Selic a 2,00%, Conflitos externos (EUA x China), Lei de limitação dos juros anuais de cartão de crédito e “block trade” pelo BNDES.
Análise Ibovespa (03/08–07/08)
De caminho oposto ao aquecido mercado estado-unidense, o começo da semana (segunda-feira, dia 03) não foi tão atrativo para o mercado Brasileiro, quando foi verificado uma leve retração do Ibovespa. A semana teve início com o Ibovespa encerrando-se com variação negativa de 0,08% a 102.829 pontos e o volume financeiro negociado na B3 de R$ 30,464 bilhões; tal movimento de baixa foi, em grande parte, motivado pela queda de 1,8% nas ações da Petrobras (PETR3; PETR4), uma vez que estas compõem uma parcela considerável do Ibovespa (9%).
Já na terça-feira (4) a situação se mostrou ainda mais acentuada para o mercado brasileiro, denotando uma forte queda no Ibovespa de cerca de 1,6%, sendo encerrado na marca de 101.215,87 pontos. De maneira semelhante à registrada no dia anterior, a baixa do Ibovespa foi marcada pela queda de empresas que detém posições consideráveis da composição do índice. Após resultado de decréscimo de 40% do lucro do segundo trimestre, as ações do Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4), empresa que detém 6,9% da participação no índice, caíram 5,83%. Além do Itaú, outro fator relevante foi a venda de 8,1 bilhões de reais em ações da mineradora Vale (VALE3) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No mercado externo, foi possível verificar queda na bolsa americana devidos debates no Congresso dos Estados Unidos sobre o pacote de US$ 1 trilhão em estímulos adicionais à economia contra o coronavírus.
Contrariando os dois dias anteriores, na quarta-feira (5), o Ibovespa teve avanço positivo, com elevação de 1,57%, fechando a 102.801,76 pontos. Em contraposição ao ocorrido na segunda-feira (3), quando a queda nas ações da Petrobras fizeram o Ibovespa decair; na quarta-feira (5) o que ocorreu foi a retomada positiva do Ibovespa, motivado pela recuperação da Petrobras, beneficiada pelo avanço do preço do petróleo. Além disso, outro fator que empolgou os investidores, foi a sequência de resultados trimestrais de diversas empresas, que se mostraram melhores do que o esperado, uma vez que o 2º trimestre foi o pior período da pandemia.
Na quinta-feira (6), o clima foi de ânimo no mercado, marcando o segundo dia positivo com subida de 1,29% do Ibovespa, que fechou com 104.125,64 pontos. Dessa vez, um dos grandes fatores de influência de tal resultado foi o mercado externo; no exterior Wall Street demonstrou avanço positivo com agentes financeiros na expectativa de um novo pacote de estímulo fiscal, determinando fechamento do S&P 500 em alta de 0,64%. Além dessa influência externa, no Brasil, a decisão do Banco Central de cortar a taxa básica de juros (SELIC) em 0,25 pontos, caindo para 2% ao ano, cativou ainda mais os investidores; uma vez que o nível baixo da SELIC demonstra não atratividade de investimentos em renda fixa, tornando assim, o mercado acionário atraente para aqueles que buscam melhores rentabilidades.
Interrompendo a sequência de altas, o último dia de pregão, sexta-feira (7), demonstrou queda 1,3% do Ibovespa, atingindo a marca de 102.775,55 pontos. Assim, como no dia anterior, um dos pontos chaves de tal resultado foi a influência do mercado externo; o clima ríspido entre os EUA e a China, denotado pelas medidas proibitivas tomadas pelos EUA, em relação aos aplicativos chineses WeChat e TikTok, o que complicou ainda mais o confronto sobre o futuro da indústria global de tecnologia. Ainda mais, resultados demonstrados no relatório de trabalho dos EUA demonstraram desaceleração econômica, afligindo ainda mais o mercado. Além disso, no cenário nacional, o Senado aprovou projeto de lei que limita juros do cartão de crédito praticados por bancos, durante o período de pandemia.
Dessa forma, mesmo com o fator atraente ocasionado com o corte da taxa básica de juros, o panorama geral da semana foi marcado por uma queda do Ibovespa, motivado em grande parte pelos mercados internacionais. Assim, o índice terminou o período com uma desvalorização de aproximadamente -0,13%. Em 2020, o índice segue negativo, com uma baixa expressiva de -11,12% até o momento.
Governo
Corte na Taxa básica de Juros
Com foco na política interna, pode-se verificar que um dos maiores destaques da semana foi o corte da taxa básica de juros da economia (SELIC). Realizado pelo Banco Central, a SELIC alcançou seu patamar mínimo histórico; sendo reduzida em 25 pontos-base, a taxa chegou aos 2,00% ao ano. Apesar de alguns sinais promissores de retomada da atividade nas principais economias, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador, o que permitiu um corte na taxa.
Dessa forma, tal estratégia monetária decorre grande influência no mercado financeiro, uma vez que os níveis baixos nos juros tornam o custo de empréstimo mais barato, financiamento imobiliário mais atrativo e, também, incentivam as pessoas a procurar investimentos de maior risco e, portanto, chances de retornos maiores.
Como a SELIC também serve como instrumento de referência e benchmark para diversos investimentos, sobretudo os de Renda Fixa, que em grande parte são atrelados à variação da taxa de juros, temos que quanto menor tal taxa, menos atrativo tornam-se essas vias de investimento. Dessa forma, por um outro lado, a queda na taxa de juros demonstra uma beneficiação das empresas listadas na bolsa; isso ocorre devido os investidores se posicionarem na bolsa de valores, a fim de conquistar maiores rentabilidades.
Venda de ações pelo BNDES
Além do corte na taxa básica de juros, outro fator de grande impacto no mercado de ações nesta semana foi a venda de 8,1 bilhões de reais em ações da mineradora Vale (VALE3) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), divulgado na terça-feira (4).
Segundo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Gustavo Montezano, tal transação representa o maior “block trade” da história da América Latina; ou seja, a maior oferta colocada na bolsa, de uma só vez, com uma quantidade expressiva de ações para ser vendida.
Segundo Montezano, “Mais importante do que as cifras desse marco histórico é ter o BNDES se reposicionando e voltando suas energias, conhecimento e recursos para o desenvolvimento social e ambiental do nosso país”. Dessa forma, entende-se que tal movimentação tem caráter em prol de desenvolvimento socioambiental do país.
Lei de limitação dos juros anuais de cartão de crédito
Um outro fator de destaque nacional que pode ser elucidado, foi o novo projeto de lei aprovado na quinta-feira (6). O Senado aprovou um projeto de lei que limita os juros anuais de cartão de crédito e do cheque especial a 30% durante o estado de calamidade pública decorrente da pandemia de coronavírus. Em junho, os juros anuais do rotativo do cartão chegaram a 300,3% e do cheque especial a 110,2%, segundo dados do BC (Banco Central). A proposta aprovada pelos senadores também determina que o BC e o Ministério da Economia, que compõem o CMN (Conselho Monetário Nacional), devem regulamentar o limite dos juros do cartão de crédito, após o fim do estado de calamidade.
Reforma Tributária
O governo estuda reduzir a alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física de 27,5%, atualmente a maior na tabela da Receita, para uma faixa entre 23% e 25%, segundo reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”. Essa redução seria compensada com o corte das deduções médicas feitas pelas pessoas físicas nas declarações anuais de ajuste do IR. Atualmente, não há limite para essas deduções. Dados do Ministério da Economia apontam que essas deduções representam um custo de R$ 15,1 bilhões, o equivalente a um terço dos subsídios dados ao setor da saúde.
Índices
Nesta semana, em relação ao câmbio, foi possível verificar que o Real sofreu uma queda de ~3,8% em relação ao dólar, fechando em R$ 5,43/USD, maior valor apresentado dentro de um mês. A situação de atrito no entre EUA e China, decorrente de ordens de banimento de aplicativos chineses, foi de fator influenciável, porém ao mesmo tempo em que ganhava força devido ao aumento da cautela nos mercados internacionais, o dólar reagiu à desaceleração da criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos, embora os números tenham vindo acima do esperado. Além disso, verificou-se fatores internos, como a aprovação pelo Senado, do teto de juros para o cheque especial e o cartão de crédito e, principalmente, pelo desconforto com a movimentação pela elevação dos gastos públicos. “Vale notar que o Ministério da Economia deve entregar o planejamento fiscal de 2021 no fim de agosto. Isto significa que este será um mês crucial para o futuro da política fiscal”, alertam estrategistas do Banco Citi.
Outros indicadores importantes divulgados esta semana pelo IBGE foram o IPCA (índice que demonstra a inflação), a taxa de desemprego e a produção industrial. A inflação de julho, medida pelo IPCA, fechou em 0,36%; o índice acumula alta de 0,46% no ano, enquanto o acumulado em 12 meses é de 2,31%. Além disso, taxa de desemprego subiu para 13,3% no trimestre encerrado em junho. Já a produção fabril verificou alta de 8,9% em junho, a maior taxa desde junho de 2018.
Internacional
No cenário externo dessa semana, um dos pontos mais marcantes com certeza foi a intensificação dos atritos geopolíticos entre Estados Unidos e China, depois que o presidente americano, Donald Trump, anunciou proibição dos populares aplicativos chineses TikTok e WeChat. Em meio a esse conflito, a bolsa americana foi alavancada (segunda-feira, 03) pelas ações da grande Microsoft, que declarou ter interesse na compra do aplicativo TikTok.
Outro motivo para a alta das bolsas americanas é que mais uma vacina contra o coronavírus chegou à sua fase 3 de testes. Desta vez é a profilaxia da farmacêutica Eli Lilly. Ao mesmo tempo, continuam as discussões no Congresso dos Estados Unidos para a aprovação de um pacote de US$ 1 trilhão em estímulos para fortalecer a economia depois dos impactos do coronavírus.
Outro ponto que influenciou as ações americanas foi o resultado sobre o setor privado dos Estados Unidos, o qual criou 167 mil novas vagas de trabalho em julho. O número veio bem abaixo da mediana das projeções compiladas no consenso Bloomberg, que apontava para geração de 1,2 milhão de empregos no período. Entretanto, foi bem recebida a revisão do dado de junho de 2,37 milhões de vagas geradas para 4,3 milhões.
Destaques positivos
Klabin SA (KLBN11) + 11,7%
A Klabin é atualmente a maior produtora e exportadora de papéis do país, com foco na produção de celulose, papéis e cartões para embalagens, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais, além de comercializar madeira em toras. O setor teve uma semana forte, após a divulgação dos resultados da Klabin. A companhia teve EBITDA recorde, 1,3 bilhões de reais, com fortes volumes no segmento de papel, impulsionados também por exportações.
TOTVS (TOTS3) +11,4%
A Totvs é uma empresa que atua com softwares de gestão empresarial. Na América Latina, possui aproximadamente 30% de market share do segmento. Atua principalmente no Brasil, mas está presente em 41 países. A alta das ações na semana está relacionada a divulgação de resultados acima dos esperados pelo mercado referentes ao segundo trimestre de 2020, sendo estes apoiados em suas maiores receitas provenientes de produtos de computação em nuvem. Além disso, houve uma forte redução nas despesas, determinando amortecimento dos impactos causados pela pandemia.
Destaques Negativos
Cogna Educação (COGN3) -12%
A Cogna é uma organização que atua na área de educação e é a segunda maior empresa relacionada a esta área, no mundo. Atua tanto no Ensino Superior Presencial como à Distância, além de Educação Básica. Durante essa semana pode-se verificar a queda das ações, devido a realização de lucros de investidores, após o IPO de sua subsidiária Vasta na Nasdaq, levando alta nas semanas anteriores com oferta inicial da desta acima do esperado.
CVC (CVCB3) -8,6%
A CVC Brasil Operadora e Agência de Viagens S.A. é uma das maiores operadoras de turismo na América Latina. A companhia concentra suas atividades nos segmentos de viagens de lazer, corporativas e de intercâmbio. A empresa mostrou uma baixa de mais de 65% no lucro líquido não auditado de 2019, após revisão e reconciliação de resultados em razão de distorções contábeis. Além de todo o efeito negativo por causa da pandemia, a revisão da contabilidade acarretou ainda ajustes no valor de 362,4 milhões de reais nas demonstrações financeiras do ano passado.
Escrito por: Leonardo Rosa