Setor de Papel e Celulose
Caracterização do Setor
Celulose
A celulose ajuda a garantir rigidez e resistência às plantas. Ela é matéria-prima para diversos produtos presentes no nosso cotidiano, como absorventes, fraldas descartáveis, tecidos e, principalmente, papel. No Brasil, as duas principais árvores usadas para a produção de celulose são de pinus e de eucalipto, responsáveis por mais de 98% do volume produzido. A celulose também pode ser obtida de outros tipos de plantas, não-madeiras, como o bambu, babaçu, sisal e resíduos agrícolas.
Podemos dividir a celulose em dois tipos. Uma delas é a celulose de fibra longa, que apresenta um comprimento de 2 a 5mm e é usada na produção de papéis mais resistentes, como aqueles utilizados para embalagens, jornais e para as partes internas do papel cartão. A fibra longa é extraída principalmente de árvores de pinus, e responde por 15% da produção brasileira de celulose.
A celulose de fibra curta, por sua vez, é menos resistente e possui um comprimento que varia de 0,5 a 2 mm. Elas são mais macias e tem um maior potencial de absorção, sendo usadas na confecção de papéis destinados à escrita, impressão e fins sanitários, como papel higiênico, guardanapos e papel-toalha. A fibra curta é extraída principalmente de árvores de eucalipto, e corresponde a 85% da produção de celulose brasileira.
A produção de celulose começa com o plantio, o crescimento e o corte das árvores plantadas. A madeira obtida é descascada e picada em pedaços pequenos, que são chamados de cavacos.
Os cavacos passam por um processo de remoção de lascas e serragem. Depois disso, eles passam por um cozimento sob pressão com água e produtos químicos, a uma temperatura da ordem de 150ºC, dentro de um equipamento denominado de digestor. O intuito dessa etapa é separar as fibras de celulose que, antes do cozimento, são ligadas por uma substância chamada de lignina.
Separadas as fibras, obtemos uma pasta marrom, que passam por uma série de processos químicos para lavar e branquear essa massa, até que ela adquira a brancura desejada.
Depois disso, a celulose tratada e clareada segue dois caminhos: ela pode ser dirigida diretamente para uma máquina de papel, se a fábrica também produzir esse produto, ou passar por um processo de secagem e estocagem, para ser vendida e transportada para fábricas de papel.
A indústria global de celulose é altamente globalizada. O setor é intensivo de capital, já que os players precisam de elevados investimentos para construir uma unidade fabril e manter uma escala mínima de produção, em torno de 2 milhões de toneladas por ano. Além disso, é necessário possuir uma extensa área para cultivar a base florestal.
Outra barreira de entrada é o prazo que o investimento leva para gerar retorno, já que isso depende do tempo que as árvores levam para crescer.
A atividade do setor é dependente dos preços da celulose, que estão sujeitos ao equilíbrio da oferta e da demanda no mercado internacional. Assim, o custo de produção é um fator importante no desempenho das empresas.
Um dos principais custos é o da madeira, insumo para a produção de celulose. O frete da madeira, por sua vez, é mais caro que o da celulose. Por esse motivo, a unidade industrial é construída o mais próximo possível da base florestal, para reduzir custos. Outros dois fatores importantes no que tange ao custo de produção é a escala de produção, que pode minimizar o custo unitário, e também a logística de distribuição do produto final.
A indústria de celulose no Brasil é muito competitiva. As empresas se beneficiam das condições climáticas do país: o elevado índice de insolação, a boa distribuição de chuvas ao longo do ano e o clima quente fazem com que as árvores das florestas brasileiras cresçam mais rápido, aumentando a produtividade. O gráfico a seguir ilustra o tempo de rotação do eucalipto, principal árvore utilizada para a produção de celulose no país, bem como o rendimento de suas florestas:
Cabe ressaltar que o rendimento das florestas de eucalipto brasileiras é o maior do mundo. Como podemos ver no gráfico acima, o tempo de rotação do eucalipto no Brasil é de 7 anos. O tempo de rotação de pinus, por sua vez, varia de 15 a 20 anos. Esses fatores elevam a produtividade brasileira, reduzindo os custos das empresas. O uso de biotecnologia e engenharia genética por parte das companhias brasileiras também é um fator que favorece a alta produtividade. O custo de produção brasileiro de celulose é o menor do mundo, como podemos observar no gráfico a seguir:
No que diz respeito ao volume de produção, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de celulose, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2019, produzimos 19,8 milhões de toneladas do produto. O Brasil também é um grande exportador de celulose: em 2019, o país exportou 14,726 milhões de toneladas, 74,79% da sua produção.
Papel
A indústria do papel tem grande relevância para a economia global. Em comparação com a indústria de celulose, a indústria de papel é menos concentrada: há vários produtores e consumidores e também existe grande variabilidade nos tipos de papéis produzidos. O Brasil produziu 10.535 milhões de toneladas de papel em 2019, sendo 2,163 milhões de toneladas exportadas.
Diferentemente da celulose, em que a preocupação das indústrias é estar próxima da base florestal, no caso do papel, os produtores procuram estar o mais próximo possível dos centros consumidores devido ao baixo valor agregado do produto, especialmente no que diz respeito aos papéis de fins sanitários e ao papelão, encarecendo o frete, e também devido a venda direta para o consumidor final que ocorre para alguns tipos de papéis e entre outros fatores.
Assim como na indústria de celulose, os preços do papel são tipicamente cíclicos e estão correlacionados com o desempenho da economia global.
Como citado anteriormente, há uma grande variabilidade nos tipos de papéis produzidos, que podem ser agrupados em grandes categorias. Uma delas é o tissue, que representa o conjunto dos papéis utilizados para fins sanitários. Suas características de baixa gramatura (peso do papel em g/m²), boa absorção, flexibilidade e maciez o torna apropriado para esses fins. O tissue é produzido a partir da celulose de fibra curta e engloba papéis toalha, guardanapos, papéis higiênicos, fraldas descartáveis, lenços umedecidos e muitos outros produtos. Alguns papéis de fins sanitários, como absorventes e fraldas, são constituídos pela celulose do tipo fluff, que também possui elevada capacidade de absorção.
Também temos o papel de imprimir e escrever. Esse grupo envolve todos os tipos de papéis utilizados para escrita, impressão e outras necessidades comerciais e domésticas relacionadas.
Outro tipo de papel que vem ganhando destaque com o aumento dos serviços de entrega intensificados com a pandemia é o papel para embalagem. Nesta categoria estão inclusos papéis mais resistentes, a exemplo do papel kraft, do papelão para contêiner e para embalagem de líquidos.
Por fim, temos os papeis especiais, que congregam papéis autoadesivos, como fitas adesivas e etiquetas, papéis de segurança, a exemplo de selos, papel moeda e outros papéis que exigem proteção contra fraudes, papéis decorativos e entre outros subtipos.
O gráfico abaixo, retirado da apresentação institucional da Suzano, ilustra o percentual de celulose demandada no mundo em 2019 para cada tipo de papel:
Apesar do papel tissue ser mais intensivo no uso de celulose, se considerarmos a produção total de papel, observamos que os papéis de impressão e escrita e de embalagens são os principais tipos produzidos no mundo, conforme ilustrado no gráfico abaixo, de 2015:
O gráfico acima inclui 2 tipos de papéis não citados anteriormente: o papel de imprensa, utilizado na impressão de jornais, e o papel cartão.
Tratando dos fatores que podem afetar o setor de papel e celulose, um deles é o preço da celulose e do papel. Como dito anteriormente, eles estão correlacionados com a atividade econômica. O preço da celulose encerrou o ano de 2019 abaixo das expectativas. Esperava-se por uma recuperação do preço em 2020, frustrada por conta da pandemia. As incertezas e a queda da atividade econômica decorrente da crise do coronavírus pressionaram os preços para baixo, como podemos ver no gráfico a seguir:
Espera-se que a demanda volte a se recuperar a partir de setembro, com a reabertura de escolas, comércios e escritórios e a flexibilização das medidas de isolamento social. Além disso, muitas fábricas adiaram as suas paradas de manutenção programadas do primeiro semestre para o segundo semestre. A interrupção da atividade fabril reduzirá a oferta, que combinada com um aumento da demanda, pode favorecer o preço da celulose.
Além do preço da celulose, as empresas do setor estão sujeitas a variação da taxa de câmbio, visto que boa parte de sua receita é dolarizada, já que o Brasil é um grande exportador de celulose. Além disso, muitas empresas possuem parte de seu endividamento em moeda estrangeira. Dessa maneira, ao analisar empresas do setor, devemos analisar de perto o quanto o dólar pode impactar o seu desempenho. Uma valorização do dólar pode aumentar a receita da empresa, mas também pode elevar o seu endividamento e as suas despesas financeiras, por exemplo.
A pandemia do coronavírus também impactou a demanda de papel. Um dos tipos de papéis mais afetados foi o de impressão e escrita, assim como papéis decorativos. Porém, algumas categorias de papel estão se beneficiando dos novos hábitos domésticos, como os papéis para fins sanitários (tissue) e os papéis para embalagens, em decorrência do aumento do e-commerce e do delivery de refeições.
No longo prazo, as perspectivas também são negativas para o papel de impressão e escrita, em decorrência do crescimento das mídias digitais em detrimento das mídias impressas, acelerado pelas medidas de isolamento social.
O papel tissue pode se beneficiar do aumento de consumo mundial no longo prazo, especialmente da China. O crescimento econômico e o aumento da qualidade de vida no país asiático tendem a aumentar o consumo de tissue. O gráfico abaixo ilustra algumas projeções de demanda para esse tipo de papel nos próximos anos:
Empresas
No setor de papel e celulose, é fundamental identificar e diferenciar os três tipos de empresas que constituem esse setor. O primeiro delas são as empresas integradas que produzem tanto papel quanto celulose. A segunda delas são as produtoras de celulose, que destinam a maior parte da parcela da produção para o mercado externo, vendendo a celulose para as empresas produtoras de papel. A terceira são as produtoras de papel, essas empresas compram celulose de coligadas ou de terceiros, além de participarem de grandes grupos econômicos e serem de menor porte. Nesse sentido, é possível observar que o segmento de celulose é bastante concentrado com intensivo investimento de capital e produção elevada, enquanto o segmento de papel é mais pulverizado, pois existem pequenos fabricantes de papel.
Com isso, separamos às duas maiores empresas desse setor que juntas possuem mais de 85% do market share. Essas empresas são: Klabin S.A (KLBN11), Suzano S.A (SUZB3).
Klabin S.A (KLBN11)
A Klabin, atualmente, possui 19 unidades industriais, sendo 18 no Brasil e 1 na Argentina, possui mais de 21 mil colaboradores e uma trajetória de 121 anos no mercado de papel e celulose. Além disso, está em 2° lugar no ranking global de transparência no setor de madeira e celulose e em 1° entre as brasileiras. Também é reconhecida como sendo a maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, líder na produção de embalagens de papel e a única empresa a produzir e fornecer três tipos diferentes de celulose: fibra curta (eucalipto), fibra longa (pínus) e fluff, embora seu foco seja na fibra curta.
No aspecto de indicadores fundamentalistas, vale destacar que a Klabin possui um valor de mercado de R$ 29.040.838.846. Seu segmento de listagem é representado por Nível 2. O Free Float é de 31,7%ON/67,1%PN. Além de que seu P/L, Dividend Yield e ROE são respectivamente de -10,36; 1,87%; -100,49%. Outro ponto importante é a sua receita por produto que representa: 34% Celulose, 26% Cartões, 25% Embalagens, 11% Kraftliner e 3% Outros. Ademais, a sua receita líquida no ano de 2019 foi de R$ 1.027.184.000.
Suzano S.A (SUZB3)
A Suzano é considerada a maior produtora global de celulose de eucalipto e uma das dez maiores de celulose de mercado, além de líder mundial no mercado de papel. Em 2018, a empresa anunciou a fusão com a Fibria, a qual era, até então, a maior produtora de eucalipto do mundo. A empresa foi fundada em 1924 pelo ucraniano Leon Feffer no mês de janeiro na cidade de São Paulo. Atualmente, a Suzano possui mais de 37.000 colaboradores operando de forma global em aproximadamente em 60 países. No Brasil, possui 6 unidades industriais, sendo quatro no estado de São Paulo uma na Bahia e uma no Maranhão.
No aspecto de indicadores fundamentalistas, vale destacar que a Suzano apresentou no segundo trimestre de 2020 um valor de mercado de R$ 68.226.531.000. O seu segmento de listagem é representado pelo Novo Mercado. Além de que seu P/L, Dividend Yield e ROE são respectivamente de -3,84%; 5,93; -679,97%. Outro ponto importante é a sua receita líquida que alcançou um valor de R$ 7.049.000.000.
Pontos Positivos
São diversos pontos que constituem a positividade do setor de papel e celulose no Brasil. É possível citar a dimensão e o tamanho das empresas, como, por exemplo a Suzano que é a maior produtora de celulose do mundo. A preocupação com o meio ambiente é outro fator fundamental como é o caso da Klabin que está em 2° lugar no ranking global de transparência no setor de madeira e celulose. Além disso, é importante notar a elevada capacidade de produção devido a imensas áreas disponível de terras.
Ademais, vale ressaltar a expansão e integração com outros setores (ex: têxtil e energético) a partir de novas soluções derivadas do eucalipto combinada à biotecnologia. Outro ponto, é a parada de produção de empresas em regiões estratégicas (ex: LATAM em detrimento do COVID-19).
Mas também, pode-se notar a grande geração de empregos que esse setor promove (128 mil diretos e 640 mil indiretos), além da forte obtenção de receita e grande relevância na área de exportação.
Pontos Negativos
Enquanto isso, nos pontos negativos é possível elencar algumas dificuldades e fraquezas que constituem esse setor. Primeiramente, pode-se notar que os preços da celulose são influenciados pelo mercado internacional (oferta x demanda), além da dependência do câmbio afetando a volatilidade do setor. Outro ponto é a grande concorrência com os principais players do mercado mundial.
Ademais, é importante observar que as empresas brasileiras possuem uma alta incerteza quanto ao estoque/demanda devido à pandemia. Além disso, identifica-se como negativos os grandes empréstimos e financiamento de curto e longo prazo das principais empresas do setor (Klabin com 5.753.000.000 em moeda nacional e 24.920.000.000 em moeda estrangeira no mês de junho de 2020). E, por fim, outro entrave são as possíveis entradas de concorrentes internacionais dentro do mercado nacional (ex: Paper Excellence).
Conclusão
O setor de papel e celulose é uma parte importante da indústria global. Apesar dos desafios do curto prazo, os players brasileiros, que são exportadores, possuem perspectivas mais otimistas com o aumento da demanda no longo prazo, puxada pela China, e são privilegiados com condições climáticas favoráveis à produção de celulose.
As empresas do setor também podem se beneficiar do crescimento do e-commerce e do delivery de refeições, e também pela tendência de substituir materiais plásticos e não biodegradáveis por alternativas mais sustentáveis, como o papel.
Escrito por: Chrystian Oliveira & Renan de Carvalho