Aceito e não aceito: algoritmo e o discurso alheio!

@cabitencourt
Lindíssima disse tudo
3 min readJun 5, 2018

Outro dia eu e uns amigos almoçávamos no refeitório da empresa. Bate-papo amigável. Nada daqueles classificados por área, sabe? Com os amigos do trabalho o assunto é x, com a galera faculdade y… A sociabilidade rolava e os smartphones também estavam presentes. Pro meu espanto — e vou relatar em seguida a explicação de meu estranhamento — reparei logo em algo verde no celular da amiga sentada ao lado. No aparelho, havia onde se encontra a câmera, um post-it verde! UM POST-IT, VIADO! E ai, PÁH! Precisou nem muito pra perceber e vir à tona toda discussão e conteúdo já estudado no ambiente da comunicação.

Ao comentar com minha amiga, a mesma fez piada sobre o tema e comentou “Tomar no cu! Vai me ver trocando de roupa não”. O post-it, posto propositalmente, tapava a câmera frontal e traseira do smartphone, para impossibilitar (ou tentar) que ao menos de maneira mínima parte da sua vida não seja registrada. Esse fato me chocou! E não por ingenuidade e desconhecimento. Mas, por perceber que algo tão ‘profundo’ tem atingido jovens brasileiros nesse nível.

Tal curiosidade me levou a voltar nos questionamentos que há muito já haviam sido debatidos. Sites. Redes sociais. Aplicativos. Cartões fidelidades. Dados. Estamos a t-o-d-o momento — até mesmo em nosso estado nada, vulgo fotossíntese — gerando dados. Não tem jeito! Eu gero dados, minha amiga gera, e pessoas mais próximas de nós geram dados de si E NOSSO TAMBÉM. “Tia Shirlei marcou você em uma foto 📷”.

Uma vez na mídia, todo e qualquer dado produzido pelo indivíduo torna-se vendável. A inquietude que temos enfrentado é: “Podem expor o que faço para a mídia, mas meus habitus são pessoais e competem a mim e a quem eu permito que faça parte”. Esse pensamento nos leva ao esforço de pensar sobre um termo que há muito vem sendo debatido ultimamente, liberdade de expressão. Qual limite do meu direito de tornar pública ou não uma informação? Em que momento deixo de ser detentora desse poder? Ou ele nunca foi meu?

Confused.

No contexto das redes sociais, em que as informações circulam com mais velocidade e abrangência, temos inúmeros tipos dados, de todos os formatos e jeitos sendo gerados. O ano de 2018, por exemplo, veio com força! As discussões sobre o que pode ou não ser publicizado de si estão fervilhando — muitas levantadas também dada a atual situação política que nos encontramos.

O conceito de liberdade de expressão, pensado junto ao fenômeno de expor informações de si mesmo e dos outros, entra em cheque! A definição trás consigo o “direito de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos”. E o que têm incomodado a muito, é justamente o fato desse conceito ser tão abrangente, e não limitar o espaço do outro. Ou seja, a minha amiga lá de cima, preocupa-se com suas informações sendo processadas por terceiros, dando total liberdade de expressão a ele sobre esse conteúdo, que é sobre ela!

Esse tema requer constantemente novas discussões acerca do que é ou correto, e questões de privacidade também.

Escrevo de meu smartphone. Cujo câmera e microfone talvez também estejam cobertos por um post-it. Talvez.

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