A abolição do homem — C. S. Lewis

Jéssica C. S. Guimarães
Lightshine
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23 min readOct 3, 2018

Confesso que comecei a ler este livro sem saber o que significava abolição (então imaginem o meu trabalho pra realmente entender um livro de Lewis). No decorrer eu fui entendendo a finalidade do que estava sendo abordado e fiquei muito impressionada (vocês nem imaginam o quanto), e sim, ele ‘profetizou’ nesse livro, infelizmente.

Meu sentimento era (e é) de que todos pudessem ler este livro (ler e entender), mas eu sei que isso não vai acontecer. Eu tenho dificuldade para entender um nível mais difícil de leitura, e se alguém como eu ler, pode acabar deixando algo importante passar, porque a leitura de Lewis pode ser um pouco confusa de entender. Então resolvi escrever sobre este livro como uma espécie de resumo, então sim.. Será um texto grande, mas é um resumo de um livro, se você quiser pegar a essência do livro, vou deixar tudo “mastigadinho” aqui, fácil de entender.

É claro que este texto não substitui a leitura, mas quem sabe este resumo te ajuda a entender melhor o livro. Recomendo a todos que leiam o livro, nele o assunto é tratado de forma mais ampla.

Esses dias em uma conversa, meu esposo disse uma frase que todos nós já falamos em algum ponto da vida: ‘hoje a TV educa as crianças’, nesse momento estávamos passando em frente a uma escola, e tive um pensamento ainda pior: “hoje as escolas educam as crianças”, senti isso como se fosse uma ameaça, e é isso que o livro basicamente revela, o sistema educacional no mundo anulando em cada indivíduo, em sua fase de crescimento e amadurecimento, princípios básicos. Parece exagero, não?! Quem dera fosse.

Ele traça uma linha de pensamento a partir de um livro que estava sendo usado nas escolas de ensino básico, o livro se chama The Control of Language: A Critical Approach to Reading and Writing — O controle da linguagem: uma abordagem crítica para ler e escrever”, porém ele não citou o verdadeiro nome no livro, ele se refere a este livro como Livro Verde no decorrer, e se refere ao nome dos autores como Gaio e Tito.

No capítulo 2 do livro verde, é mencionada uma história de Coleridge na queda d’água onde haviam 2 turistas presentes:
1 — Um a chamou de sublime.
2 — Outro a chamou de bela.

Gaio e Tito dizem no livro verde que quem chamou a queda d’água de sublime, não estava se referindo a ela, mas aos seus próprios sentimentos, que seriam sublimes. Eles menosprezam o fato de que a queda d’água aqui seja realmente sublime, diminuindo a qualidade daquilo que vêem, fazendo com que a qualidade daquilo que observam, se voltem para si mesmas, algo referente aos seus próprios sentimentos. Agora desfazendo essa confusão, na realidade, os sentimentos que fazem com que uma pessoa chame um objeto de sublime não são sentimentos sublimes, o sentimento é de veneração. Como não é este o ensinamento passado, duas crenças vão para o aluno do livro verde:
1- O juízo de valor de um indivíduo é sobre o estado emocional dele.
2- Estas afirmações não tem importância.

Para esclarecer, juízo de valor é o adjetivo, a qualidade que você dá a algo.

Lewis menciona que Gaio e Tito não percebem que estão lidando com crianças que não tem noção que a ética, teologia e política estão em jogo. Antes dele examinar a filosofia sobre valores adotados por Gaio e Tito, Lewis dá mais um exemplo dos efeitos, na prática, desse processo educacional.

No capítulo 4 eles citaram uma propaganda tola de um cruzeiro marítimo, incitando os alunos contra o tipo de linguagem empregado nela, tentarei resumir esta parte: O anúncio dizia que todos aqueles que adquirissem passagens, iriam transpor o Oceano Pacífico por onde Drake de Devon navegou em busca do tesouro das Índias, levando para casa um tesouro de momentos dourados e cores cintilantes. É uma exploração banal e sentimentalista das emoções e o prazer de viajar, mas ao invés de se manter no tema de redação e usar outras propagandas de grandes autores, em que essa mesma emoção recebe o tratamento adequado e mostrar o contraste de uma boa propaganda e uma propaganda “barata”, eles se mantiveram práticos e secos, destacaram que o navio não navegaria nas mesmas águas transpostas por Drake, que os turistas não teriam nenhuma aventura, que o tesouro é metafórico e que uma viagem para Margate é suficiente para lazer e descanso. Tudo isso é verdade, porém eles se esqueceram que esse tratamento abre margem para o aluno aplicar em boa literatura que lida com este mesmo tipo de emoção.

O que o estudante terá é a agilidade para desacreditar emoções associadas a lugares, tornando isso irracional e desprezível. Ao invés de olhar mais fundo a questão, ele é encorajado a rejeitar o anúncio para se provar ser esperto. Extirpam de sua alma, antes de ter crescido, a possibilidade de ter experiências defendidas por pensadores de maior autoridade. Experiências generosas, frutíferas e humanas.

Aprenderam a ter prazer em sua própria sabedoria.

Todo esse ensinamento no livro verde foi feito sem que tivessem uma visão geral, ou foi proposital? Pelo sim, ou pelo não, sentimentos humanos comuns sobre o passado, animais, grandes quedas d’água, estão se passando por irracionais e desprezíveis. Talvez o começo de uma ‘limpa’ nos valores tradicionais, introduzindo novos valores.

Ao invés de um livro de gramática, ele se revela como um livro filosófico amador. Mas Lewis até este ponto não acreditava que isso tivesse sido planejado, citou que poderiam ter caído nessa pela facilidade, pois explicar crítica literária é difícil, mas menosprezar as emoções, racionalizar, é fácil. Também poderiam ter compreendido mal a necessidade educacional mais urgente, se vêem um mundo sentimental, fortalecem a mente do jovem contra as emoções. Porém ele citou, por experiência própria que para cada aluno muito sensível, há 3 que precisam acordar de uma vulgaridade fria.

Apesar dele dizer no livro que o trabalho do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos. Hoje, no estado avançado que estamos vivendo, o trabalho seria mais árduo, acho que há algumas florestas para serem derrubadas, além de claro, irrigar todo este espaço vazio.

A defesa certa contra sentimentos falaciosos é incutir sentimentos corretos.

Cortar a emoção é torná-lo alvo fácil: um coração duro não é proteção infalível contra a insensatez.

O chamar a catarata de sublime também reivindica que aquele objeto merece esse sentimento. Até os tempos modernos se acreditava que objetos poderiam merecer nossa aprovação ou desaprovação, reverência ou desdém.

Comparação de Shelley a sensibilidade humana com uma lira eólica:
A lira se distingue da sensibilidade, pela sensibilidade ter o poder de ‘ajuste interno’, de acomodar as suas cordas aos movimentos daquilo que a toca.

Alguém pode ser justo a não ser que renda às coisas o respeito que lhes é devida? Todas as coisas foram feitas para ser suas e vocês foi feito para louvá-las de acordo com o valor delas. — Traherne

Santo Agostinho define esta virtude como ordo amoris, a condição ordenada das emoções, afeições. Aristóteles diz que o objetivo da edução é nos deleitar e sofrermos com as coisas que nos devem causar deleite ou sofrimento, com isso em mente, qual versículo lhe é familiar? Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram, Romanos 12:15.

Chegando a idade de pensamento reflexivo, o aluno treinado nas afeições ordenadas, ou sentimentos justos, terá facilidade em descobrir os princípios da ética, do contrário, ele terá que ser treinado a responder assim. Seguindo nas afeições ordenadas, mesmo ele sendo criança, rende graças a beleza, a recebe em sua alma e é nutrido por ela, vindo a ser um homem de coração gentil. Quando a razão vier, pelo modo que foi educado, estenderá as mãos para dar boas vindas, por causa da afinidade que terá.

A partir daqui ele irá usar bastante o termo tao, por isso vou deixar mais destacado o que isso significa para que entendam melhor o conceito:

Tao = É o conjunto de valores estabelecidos em diversas culturas da humanidade e consolidadas pela tradição. Entre as tradições platônica, aristotélica, estóica, cristã e oriental, há entre elas algo em comum que não pode ser negligenciado. É a doutrina de valores, a convicção de que certas posturas são realmente verdadeiras, e outras realmente falsas, a respeito do que é o universo e do que somos nós.

Aqueles que conhecem o tao reconhecem que certas qualidade demandam uma resposta, independente se damos ou não.

  • Os estados emocionais podem estar em harmonia com a razão (quando sentimos gosto pelo que merece aprovação).
  • Ou em desarmonia (quando percebemos que deveríamos gostar de algo, mas não gostamos).

As emoções podem ou não se conformar com a razão. A emoção (coração) não é racional, não toma o lugar da mente, mas pode e deve obedecer a este tao, que é.. reconhecer o valor.

No livro verde esta possibilidade foi excluída, para Gaio e Tito não há valor, somente emoção por trás de qualquer valor atribuído a algo. Nessa visão o mundo dos fatos não tem valor, sentimento não tem verdade ou falsidade, justiça ou injustiça. Enquanto a velha criação se empenha em homens transmitindo para homens humanidade, a ‘nova’ se resume em tratar com desprezo, como se a vida fosse em tudo, uma propaganda barata.

A emoção (o coração) deve ser governado pela cabeça. Emoções organizadas pelo treinamento do hábito para ter sentimentos estáveis.

Assim a operação do livro verde produz homens sem peito. O que os marca não é um excesso de pensamentos, mas uma carência de emoções férteis e generosas. A sociedade remove o órgão (seu coração) e demanda sua função. Se cria homens sem peito e se espera deles a virtude e a iniciativa, que já é descartada sem esperança. Zombamos da honra e ficamos chocados em encontrar traidores entre nós. A fidelidade não foi cultivada.

O caminho

A consequência prática da educação do livro verde deve ser a destruição de quem o aceita. Ele foi escrito para produzir certos pensamentos específicos na nova geração, por acreditarem que a partir disso se teria uma sociedade mais desejável. Eles tinham uma finalidade, caso contrário teria sido escrito de forma despropositada. Ao invés de chamá-la de boa, dizem palavras como necessária, progressiva ou eficiente, então, por finalidade, esta educação é necessária para quê? Está progredindo rumo a quê? Eficiente para quê? A conclusão que se chega, é que teriam que admitir que algumas coisas são boas por si próprias, mesmo na opinião deles. Então, não poderiam alegar que bom descreve somente suas próprias emoções. Essa descrença ou ceticismo dessa educação, linha de pensamento, é superficial, pois somente seria aplicada ao outro. Na realidade, quem deprecia o valor tradicional ou sentimental, têm seu próprio valor que eles acreditam ser imune a depreciação. Acreditando que estão interrompendo o agir pelas emoções, religião, quebrando tabus, convenções morais. Afim de que os valores básicos cresçam.

O que isso interfere na prática?

Usando o exemplo da morte por uma boa causa:
Se um homem não tem amor (não foi educado com a emoção ordenada, não tem o ‘tao’), alcançando o fundo básico e realista desta nova educação, ou, valor inovador, aonde ele achará base para se sacrificar?

  • 1º: Poderia dizer que o valor real está na utilidade do sacrifício para a comunidade. Bem então é o que seria útil para a sociedade, mas com base em que são chamados a morrer pelo benefício dos outros? Não poderia optar por: honra, orgulho, vergonha, amor, pois isso seria um regresso ao sentimento, e o Inovador tem a crença de evitar tudo isso, procurando o valor real por trás.
  • “A menos que alguns de nós se arrisquem a morrer, todos nós morreremos com certeza”. Este argumento provocaria um revide: “Por que eu deveria assumir o risco?”.

“Isso preservará a sociedade” não pode levar a “faça isso”, exceto pelo “a sociedade deve…”. A afirmação de que “isso vai custar a sua vida” não pode levar ao indivíduo o não fazer, o resultado virá através de um reconhecimento de autopreservação, desejo sentido.

O inovador tenta chegar a uma conclusão a partir das promessas do processo de Gaio e Tito, mas não consegue, pois somente pela razão não há sentimento.

Estender a palavra Razão para o que os nossos antepassados chamavam, de Razão Prática, é necessário. Assim confessar que juízos como a sociedade deve ser preservada não são meros sentimentos, mas a própria racionalidade, humanidade, é o que dá sentido a palavra humano.

Mas o inovador não optaria por esta alternativa, porque o princípio dela é o próprio tao, que ele queria suplantar. Então ele desiste dessa busca e se empenha em achar outro fundamento mais básico, que seria o instinto. Para ele a preservação da sociedade não depende da razão, mas sim do instinto. Temos urgência instintiva de preservar espécie, por isso o homem deve trabalhar para a posteridade, mas não temos essa urgência instintiva de respeito, por isso o tao pode ser ignorado quando está em conflito.

Uma ética baseada no instinto dá ao inovador o que ele deseja e o libera do que ele não quer, não há avanço. Será que há uma afirmação de que se ceder ao instinto, seremos mais felizes? No caso do enfrentamento da morte descarta toda satisfação, pois mesmo não poderia ser satisfeito ou satisfazer, pois o objetivo só seria alcançado depois de já estar morto. E se ele disser que temos o dever de obedecer ao instinto? Se tenho o impulso de fazer algo, não posso concluir que devo obedecer ao instinto, se esse impulso entra em conflito com a preservação, ele deve ser controlado.

Os instintos devem ser examinados, a compreensão não é instintiva, há uma razão para colocar a preservação da espécie acima da autopreservação. Então os valores baseados em instinto por si só não levam a nenhuma conclusão. Há realmente um instinto de cuidado com a posteridade ou preservação da espécie? Difícil acreditar que pessoas aleatórias em minha volta teriam este impulso refletivo de me salvar. O impulso que temos por natureza é o de preservar nossos próprios filhos e netos. Instinto movido a amor, que leva ao tao, seria diferente. Então a preocupação com a posteridade não se justifica no instinto.

A verdade fica evidente no fim: o inovador não encontra base para um sistema de valor. Todos os princípios práticos na luta pela posteridade estão no tao, você pode até tomá-los como sentimentos, mas não pode comparar, fazer contraste, separar valores ‘racionais’ com sentimentos. Todo valor é sentimental.

O tao (valores tradicionais) é atacado, em defesa do que o inovador supõe ser racional ou biológico. Mas o valor básico que ele usa para atacar deriva do próprio tao (dos bons costumes). Dentro da razão prática, o tao, encontramos o dever para com filhos e descendentes, e dever para com os pais e ancestrais, entre esses deveres, o que dá o direito de aceitar um e rejeitar outro? A economia, sendo racional? Se fizer isso vai menosprezar os deveres de justiça e boa fé para com o sangue de nosso sangue.

Aonde está a autoridade do inovador para aceitar retalhos do tao? Sendo o tao a única fonte de juízos de valor, se um for rejeitado, todos os valores fora dele também são. A novas ideologias são fragmentos do próprio tao levados a loucura em seu isolamento. Se essa rebelião das novas ideologias forem bem sucedidas, acabarão descobrindo a destruição deles mesmos. A única autoridade para alterar o tao vem de dentro do próprio tao. É inútil buscar conselhos daqueles que pensam diferente.

Só o homem gentil reconhece a razão quando ela aparece. O que surgiu foi a postura cética de tentar encontrar valores reais, depois de depreciar os tradicionais, seja na rebelião sem razão, impulsividade, egoísmo, presunção, arrogância e vaidade, dominando a cada um por si só. Trata-se da rejeição de todo e qualquer conceito de valor.

A abolição do Homem

“A conquista da Natureza pelo Homem” — Em que sentindo o homem tem poder sobre a natureza? Se temos que pagar para ter “poder próprio” de individualidade, não somos fortes, alguns homens é que tem o poder de permitir ou não, que os outros tenham lucro. O que se revela na verdade, é o poder Homens sobre Homens, usando a natureza como instrumento.

Para entender melhor, retratando a raça do surgimento a extinção:

  • Cada geração tem poder sobre seus sucessores, a medida que ela altera o que foi legado a ela, ela se rebela contra a tradição, resiste e limita o poder que seus precursores tiveram sobre ela. Isso gera uma libertação da tradição e controle maior dos processos naturais, aumentando assim o poder humano.
  • Se por algum momento conseguissem fazer do seus descendentes o que bem entendessem, elas estariam conformadas nesta dominação. Por isso seriam mais fracas, pois estariam já pré-determinadas.
  • E se, a era liberta da tradição alcança-se mais poder sobre sua posteridade, eles estariam ainda mais engajados em reduzir o poder de seus precursores.

Quanto mais tarde vem uma geração final, mais próxima ela vive da extinção, seu poder de avanço seria diminuído, porque seus objetos de manipulação também estarão reduzidos. Então os últimos homens ao invés de serem herdeiros do poder, estarão sujeitos a mão abolista dos manipuladores, exercendo menos poder sobre o futuro.

Conquista da natureza pelo homem = Governo de centenas sobre bilhões. Cada poder conquistado pelo homem é também poder sobre o homem. A cada vitória ele ganha, mas também perde.

Chegamos então ao estágio final.
O último estágio chega quando o homem tiver o controle:

  • De si, por meio da genética;
  • Condicionamento pré-natal;
  • Educação;
  • Propaganda c/ psicologia perfeitamente aplicada.

Assim a natureza se rende ao homem. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
A partir desse estágio final o poder sobre os homens será novo em dois aspectos:

  • 1º — Os inovadores moldadores de homens da nova era terão os poderes do Estado e a tecnologia científica, uma raça de manipuladores capazes de moldar como quiserem toda a posteridade.
  • 2º — Antes os ensinamentos que os professores passavam adiante foram a partir do tao. Agora serão incutidos nos alunos novos juízos de valores, como parte de seu condicionamento.

Eles sabem como produzir consciência e decidir que tipo eles irão produzir. Assim escolherão que tipo de tao irão produzir na raça humana, por suas “próprias boas razões”.

Mas, pelo quê eles seriam motivados?
Por algum tempo ainda devem ter o tao natural, podendo decidir se vão ou não condicionar assim o resto de nós. O sentido de dever não pode ser um motivador, pois ele foi julgado, e o mesmo acontece com o atributo bom (como se ele revelasse um estado emocional, menosprezando a real qualidade, lembra?). A preservação da espécie remete ao sentimento de posteridade, cabe a eles se levarão a diante ou não. Não há firmamento, pois fora do tao é abandonada a natureza humana, ela é abolida, dai o nome do livro.. A abolição do homem.

Respondendo a pergunta, a motivação: como quero, assim ordeno. O “isto é bom” é depreciado. O “isto eu quero” permanece. Motivados pelo seu próprio prazer.

Aquele que não tem juízo de valor, não tem motivo para escolher qual impulso seguir ou preferir, a não ser a sua intensidade (força emocional). Fora do tao é difícil que tenham impulsos benevolentes, se não julgarem que a benevolência é boa, como terão base para promovê-los? Qual exemplo de homem, que está fora da moralidade tradicional, e tem poder, usou o poder de forma benéfica?

Serão movidos pelo acaso = natureza. A obediência ao impulso/natureza, é o único caminho que restará, estando fora do tao.

Finalizando

A natureza, sem valores, governa os manipuladores e, por meio deles, a humanidade.

A conquista da natureza pelo homem vira: A conquista do homem pela natureza! Na consumação da presepada do homem, o jogo vira.
Sendo assim, para facilitar a compreensão, o natural se opõe a:

  • Artificial;
  • Civil;
  • Humano;
  • Espiritual;
  • Sobrenatural;
  • Mundo da quantidade ao invés da qualidade, consciência.

Aquilo que é constantemente desprovido de suas propriedades qualitativas, reduzido a mera quantidade, assim tratado, tem como resultado algo abstrato/artificial. Algo da sua realidade foi perdido.

Toda conquista sobre a natureza faz com que ela expanda seu domínio. Reduzimos a nossa espécie a nível de mera natureza. A humanidade vira marionete, está em alcance do homem o poder de se tratar como “mero objeto natural”, e seus valores para manipulação científica e alteração a sua vontade.

A dor e o choque são na maioria das vezes, um sintoma e um aviso, até que fique acostumada pelo sistema.

Como se rebelar e ao mesmo tempo reter a humanidade?
De duas, uma:
1 — Obrigados a obedecer os valores do tao.
2 — Mera natureza motivada por seus próprios impulsos.

A crença no tao (valores tradicionais/objetivos) é necessária para que a ideia de regra que não seja tirania, e/ou obediência que não seja escravidão.

Vou fazer uma pausa aqui antes de continuar, para o que Lewis cita rapidamente a seguir. Eu não sei quem vai ler este resumão aqui, se você chegou até aqui, saiba que já está quase acabando, e sou muito grata por você estar lendo, me alegra saber que esse tempo que tirei para escrever valeu de algo :D. Justamente por eu não saber quem está lendo, eu não sei que tipo de reação o que vem a seguir irá causar, por isso seguem estas duas observações pessoais (que claro… não está neste livro do Lewis):

  • Se você é cristão, peço que não fique extasiado, ou até mesmo alegre, toda essa situação não é nem de longe feliz, e nós cristãos sabemos disso. Peço que se lembrem de Efésios 6:12, mas caso não lembrem, vou deixar aqui: Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Nossos inimigos não são pessoas, é em paz que se semeia o fruto da justiça certo (para os que promovem a paz)? Sejam cheios da mansidão de sabedoria, isso nos tem faltado muito. Citando Lewis em outro livro dele: você nunca conversou com um mero mortal, todos os dias você está ajudando as pessoas a chegarem a um de dois destinos, um corpo glorificado ou o horror, não se esqueça dessa responsabilidade.
  • Se você se ofender ou algo similar, com o que vem a seguir, peço que se lembre que Lewis não escreveu isso agora, na ‘moda dos acontecimentos atuais’, o livro é de 1943.
  • Outra questão, ele realmente cita rapidamente isso no livro, não foi algo que já não tinha ouvido falar antes, mas achei interessante no meu resumo pessoal, incluir uma explicação rápida (dentro de uma pesquisa bem rápida também), sobre o que seria cada palavra que ele citou. Acho muito importante nós procurarmos saber o que significa cada coisa por nós mesmos, não se guie por aquilo que todos pensam, ou pelo que a pessoa que você admira pensa, não quero dizer que eles estejam errados, ou certos, quero dizer que não somos perfeitos, se você mesmo procurar saber a veracidade daquilo que está sendo falado, pode acabar descobrindo algo que a outra pessoa não sabia, e acabar tendo um pensamento diferente. Vou citar Lewis em outro livro novamente: “Ser ignorante e simples agora — não sendo capaz de enfrentar os inimigos em seu próprio campo — seria derrubar nossas armas e trair nossos irmãos não educados, que não têm, sob Deus, nenhuma defesa contra os ataques intelectuais dos pagãos a não ser nós”. Não estamos em tempos de nos deixarmos sermos levados pelas vozes do mundo (principalmente dado ao momento que vivemos), sejamos sábios e procuremos a luz da Palavra, a verdade. Em tudo que for falar, tenha em mente a responsabilidade de saber o que está falando, realmente procurar as informações, e atentar a forma que está se comunicando também, para que seja branda (pacífica e sábia).

Então, vamos lá! A abolição do homem se dá principalmente por: (não se esqueça de que ele não explica cada tópico no livro, eu fiz por minha conta essa pesquisa rápida, para que eu mesma soubesse de forma mais clara, do que se trata, e não ser guiada somente por rumores)

  • Comunistas: Governo totalitário, nega a propriedade privada dos meios de produção. Marx exclui todo o transcendente, tratando como instrumento de engano e opressão (nunca deixe uma palavra passar desapercebida, se não sabe o que é transcendente, procure o significado, por favor.. sim, eu procurei o significado de muuuitas palavras neste livro). É o ‘inovador’ que aliena os homens, retirando deles a sua realidade.
  • Democratas: Propostas progressistas, de liberalismo em ideologias.
  • Fascistas: Regime extremista totalitário, também atuava contra as liberdades individuais. Estabelecido pelo Mussolini (ex membro do partido socialista). Se baseia no socialismo, controle total, usa a estabilidade para justificar a ampliação de poder, regulamentações cada vez mais rígidas, marcha rumo ao socialismo à medida que as intervenções econômicas vão se revelando desastrosas e, no final, termina em ditadura.

Caso não tenham feito isso ainda, e achem interessante, procurem por vocês mesmos sobre estes tópicos, se você for cristão aconselho ainda mais. Todos estes métodos diferem quanto ao uso da força, mas tem o mesmo fim como objetivo: depreciar os valores tradicionais e moldar a humanidade em algum formato novo como for a vontade.

No tao, a verdadeira vontade comum e a razão comum da humanidade se mesclam de acordo com a variedade de situações encontrando novas aplicações, sempre dignas. O homem tem poder sobre si referente ao autocontrole, mas fora do tao, o subjugando, a conquista do homem pelo homem significará o governo dos manipuladores sobre o ‘material condicionado’ humano.

Ao defender valores, defendemos conhecimento, que vai morrer como os valores se as suas raízes forem cortadas. Nem todo progresso é dar um passo a frente, neste caso ele é único, ir até o final significa desfazer todo o trabalho já feito. Reduzir o tao é isso, menosprezar, reduzir, enxergar o que está por trás das coisas para sempre. Ser um reducionista custa a própria humanidade, humanidade no sentido que carrega o tao com ela. Como você vai enxergar o mundo, se sempre estiver na corrida de procurar ver por trás de tudo?

Considerações pessoais:

Viver a vida friamente, deste modo que vem sendo ensinado há muitas gerações, cortando pouco a pouco o tao de nossas raízes, tem nos levado a caminhos extremos, então voltemos a Palavra:

E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
Mateus 24:12

É tudo o que vivemos hoje, tudo caminha para esta profecia e muitas outras. Não ponham suas esperanças aqui na Terra, nem em coisas ou pessoas, não há salvador aqui. Nós já temos um Salvador e não haverá paraíso aqui na Terra, por isso não esperemos um paraíso aqui. Se achares qualquer ideologia que te ofereça isso, abra os olhos, não vai melhorar aqui e não deve. Aonde é a nossa pátria? Aonde está nossa esperança?

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.
Filipenses 3:20

Só em Deus encontro paz; dEle vem a minha esperança.
Salmos 62:6

Se a minha esperança não é aqui, que responsabilidade ter aqui?

Isso não nos livra da tarefa de combater o bom combate, muito pelo contrário, nós sabemos que há uma guerra acontecendo, por isso aquilo que pensamos e dizemos importa tanto, e buscar conhecimento tem sido essencial nesses dias.

“Volta e meia” procuro estar ciente do que está acontecendo no meio, e ler as notícias tem sido cada vez mais chocante e triste, parece surreal. Por isso, salvei algumas manchetes como exemplo em uma foto para maior compreensão (anexo abaixo). Talvez um incentivo visual ajude a perceber que não é exagero (quem dera fosse). Ocultei algumas fontes propositalmente, mas não vai ser difícil você achar, nem se deparar com essa linha de pensamento por aí (muito provavelmente você já se deparou).

Existem virtudes tão lindas e puras que hoje estão sendo apagadas do nosso cotidiano de uma forma tão sutil, que antes de nos darmos conta nós as abolimos do nosso ser e memória e não percebemos até que algo nos desperte.
Diante dos exemplos das fotos, coloquei alguns versículos que fazem contraste com alguns exemplos:

Eu pertenço ao meu amado, e ele me deseja. Cânticos 7:10

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios 13:4–7

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação;
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. 2 Coríntios 1:3,4
Aqui está o coração do lar, nos relacionamentos nutridos ali e no conforto oferecido um ao outro — Conforto que primeiro recebemos de Deus, o Pai da compaixão, e então compartilhamos um com o outro.

“Honra teu pai e tua mãe, como te ordenou o Senhor, o teu Deus, para que tenhas longa vida e tudo te vá bem na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá. Deuteronômio 5:16
Único mandamento a vir com uma promessa de benção.

Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a si próprios. Romanos 12:10
Servir ao outro mais do que a si: Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve. Lucas 22:27

Guardem sempre no coração as leis que eu lhes estou dando hoje e não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem. Deuteronômio: 6.6–7

Pois ela (polícia) serve a Deus para o teu bem. Mas, se fizerdes o mal, teme, pois não é sem razão que traz a espada. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Romanos 13:4

Estas lembranças acima estão sendo atropeladas hoje pelas ideologias que tem sido ensinadas, empurradas, de forma muitas vezes agressiva e estratégica, através da educação e propaganda. Visto pelo exemplo da foto postada, cada um desses conceitos atacam a moral do tao. Há progressos que são um passo para trás..

Na concepção de valor objetivo comum, entre todas as culturas estão:
- A benevolência geral (não a crueldade, calúnia, não fazer aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você, não guardar ódio)
- Ter prazer na comunhão, se importar com a causa geral, aquilo que aflige o outro, amar ao próximo como a si mesmo, ser bondoso.
- Benevolência especial e deveres com família (dedicar seus esforços as raízes e honra da família)
- Justiça para com todos, preferir a perda ao lucro indébito, contra o adultério, a justiça é a intenção determinada e permanente de dar a cada pessoa o que lhe é devido. Justiça no tribunal, etc.
- Não falar falsidades, ter boa fé.
- Interceder pelos fracos, alimentar aos famintos, violência contra mulheres, não abandonar os doentes, órfãos e viúvas. Gentileza
- Honra, coragem, morte preferível ao invés de uma vida vergonhosa, pronto a morrer pela causa justa, auto controle.

Boa parte já está sendo perdida em todo o mundo, entre cristãos ou não, muitas dessas moralidades incutidas em nós já foram ‘racionalizadas’, e nessa busca por matar o amor em cada ação e ser, abolimos o homem. Ser um reducionista da vida custa a própria humanidade. (Quando eu digo moralidades incutidas em nós, te indico a ler o “Cristianismo Puro e Simples” do Lewis)

E o cristão, finalmente.. qual o dever?

Há um tempo li em um livro que a crise cultural que hoje vivemos é evidência de uma crise espiritual (porque a nossa luta não é contra a carne.. se você é cristão você já sabe). A Bíblia nos ensina que a nossa resposta para tudo isso também é espiritual:

Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne.
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas;
Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo. 2 Coríntios 10:3–5

Reparem no uso da palavra conselhos (em outra versão você encontra a palavra sofisma) e altivez (qualidade do que é orgulhoso), seguindo vem que se levanta contra o conhecimento de Deus. Aquilo que você pensa e o que você diz conta muito na batalha que hoje todos estamos inseridos, quer você queira ou não. Essas batalhas vão ser ganhas ou perdidas na sua mente, elas já acontecem.

Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça;
E calçados os pés na preparação do evangelho da paz;
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.
Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; Efésios 6:14–17

Com o escudo da fé aqui citado, com o qual apagaremos os dardos inflamados do maligno vem a representação das confissões de nossa boca e os pensamentos de nosso coração contra os dardos.

Porque a sua esperança não está aqui na Terra não é desculpa para se ver livre da responsabilidade que temos diante da guerra que estamos inseridos, pelo contrário, temos ainda mais responsabilidades, pois seremos cobrados. Devemos ser sal da Terra e luz do mundo, a luz aponta a direção, esclarece, aquece, produz vida (pegando um gancho com o Pr. Hernandes Dias Lopes). Buscar a sabedoria é um exercício, é um dever, uma responsabilidade grande nos foi dada ao sermos a luz do mundo, a palavra é: BUSQUE! Aquele que procura, acha.

Tenham cuidado para que ninguém os torne escravos por meio de argumentos sem valor, que vêm da sabedoria humana. Essas coisas vêm dos ensinamentos de criaturas humanas e dos espíritos que dominam o Universo e não de Cristo. Colossenses 2:8

O coração do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria. Provérbios 18:15

Assisto a todo esse reducionismo do ‘tao’ que vemos acontecer hoje como uma armadilha, uma cova que muitos estão cavando sem se dar conta que sua próxima geração (se não eles mesmos), vão cair. Falo isso pensando nos cristãos principalmente, eu acompanho essa situação faz muito tempo (procurando notícias sobre ativamente) e me entristeço ao perceber que não são todos que estão atentos a tudo isso que está sendo colocado em questão, muito menos das consequências disso. Não vigiar, se omitir, “em segredo se rebelar com as tradições morais”.. nós fomos salvos, mas não liberados da guerra. Essa guerra vai ser ganha ou perdida dentro de você.

Faço aqui a minha conclusão, edifique sua casa sobre a Rocha, pois ventos soprarão, e precisamos dessa preparação. Não nos esqueçamos da Palavra, pois nela encontramos àqueles valores objetivos em comum, que tem sido abandonados hoje.
Lembre-se que defender valores, é defender conhecimento, que irá morrer como os valores, se as suas raízes forem cortadas.
Vigiem, orem e sejam agradecidos. E na defesa da Verdade, no falar, ser o sal da Terra…

O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um. Colossenses 4:6

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