência do dólar e da economia dos EUA. Em julho, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu manter as taxas de juros do país na faixa entre 0% e 0,25%. Dessa forma acarretou uma baixa atratividade de investimentos em renda fixa. “Os preços do ouro e da prata estiveram sob alguma pressão ultimamente, devido, entre outras coisas, a preocupações com uma recuperação mais lenta da demanda, mas principalmente por causa da recuperação do dólar”, afirma o analista de mercado Fawad Razaqzada, da Think Markets. “No entanto, como os rendimentos dos títulos permaneceram baixos, a pressão de venda de ouro e prata não foi muito forte”, acrescenta o profissional.
Commodities Agrícolas
Porco Magro Futuros — Out 20 (HEV0)
Máxima: U$78,20 em 09/10
Mínima: U$64,15 em 16/09
Maior variação diária: 4,15% em 22/09
Variação 12/set — 09/out: 17,35%
No período em análise, é possível observar que a variação da commodity é positiva (17,35%). A receita obtida com exportações de carne suína no mês de setembro cresceu em relação a igual mês de 2019, assim como o volume embarcado. Em contrapartida, foi observado uma retração do faturamento para as carnes bovina e de frango, com exceção da carne vermelha que não teve retração quanto à seu embarque e volume.
Pela variação positiva, observa-se que o rebanho da China está se recuperando após ter sido dizimado pela peste suína africana (PSA) que se caracteriza por ser uma doença viral infecciosa a qual afeta suínos domésticos e selvagens. Entre 2000 e 2018, a China, maior consumidora de carne suína do mundo, estava praticamente autossuficiente com as importações, alcançando em média 1% da produção. No pós peste suína, a produção de carne suína da China caiu para seu nível mais baixo em 16 anos em 2019. Nesse cenário, 60% das matrizes reprodutoras foram perdidas até o segundo semestre de 2019 e consequentemente a produção sofreu um déficit significativo.
No entanto, os preços da carne suína dispararam para novas máximas, as quais têm se mantido durante grande parte deste ano. Um documento governamental com planos para o setor animal do país reforça a meta de reconstruir rapidamente seu enorme rebanho de porcos após a PSA, e a China tem como meta produzir internamente 95% de sua carne suína, apesar do objetivo o país não apresentou um prazo definido para o cumprimento da meta.
Analisando o cenário brasileiro, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), informou nesta quinta feira (8), que as exportações de carne suína no país avançaram 33% no mês de setembro, totalizando 86,5 mil toneladas dos produtos in natura e processados. Esse resultado demonstra uma superação de exportações em relação ao ano passado o qual teve 750 mil toneladas no ano todo, enquanto 2020 foram 764,9 mil toneladas exportadas entre janeiro e setembro.
Café Robusta Londres Futuros — Nov 20 (RCX0)
Máxima: U$1.510,00 em 14/09
Mínima: U$1.228,00 em 08/10
Maior variação diária: -3,69% em 25/09
Variação 12/set — 09/out: -17,21%
No período em análise, é possível observar que a variação da commodity é negativa (-17,21%). Por conta do clima, os produtores brasileiros de café arábica e robusta estão em alerta. Devido à essa preocupação e somado ao alto volume da atual safra já comercializado, a liquidez se mantém baixa quando se trata da safra 2020/21. Segundo pesquisadores do Cepea, muitos compradores estão com os armazéns lotados, levando em consideração a elevada quantidade negociada no físico em julho e em agosto e o recebimento de café adquirido em meses anteriores.
A Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), em relatório pronunciou que a safra de café do Brasil em 2020 foi estimada em 61,63 milhões de sacas de 60 quilos o que representa aumento de 25% em comparação com a temporada passada, mas fica pouco abaixo do recorde visto em 2018.
Em 2019, a safra foi de 49,3 milhões de sacas, enquanto 2018 registrou marca recorde de 61,66 milhões de sacas. Já a estimativa anterior da Conab para esse ano, divulgada em janeiro, apontava um intervalo entre 57,15 milhões e 62 milhões de sacas. O café no Brasil, pés da variedade arábica, que compõem a maior parte dos cafezais no maior produtor e exportador mundial, representa oscilação, sendo caracterizado por períodos de alta e baixa produtividade.
No mercado físico, as cotações do café também recuaram, mantendo os agentes retraídos e a liquidez reduzida. Os indicadores calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) se situaram em R$ 532,37/saca e R$ 392,33/saca, com quedas, respectivamente, de 1,9% e 2,4%.
Analisando a cotação do dólar, os contratos futuros do café arábica não conseguiram manter o suporte de US$ 1,10 no final do mês de setembro, sendo gerado um efeito negativo e, consequentemente, o mercado acumulou perdas, até começar o mês de outubro. Isso ocorreu devido do peso do dólar comercial frente ao real, e por conta do cenário de incertezas sobre a questão fiscal no Brasil, e pela possibilidade de retorno de chuvas ao cinturão produtor.
Na Bolsa de NY, o vencimento dezembro/2020 declinou 660 pontos, encerrando a sessão de quinta-feira a US$ 1,0705 por libra-peso. Na ICE Europe, o vencimento novembro/2020 do café robusta seguiu o mesmo sentido do movimento do arábica e recuou US$ 61, para US$ 1.315 por tonelada.
No ano de 2020, o dólar teve um fortalecimento superior de 40% em relação ao real, desvalorizando a moeda do país e apresentando a moeda como o pior desempenho global. O cenário fiscal nacional é representado com certa desconfiança, o que afasta investimentos vindo do exterior. No começo desse ano (02/01), o dólar estava cotado, segundo a tabela fixa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), R$4,0207 e, atualmente, R$5,6194 (08/10). Essa relação é composta pela Taxa de câmbio comercial para compra: real (R$) / dólar americano (US$) — média.
Açúcar NY nº11 Futuros — Mar 21 (SBH1)
Máxima: U$14,31 em 09/10
Mínima: U$11,73 em 14/09
Maior variação diária: 3,90% em 01/10
Variação 12/set — 09/out: 19,38%
Durante o período analisado, o açúcar apresentou uma variação positiva considerável, porém sendo marcada por oscilações não tão voláteis. No período descrito, foi possível verificar que tal commodity foi intensamente influenciada por fatores como variações no petróleo e dólar, além de impactos promovidos pelo mercado acionário.
A commodity analisada demonstrou diversas sequências de variações positivas, rumando para uma guinada otimista. Um exemplo pode ser dado pela semana do dia 14/09, quando houve uma sucessiva variação positiva, totalizando 4 dias de alta, o que pode ser visto na figura abaixo.
A explicação de tal performance sequencial de altas pode ser descrita como grandemente especulativa: traders e investidores estão operando tecnicamente, buscando um teto mais elevado para quando as chuvas começarem, evitando assim quedas mais fortes depois, também contra os fundamentos de baixa asiáticos.
Mesmo que possíveis prejuízos estejam sendo relatados com produtores e consultorias para a cana do ano que vem, estaria cedo para uma contabilidade mais precisa além de que a “estação chuvosa começa para valer a partir de novembro”, avalia Maurício Muruci, da Safras & Mercado.
Um ponto de destaque que deve ser levado em consideração, que justifica uma tentativa especulativa de elevação dos valores da commodity, é denotado pelo mercado asiático de produção de açúcar, o qual vem demonstrando indícios de baixa demanda. No período em questão, mais especificamente no começo de outubro, houve uma entrega recorde de açúcar bruto por detentores de contratos futuros em Nova York, levantando preocupações sobre um declínio da demanda em mercados importantes como a China e um possível atraso na nova safra indiana.
A trading chinesa de commodities Cofco enviou o maior volume de açúcar bruto para a bolsa, 1,25 milhão de toneladas. Para os traders, esse foi um sinal de que a empresa não tinha demanda suficiente para vender essa produção aos refinadores chineses.
Tais preocupações são pautadas no fundamento de que contratos futuros são utilizados como meios de se precaver de oscilações de preços. Em muitos casos, quem comprou um contrato tem a opção de entregar o produto fisicamente para a bolsa. Quando há entrega, neste caso onde grande parte do açúcar bruto produzido no mundo é precificado, geralmente significa que não há demanda suficiente de consumidores finais.
Escrito por: Laura Carolini & Leonardo Rosa.